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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Cada fisioterapeuta trabalha de um modo próprio, a que me atende desde que cheguei a Curitiba geralmente – não sempre – me pede exercícios que posso fazer com pouca intervenção dela, às vezes procura algo para preencher o tempo e, hoje, resolveu brincar com um aplicativo que gerou quatro vídeos, os quais juntei num só. Ela mesma percebeu que eu poderia pensar “que falta do que fazer!”
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No último domingo, as filhas de Silvia foram para a casa do pai e Clara começou a guardar mais os brinquedos. Junto com experiências anteriores com resultados semelhantes, isso me fez perceber que, quando minha presença se destaca, Clara torna-se mais organizada.
À tarde, enquanto Silvia tentava descansar um pouco no quarto, Clara quis brincar de “casinha” – feita de mesinha, cadeirinha, uma toalha e almofadas – comigo, fazendo de conta que era a “sereia aquática”, personagem do youtuber Luccas Neto, vestindo uma fantasia apropriada e me chamando de “pai sereio”.
Na terça, Silvia a chamou para ir à piscina do nosso condomínio, Clara perguntou algo como “você vai levar meu pai, para ele não ficar triste?” e insistiu por algum tempo. Essa atitude nos surpreendeu, Silvia falou que, pelo jeito, Clara vai querer me levar a todos os lugares, brinquei que até para saltar de paraquedas, me alegrei, mas depois fiquei incomodado com sua preocupação comigo, pois não quero que sinta-se com a “missão” de cuidar de mim.
Fui à piscina no dia seguinte, quando eu estava entrando nesta Clara disse a um vizinho “ele é meu pai Ronaldo”, parecendo já ter consciência da minha mudez, mas também considerando a paralisia cerebral como natural, neutra, e talvez com um tom de orgulho.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Há poucos dias, Silvia e eu vimos esta descrição da ideia de Super Homem de Friedrich Nietzche – não conheço esse filosofo, apenas vejo falarem dele – num vídeo que ela colocou e tanto eu quanto eu percebemos, simultaneamente, que me encaixo no conceito. Foi a primeira vez que pensar ou ouvir que sou um Super Homem não me desagradou.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No penúltimo sábado à noite, Silvia quis ir à Casa do Papai Noel, uma exposição natalina em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Logo que entramos lá, comecei a temer que minha cadeira de rodas virasse com Clara no meu colo, porque o terreno era cheio de aclives e declives e as junções das lajes tinham muitos desníveis, fazendo as rodas dianteiras se engancharem nestas com frequência – só conseguimos andar pelo parque porque incontáveis pessoas nos ajudaram, como é típico dos curitibanos, embora o atendimento que recebemos dos funcionários da entrada tenha sido péssimo. Fiquei o tempo todo preocupado em segurar firme uma mão na outra em torno de Clara, até nos trechos planos do caminho, nos quais era desnecessário. À medida em que o tempo passava e nada de errado acontecia, me perguntava porque continuava tenso, perturbado – era intuição de pai! Quando já estávamos indo à saída do parque, Silvia se lembrou que faltava pegar a foto que tiramos com o Papai Noel, ao subirmos um aclive mais acentuado ela quis mudar de direção e perdeu o controle da cadeira, que virou de lado – mas a força que ela fez atenuou a queda, a roda lateral e minha espasticidade (rigidez muscular) me impediram de sofrer um impacto no chão e meu rígido braço direito protegeu Clara, de modo que esta só levou um susto e eu, um arranhão superficial na mão. O nervosismo resultante me deu uma forte dor de cabeça.
Silvia gosta de filmes de terror e eu, não. Após chegarmos em casa e Clara ir dormir, concordei em assistirmos um baseado num livro de Stephen King, um escritor que ela também gosta, que era tão escabroso que eu virava a cabeça para não ver algumas cenas e levou ela própria a se sentir mal. Não pude deixar de exclamar “que noite horrorosa!”.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No próximo sábado, Clara fará uma apresentação de dança pelo colégio, ontem quis ensaiar comigo e o resultado ficou hilário – a música é “Não se Reprima” do Menudo. Ela me associa mesmo à alegria e qualquer atividade lúdica, divertida a faz pensar em mim.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Minha fisioterapeuta é eclética e, ontem, quis que eu fizesse pilates ou pelo menos um arremedo disso.
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Silvia resgatou este vídeo de outubro de 2017. Apesar de (ou porque) sempre termos curtido intensamente cada momento com Clara, sentimos muita saudade e vontade de ter outros filhos. E me entristeci ao ver que, naquela época, conseguia pegar e tocar Clara, antes da minha descoordenação motora leva-la a evitar isso.
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Nesta semana, me entristeci algumas vezes pelo distanciamento afetivo de Clara. Ontem à noite, Silvia foi jantar com as colegas de trabalho – só as mulheres – e fiquei cuidando de Clara com a ajuda da nossa diarista. Pouco após as 21h, para Clara dormir propus a ela assistir Malévola no sofá, o que inicialmente não deu certo e deixei a TV num canal aberto para a diarista ver. Minutos depois, esta a convenceu, ao se deitar no sofá Clara me pediu para botar o filme, passou a acariciar minha cabeça, falou em voz baixa “papai, eu adoro você” – foi a primeira vez que ela disse isso espontaneamente – e logo dormiu
Enquanto Clara me acariciava, tentei fazer o mesmo na sua perna, mas ela rejeitou e, com um pouco de tristeza, fiquei pensando se algum dia vai superar o medo do meu toque.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Crianças de até 2 ou 3 anos sempre simpatizaram comigo, sorriam para mim, não sei porquê. Neste ano, duas amigas das filhas de Silvia que moram no nosso condomínio, que têm 7 anos, passaram a me abraçar, do nada – nesse caso, intuo que tenha algo a ver com eu ser pai, mas não sei como.