- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Durante o jantar de domingo, Clara pôs muitos livros em pé num tapete, como se fosse um cercadinho, e quis brincar comigo. Perguntou “pai, você é o monstro?”, respondi “não” com um gesto de cabeça, a apontei para comunicar “você é que é o monstro” e Silvia comentou rindo “você (eu) é mesmo terrível”. Inicialmente, Clara reagiu dizendo “mas sou a sereia”, porém em seguida falou algo como “está bem, sou o monstro” e começou a derrubar os livros. Parece que Clara herdou minha tendência de achar os vilões mais interessantes, apesar de ser amorosa. Achei hilário.
Preciso mudar este o servidor deste blog e contratar um webdesigner para reconstruí-lo todo, um custo alto para o tamanho da minha renda, além de implicar apagar e republicar todos os posts nas redes sociais. Ontem, mesmo sem qualquer manifestação explícita da minha parte, no jantar Clara me perguntou “pai, você está triste? É por que ficou com saudades de mim, porque passei o dia todo na escola?” e respondi “sim” com a cabeça a ambas perguntas. Ela interpreta perfeitamente minhas expressões faciais.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Na noite de domingo, Clara quis brincar comigo, ficou num deita-levanta do meu colo e botando meu braço direito – o mais descoordenado, me dando medo de machucá-la – em cima dela. Deitou-se nos meus braços e, de joelhos, passei a levanta-la e abaixa-la com ela rindo muito, o que fez Silvia temer que eu a derrubasse. Por fim, Clara sentou no meu colo e me fez aconchega-la toda com meus braços e cabeça – não me lembro de ela já ter querido tanto contato corporal comigo. Desde então, ela tem me beijado espontaneamente – antes eu tinha de pedir beijos e frequentemente não era atendido – e acariciado bastante, além de estar brincando comigo todos os dias.
Desde que Clara se afastou de mim, tínhamos a expectativa – na qual Silvia insistia quando eu ficava triste – de que se reaproximasse em algum momento, mas tal esperança foi enfraquecendo com a passagem do tempo. Particularmente, em janeiro a vi abraçando duas vizinhas enquanto rejeitava totalmente ser acariciada por mim, o que me causou uma profunda tristeza. A mudança foi repentina, acho que o motivo é ela ter entrado no complexo de Electra e não sei se vai durar – neste blog, já escrevi três vezes que ela tinha se reaproximado de mim e, no fim, foi só momentaneamente. Seja como for, estou alegre, feliz.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Na sexta à noite, Clara achou uma corda com um laço, veio me chamar para brincar de cavalinho e pôs a corda em mim como se fosse rédeas. Montada em mim, ela falava que era “cavaleira”, “segura peão” e outras coisas que me fizeram rir muito. Estava me cansando – carregar 15kg nas costas não é mole –, tinha tomado uma lata de cerveja, fiquei relaxado e quis parar a brincadeira com medo de derrubá-la por supostamente estar com menos reflexos– só depois lembrei que um pouco de álcool melhora os meus, ao reduzir a espasticidade –, mas ela insistiu em continuar. Após alguns minutos, a corda começou a apertar meu pescoço, nossa diarista fez Clara compreender o perigo e desmontar. Nos dois dias seguintes, Clara brincou bastante comigo, nesta manhã me permitiu acaricia-la e até pediu mais carinho, o que me deixou bem feliz.
O que imagino haver acontecido foi que, pelo tempo na escola e a agitação das irmãs, ao longo da semana passada Clara quase não teve contato comigo, sentiu minha falta e quis curtir o pai. Só o tempo dirá se a barreira para acaricia-la foi mesmo quebrada.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No início do mês, Silvia foi jantar com uma amiga e Clara de novo dormiu no sofá acariciando minha cabeça, falando que estava fazendo “um carinho gostosinho”. No resto de janeiro, ela adormeceu duas vezes da mesma forma apesar de Silvia também estar no sofá, mostrando que Clara realmente gosta de fazer isso desde que haja sossego em casa, o que é impedido pela presença das suas irmãs – o problema não é só a agitação destas, mas também que geralmente não há espaço para me aproximar do sofá.
Clara também adora andar no meu colo na cadeira de rodas, no que insiste – tanto por gostar quanto por preguiça – até quando preferimos que ande com as próprias pernas.
O medo acentua a descoordenação motora de pessoas com paralisia cerebral. No tempo em que Clara era bebê, o temor de machucá-la, a consciência da descoordenação e desse fator agravante frequentemente me inibiam de acaricia-la. Agora esse medo acabou, mas, sempre que tento, ela rejeita meu toque porque, embora só tenha a machucado em pouquíssimas ocasiões e nunca com gravidade, os movimentos bruscos que eu fazia a assustavam e a marcaram.
Em resumo, Clara até me faz algumas carícias, mas não me deixa tocá-la – exceto na cadeira de rodas – e não sei como mudar esta situação.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Cada fisioterapeuta trabalha de um modo próprio, a que me atende desde que cheguei a Curitiba geralmente – não sempre – me pede exercícios que posso fazer com pouca intervenção dela, às vezes procura algo para preencher o tempo e, hoje, resolveu brincar com um aplicativo que gerou quatro vídeos, os quais juntei num só. Ela mesma percebeu que eu poderia pensar “que falta do que fazer!”
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No último domingo, as filhas de Silvia foram para a casa do pai e Clara começou a guardar mais os brinquedos. Junto com experiências anteriores com resultados semelhantes, isso me fez perceber que, quando minha presença se destaca, Clara torna-se mais organizada.
À tarde, enquanto Silvia tentava descansar um pouco no quarto, Clara quis brincar de “casinha” – feita de mesinha, cadeirinha, uma toalha e almofadas – comigo, fazendo de conta que era a “sereia aquática”, personagem do youtuber Luccas Neto, vestindo uma fantasia apropriada e me chamando de “pai sereio”.
Na terça, Silvia a chamou para ir à piscina do nosso condomínio, Clara perguntou algo como “você vai levar meu pai, para ele não ficar triste?” e insistiu por algum tempo. Essa atitude nos surpreendeu, Silvia falou que, pelo jeito, Clara vai querer me levar a todos os lugares, brinquei que até para saltar de paraquedas, me alegrei, mas depois fiquei incomodado com sua preocupação comigo, pois não quero que sinta-se com a “missão” de cuidar de mim.
Fui à piscina no dia seguinte, quando eu estava entrando nesta Clara disse a um vizinho “ele é meu pai Ronaldo”, parecendo já ter consciência da minha mudez, mas também considerando a paralisia cerebral como natural, neutra, e talvez com um tom de orgulho.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Há poucos dias, Silvia e eu vimos esta descrição da ideia de Super Homem de Friedrich Nietzche – não conheço esse filosofo, apenas vejo falarem dele – num vídeo que ela colocou e tanto eu quanto eu percebemos, simultaneamente, que me encaixo no conceito. Foi a primeira vez que pensar ou ouvir que sou um Super Homem não me desagradou.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No penúltimo sábado à noite, Silvia quis ir à Casa do Papai Noel, uma exposição natalina em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Logo que entramos lá, comecei a temer que minha cadeira de rodas virasse com Clara no meu colo, porque o terreno era cheio de aclives e declives e as junções das lajes tinham muitos desníveis, fazendo as rodas dianteiras se engancharem nestas com frequência – só conseguimos andar pelo parque porque incontáveis pessoas nos ajudaram, como é típico dos curitibanos, embora o atendimento que recebemos dos funcionários da entrada tenha sido péssimo. Fiquei o tempo todo preocupado em segurar firme uma mão na outra em torno de Clara, até nos trechos planos do caminho, nos quais era desnecessário. À medida em que o tempo passava e nada de errado acontecia, me perguntava porque continuava tenso, perturbado – era intuição de pai! Quando já estávamos indo à saída do parque, Silvia se lembrou que faltava pegar a foto que tiramos com o Papai Noel, ao subirmos um aclive mais acentuado ela quis mudar de direção e perdeu o controle da cadeira, que virou de lado – mas a força que ela fez atenuou a queda, a roda lateral e minha espasticidade (rigidez muscular) me impediram de sofrer um impacto no chão e meu rígido braço direito protegeu Clara, de modo que esta só levou um susto e eu, um arranhão superficial na mão. O nervosismo resultante me deu uma forte dor de cabeça.
Silvia gosta de filmes de terror e eu, não. Após chegarmos em casa e Clara ir dormir, concordei em assistirmos um baseado num livro de Stephen King, um escritor que ela também gosta, que era tão escabroso que eu virava a cabeça para não ver algumas cenas e levou ela própria a se sentir mal. Não pude deixar de exclamar “que noite horrorosa!”.