- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Há poucos meses, Silvia perguntou se Clara gosta de ter um pai com deficiência e a resposta foi um “sim” categórico. Além de ser desconcertante, aquilo me deixou preocupado por esta ainda nada ter sentido de toda a carga de preconceito e discriminação que existe contra pessoas com deficiência – ou talvez esteja sendo pessimista demais, já que, nesse aspecto, a situação melhorou muito desde a minha infância.
Nossa empregada é evangélica, meio assustada por minha simpatia por personagens diabólicos, ao ver uma propaganda do último filme de Hellboy brincou que eu deveria fazer um assim e Clara respondeu que o papel poderia ser de “vampirinho cadeirante”! Não me considero especialmente alegre, e sim risonho e parece que isso infundiu alegria e bom humor nela.
Quando Clara nasceu, decidi que seria um pai carinhoso e afetuoso, como fizeram muitos homens da minha geração, ao menos na classe média urbana, em reação à dificuldade dos próprios pais de lidar com sentimentos e emoções. Não vi ou esqueci completamente do bilhete ao lado de Dia dos Pais até, na semana passada, Silvia chamar minha atenção para ele e, para mim, o que mais se destacou foi Clara dizer que sou amoroso. Esse episódio me lembrou de uma foto da sua formatura na educação infantil em que ela estava chorando porque ia se afastar das professoras com quem tinha passado um ou dois anos, a qual me levou a comentar num grupo familiar “Clara é amorosa”. De vez em quando digo a Silvia que Clara nos espelha, nos vemos nela.
*clarices: atitudes e coisas de Clara.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Geralmente fico constrangido em “engatinhar” na presença de quem não seja um familiar, amigo ou fisioterapeuta, às vezes a ponto de pedir para alguém me levantar e andar comigo. Neste sábado, fomos à praia com as meninas. Clara foi logo às piscininhas deixadas pela baixa da maré, após Silvia passar protetor solar em mim fui para lá – a uns 5m do nosso guarda-sol – sozinho pouco me importando com os olhares que atrairia, algum tempo depois Silvia me levantou e fomos ao mar. Após uns 30 minutos, as duas saíram deste, onde fiquei muito mais tempo até decidir voltar a brincar com Clara nas piscinas. Estava a uns 12m de Silvia, ela não me ouviria mesmo se gritasse – o que também seria embaraçoso –, não sabia quanto tempo ela demoraria para perceber se eu acenasse e queria poupá-la do esforço de caminhar comigo na areia, o que me fez resolver “engatinhar” até Clara e dessa vez não houve jeito de ignorar o grande estranhamento de dezenas de pessoas – muitas vezes, temos de deixar a vergonha de lado. Nos primeiros metros, um adolescente – que me pareceu não ser daqui – começou a me oferecer insistentemente ajuda, perguntou onde estava meu pessoal, apontei com a mão, falou que podia chamar alguém de sua família para auxilia-lo a andar comigo – isso tudo sem estranhamento, pena e preconceito, ao menos não que eu notasse em suas palavras, tom de voz. gestual, etc; obviamente, no fim ele me viu brincando com Clara e sua irmã mais nova. Desse dia, o que mais vou lembrar é desse momento de solidariedade.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Passei boa parte da infância morando na orla marítima de Olinda, onde ia muito à praia, adquiri uma habilidade – insuspeita para quem ver minha descoordenação motora – de lidar com o mar mesmo com ondas de certa altura e até as pegava com uma boia circular de isopor, a qual sempre assava a parte inferior dos meus braços até meus pais envolverem-na com panos – preservei em grande medida aquela habilidade, como andar de bicicleta para muita gente sem deficiência. Quando entro num mar calmo, sem ondas e cálido fico num estado que só pode ser descrito como êxtase e preciso fazer um esforço consciente para sair, para não me queimar do sol, mas mesmo um meio bravio e frio já me faz muito bem.
Numa noite de julho, ao chegar em casa Silvia me encontrou um tanto desesperado com os problemas que estamos enfrentando, perguntou o motivo e respondi “parece que tudo está dando errado”. A primeira providência que ela tomou para me reanimar foi, na manhã seguinte, irmos com Clara à praia que fica a 180m daqui, a qual não é exatamente paradisíaca, mas é uma praia; como seu carro estava na oficina, fomos a pé e o trajeto não é isento de obstáculos a uma cadeira de rodas, mas não exige um esforço excessivo do condutor; grande parte das praias de João Pessoa tem uma faixa de vegetação com trilhas e percebemos que a cadeira pode andar nas bordas destas, de modo que Silvia só teve de caminhar comigo 5 ou 10m até onde fincou nosso guarda-sol. Desde então, digo repetidamente que talvez a única coisa que pode mudar minha opinião negativa sobre morarmos em Cabedelo é ir à praia com mais frequência, aonde fomos de novo no último sábado e o que agora pretendemos fazer todo fim de semana.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Como Curitiba é duas vezes maior do que João Pessoa e a fluidez do trânsito em ambas é equivalente, muita gente imagina que agora temos mais facilidade em ir aonde queremos ou precisamos no dia-a-dia. O Diabo está nos detalhes: nossos bairros em ambas têm farmácias, supermercados – com preços mais altos aqui – e muitos pequenos estabelecimentos comerciais, mas lá morávamos perto de vários bons colégios aos quais as meninas às vezes iam a pé – Cabedelo não tem nenhum –, e de clínicas e hospitais, inclusive o do meu plano de saúde, enquanto que aqui a maioria destes é mais longe. Tal diferença deve-se a que passamos a morar ao norte, fora de João Pessoa, e em Curitiba ficávamos bem dentro da principal cidade. Cansei de avisar sobre a importância do percurso a esses locais, intuitivamente não gostei do primeiro vídeo feito por Silvia do nosso atual bairro porque seu isolamento era visível, usamos o Google Maps para fazer estimativas de tempo, mas eram abstrações, bem diferente de viver a realidade concreta. Este problema tem pesado sobre nossa qualidade de vida em Cabedelo
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No penúltimo domingo, passeamos na orla marítima de Cabo Branco, o bairro mais nobre de João Pessoa, e vimos que há vagas de estacionamento para pessoa com deficiência a cada 500m. O contraste é grande com a falta quase total nas outras partes da cidade que já conhecemos.
Parece que desenvolvemos imunidade contra os micróbios locais, pois não tivemos mais infecções estomacais ou intestinais. Clara e sua irmã mais velha não tiveram mais doenças respiratórias e de garganta, talvez porque, com a chegada do inverno, o uso do ar condicionado diminuiu. E não tive mais esses problemas desde que cheguei aqui, exceto uma rinite ocasional. Este era um dos objetivos de Silvia para vir a João Pessoa.
Discordando de mim, Silvia resolveu não ter mais empregada, o que desde fevereiro eu dizia que não tinha dado certo, já que ficava exausta quase todos os dias e até adoecia. Ela tentou resolver o problema fazendo as meninas ajudarem em casa, mas isso também era trabalhoso, conflituoso e a exauria. Durante meses, contra sua vontade tentei sem sucesso arranjar uma empregada com os poucos contatos que tenho aqui, até que um porteiro do nosso prédio o fez, o que tem nos trazido mais tranquilidade. Acabei essa história com a sensação de ser um estorvo para Silvia, por não poder dividir o trabalho doméstico com ela, de modo a prescindirmos de uma empregada e do custo correspondente.
O progressivo conhecimento da região metropolitana e de seu mercado vem me permitindo reassumir algumas tarefas.
Nosso Dia dos Namorados foi de filme de terror, tangenciando a tragédia. A remuneração de Silvia correu um sério perigo. A situação dos meus sogros continua piorando e Silvia, tendo impulsos de voltar para Curitiba, o que me dá raiva, tristeza e um pouco de depressão.
Temos progredido, mas as coisas ainda estão difíceis e arriscadas.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Na primeira reunião festiva que tivemos com os moradores do nosso condomínio, inicialmente só me ofereciam refrigerantes, os quais, aliás, costumo evitar devido a problemas gástricos. Para desmanchar ideias pré-estabelecidas sobre quem tem paralisia cerebral, pedi cerveja e Silvia emendou que gosto muito de quase todo tipo de bebida alcoólica, especialmente cachaça – não sei se foi uma boa ideia. Algumas reuniões depois, assim que me viam perguntavam logo se queria cachaça, o que na festa de carnaval do condomínio ensejou o seguinte diálogo (as palavras não foram exatamente estas):
– Já peguei a imagem de cachaceiro aqui também – eu disse meio constrangido.
– Pois é – Silvia respondeu.
– Mas também acho que já ganhei a simpatia de muita gente. Acho que sou fascinante para algumas pessoas.
– Por que você acha que me casei com você?
Não gosto de chamar atenção, prefiro passar despercebido. Assim, no penúltimo domingo fomos a uma festa junina num restaurante com um estilo do sertão nordestino, ao qual Silvia queria ir há meses, e fiquei surpreso com quantidade de pessoas que foram falar conosco, fazer alguma pergunta ou interagir de outro modo (como o dançarino que conduziu minha cadeira no meio da quadrilha, mostrado no segundo vídeo), além de me divertir com o espanto ao saberem que é minha esposa; tais abordagens também aconteciam em Curitiba e Recife, mas eram mais esporádicas, embora neste apresentaram um pico quando tive outra namorada bonita. Deve ser mesmo fascinante ver um homem com paralisia cerebral severa se divertindo num lugar público, alegre, dançando e acompanhado de uma linda mulher!
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Entre 20 a 30% das ruas da região metropolitana de João Pessoa tem rampa de acesso, muito mais do que Recife e Fortaleza, as outras capitais nordestinas que conheço, embora bem menos do que os 60% de Curitiba. Mas são bem irregulares: algumas ruas têm rampa de um lado e não de outro, e algumas rampas chegam ao nível da rua, como é o correto, e outras param antes, formando um batente que obriga o condutor de uma cadeira de rodas ao esforço de suspender as dianteiras – uma vez vi uma mãe levantar o carrinho do seu bebê ao não conseguir ultrapassar um batente (para lembrar que não é só cadeirantes que precisam de rampas). E há uma rampa para um mangue, em torno do qual não tem calcada! Por outro lado, a maioria dos estabelecimentos comerciais reserva vagas de estacionamento para pessoas com deficiência, mas, ao contrário de Curitiba, são muito raras nas ruas propriamente ditas – até agora vi apenas três.
A facilidade de andar de cadeira de rodas numa cidade também é função de sua topografia e dos materiais de que são feitas as calçadas: a topografia de Curitiba é bastante ondulada e a de João Pessoa, plana; lá as lajes das calçadas frequentemente emperram as rodas dianteiras e aqui, são lisas, embora haja muitas ruas com calçadas ausentes ou destruídas – nesses casos, precisamos ir para o meio da rua, com algum risco de atropelamento. Devido a esses dois fatores, acho mais fácil andar de cadeira de rodas em João Pessoa do que lá.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No Nordeste, o calor é um sofrimento que faz o frio ser um sonho – e sonhos são irracionais! Clara e sua irmã mais velha – a qual raramente adoecia em Curitiba – vêm tendo sucessivas doenças respiratórias e de garganta porque ainda não aprenderam a utilizar direito o ar condicionado e tampouco seus colégios e outros estabelecimentos sabem usá-lo racionalmente, de modo a evitar riscos à saúde. Clara, Silvia e eu tivemos uma infecção estomacal cada e tive duas intestinais – achamos que foi por ainda não termos desenvolvido imunidade contra os micróbios locais. Na última, as duas também adoeceram e tive que optar por ficar sem atendimento médico para Silvia leva-las ao hospital.
Não temos mais empregada, Clara não está mais em período integral no colégio e fica demandando muito Silvia de manhã, o que a leva a acabar exausta quase todos os dias e, em duas ocasiões, a fez ficar acamada – assustado, venho me perguntando “se Silvia precisar ir a uma emergência hospitalar, quem vai leva-la? Se precisar de internação, quem vai a acompanhar? Quem vai cuidar das meninas e de mim?”. Sempre considerei sua expectativa de que o Nordeste nos fosse salutar uma ilusão, mas também não esperava que nossa saúde, especialmente a de Silvia, fosse piorar.
Como eu esperava e temia, o funcionamento do meu plano de saúde em João Pessoa é inferior ao de Curitiba, me tornando mais dependente de Silvia – o maior exemplo é que enquanto lá eu podia pegar a guia da fisioterapia (o atendimento que mais uso) pela Internet, sozinho, embora às vezes tivesse que fazê-lo pessoalmente, aqui isso só é feito presencialmente e tenho que sair de casa duas vezes para obter cada guia, o que implica trabalho e perda de tempo para ela. Outro exemplo de perda de independência é que, no ano passado, fiz amizade com um familiar de Silvia com quem saí muitas vezes sem ela – seu ciúme era uma diversão à parte – e, aqui, não tenho ninguém para tanto.
Pelo que foi dito neste e no último post – no qual me esforcei para não ser negativo –, estamos lutando para não considerar a mudança para Cabedelo um grande erro e às vezes Silvia até pensa em voltar para Curitiba. Apesar de adorar aquela cidade, estranhamente tal ideia ainda não me passou pela cabeça, talvez porque outra mudança será inviável por muitos anos – e fico chateado ao vê-la reclamar de problemas para os quais cansei de avisar e mesmo brigar. Nosso estado de espírito também está sendo afetado pelo surgimento ou agravamento de outros que nada têm a ver com a mudança, como o fim da vida útil do seu carro, a situação dos meus sogros, etc, e é difícil não misturar as coisas. De qualquer forma, a única opção que temos é minimizar ou resolver os problemas e procurar aproveitar o que esta região metropolitana tem de bom.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
O nosso apartamento de Cabedelo me dá uma sensação de amplidão que não tinha ao menos desde os 8 anos e a mobília e os eletrodomésticos que estavam nele são de ótima qualidade. O banheiro de casal tem uma plataforma que me permite tomar banho sentado, reduzindo o risco de queda. A portaria realmente se comunica por WharsApp, o que facilita as coisas para mim, e tem um porteiro que, fora do expediente, é um faz-tudo que resolve inúmeros problemas. Porém, o formato aproximado de um haltere faz com que as partes mais largas do prédio impeçam que o vento chegue aos apartamentos do centro, os tornando abafados, quentes demais, o que deve se agravar com o aquecimento global – nada que não se resolva com ventilador e ar condicionado. E é infestado de mosquitos, pela proximidade de terrenos baldios, o que solucionamos com emissores de ultrassom.
Este prédio fica a 180m da praia, para onde Silvia imaginava que iríamos todo fim de semana, o que eu via como uma ilusão, principalmente porque ela ainda não sabia o quão difícil é andar comigo na areia – minha expectativa era logo deixar de ir à praia. Para tentar evitar esse desfecho, comprei uma cadeira de rodas anfíbia, mas esta foi projetada mais para entrar no mar do que andar na areia e só ajuda em certas condições. Em janeiro, fomos à praia pela primeira vez desde que chegamos a Cabedelo, ao sair debaixo do guarda-sol para voltar para casa não passamos protetor solar e ficamos bem queimados – como esses incidentes aconteciam de vez em quando nas décadas em que morei em Recife e Olinda, pouco liguei, mas impactou bastante Silvia e nada adiantou que, na segunda vez, tenhamos nos saído melhor. Somado à logística complicada de ir à praia com 4 dependentes e às tarefas cotidianas, tais dificuldades fizeram Silvia passar a ir lá sozinha ou com alguma das meninas no começo ou fim do dia, com pouca frequência – pelos motivos (parcialmente) errados, acertei o resultado. Assim, em alguma medida para elas morar perto da praia está sendo bom, mas, para mim, tem sido irrelevante.
Ao ver que este prédio fica num canto meio isolado da região metropolitana, intuitivamente não gostei. Embora João Pessoa e Cabedelo sejam vizinhos, são mercados separados, o segundo tem preços sensivelmente maiores que Curitiba e a ideia de termos um menor custo de vida saiu pela culatra, uma das razões de termos ficado numa situação financeira difícil – a solução é fazermos compras em João Pessoa, mas muitas vezes é inviável. Ainda em Curitiba percebi que as fisioterapeutas que atendem a domicílio relutariam em vir aqui, pois passariam mais tempo no carro do que trabalhando comigo – enquanto em Curitiba uma profissional me atendeu durante todos os anos que morei lá e até se tornou minha amiga, aqui já estou na segunda, a qual me atende mais por gostar de pacientes neurológicos. Colocamos Clara e sua irmã mais nova numa escola que depois achamos pavorosa e cada percurso para o colégio para o qual agora queremos muda-las dura muito tempo, com todo estresse que vai decorrer daí. Não é uma boa localização para nós.
Minha mudança para Curitiba fui um ato de insanidade e um dos motivos foi não conhecer ninguém lá. Decidido a evitar que tal situação se repetisse, ainda lá comecei a falar com o pessoal do condomínio. Após nossa chegada, uma sub síndica – que veio morar no prédio na pandemia e cujo filho sofreu muito com o isolamento – organizou várias reuniões festivas entre nós e alguns moradores mais antigos e conseguimos nos entrosar bem. O melhor sinal disso é que acessar à piscina é complicado para mim, o que Silvia comentou rapidamente com o síndico e, na última reunião do condomínio, decidiram fazer uma rampa de acesso.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Com pouco tempo em João Pessoa, percebi que, para boa parte, senão a grande maioria dos nordestinos o calor é um sofrimento e o frio, um sonho, tanto que os restaurantes, colégios, lojas, etc, colocam o ar condicionado em até 15ºC, o que inclusive é um fator de doenças respiratórias – foi assim que peguei um resfriado em janeiro. Não chego a gostar de frio – conheço alguns que gostam – e acho que o calor me incomoda mais, mas este não deixa de ter efeitos positivos.
Devido ao frio, em Curitiba costumávamos dormir com um lençol, um cobertor e uma coberta grossa e nunca aprendi direito a me virar na cama sem descobrir Silvia, do que ela frequentemente reclamava. Pelo mesmo motivo, se dormisse perto da janela acordava com um problema de garganta por causa do ar frio, o que me fez escolher o lado esquerdo da cama, com o risco de bater em Silvia com minha “mão assassina” (a direita) e a consequente tensão para controla-la. Como minha respiração é ruim, às vezes ronco e faço outros barulhos à noite. Por esses motivos, em Curitiba muitas vezes eu dormia no sofá-cama, na sala, para não atrapalhar o sono de Silvia, o que só não era permanente porque ela sentia minha falta. Aqui em Cabedelo, o clima quente faz com que eu sequer use lençol na maior parte do tempo, permitiu que dormisse no lado direito da cama, deixando livre e relaxada a respectiva mão – isso foi premeditado por mim –, e Silvia diz que os meus barulhos diminuíram bastante, de modo que ainda não precisei dormir fora do quarto e, sem todas aquelas roupas, até tive a impressão de nossa cama ficou maior.
Apoie este blog pelo Pix