Não há estatísticas abrangentes sobre a incidência de déficit cognitivo em pessoas com paralisia cerebral. O que existe são estudos com grupos de algumas centenas de pessoas, que indicam uma incidência de 40 a 50%, algo parecido com um jogo de cara ou coroa. O problema parece maior do que é porque muitas das pessoas sem tal déficit têm sua capacidade de comunicação severamente afetada pela lesão cerebral, o que frequentemente é confundido com tal déficit e talvez até enviese tais estudos. Essa situação gera o preconceito de que a paralisia cerebral implica necessariamente esse déficit, talvez a maior ofensa a pessoas com PC que não o têm.

Por lei, as companhias aéreas têm de dar desconto de pelo menos 80% na passagem do acompanhante de pessoas com necessidades especiais, direito que agora preciso usar por ter a namorada em Curitiba. Essas companhias exigem que um médico preencha e assine um formulário para cumprir a lei e com este objetivo fui a uma neurologista com a qual já tinha feito duas consultas. Por motivos que não vêm ao caso, minha cuidadora acabou tendo de entrar no consultório comigo e com uma irmã minha que é física e cognitivamente deficiente. Não há relação alguma entre a deficiência desta e a minha, mas ao ver minha irmã a neurologista cismou que há, sim, e se negou a me dá o diagnóstico de PC – em vez disso ela botou “ataxia cerebral”! – dizendo “alguém tão inteligente não pode ter paralisia cerebral”. Não esperava ouvir essa afirmação de uma neurologista e saí do consultório pensando nela como uma imbecil.

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