Passei boa parte da infância morando na orla marítima de Olinda, onde ia muito à praia, adquiri uma habilidade – insuspeita para quem ver minha descoordenação motora – de lidar com o mar mesmo com ondas de certa altura e até as pegava com uma boia circular de isopor, a qual sempre assava a parte inferior dos meus braços até meus pais envolverem-na com panos – preservei em grande medida aquela habilidade, como andar de bicicleta para muita gente sem deficiência. Quando entro num mar calmo, sem ondas e cálido fico num estado que só pode ser descrito como êxtase e preciso fazer um esforço consciente para sair, para não me queimar do sol, mas mesmo um meio bravio e frio já me faz muito bem.

Numa noite de julho, ao chegar em casa Silvia me encontrou um tanto desesperado com os problemas que estamos enfrentando, perguntou o motivo e respondi “parece que tudo está dando errado”. A primeira providência que ela tomou para me reanimar foi, na manhã seguinte, irmos com Clara à praia que fica a 180m daqui, a qual não é exatamente paradisíaca, mas é uma praia; como seu carro estava na oficina, fomos a pé e o trajeto não é isento de obstáculos a uma cadeira de rodas, mas não exige um esforço excessivo do condutor; grande parte das praias de João Pessoa tem uma faixa de vegetação com trilhas e percebemos que a cadeira pode andar nas bordas destas, de modo que Silvia só teve de caminhar comigo 5 ou 10m até onde fincou nosso guarda-sol. Desde então, digo repetidamente que talvez a única coisa que pode mudar minha opinião negativa sobre morarmos em Cabedelo é ir à praia com mais frequência, aonde fomos de novo no último sábado e o que agora pretendemos fazer todo fim de semana.

Apoie este blog pelo Pix Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

?>