- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Minha fisioterapeuta quis inúmeras vezes me treinar para pegar Clara nos braços, mas ou eu tinha medo ou ela se negava. Neste sábado à tarde Clara ficou brincando comigo até que dei uma cotovelada involuntária em sua face, que deixou um pequeno hematoma, a fez chorar, ter mágoa de mim. Senti culpa, achei que podia ter evitado, mas não demorou para Clara voltar a brincar e se embolar comigo – ela já se acostumou a tais incidentes e a diversão das nossas brincadeiras é suficiente para compensá-los. Nesse processo, pela primeira vez consegui pegá-la nos braços, meio sem querer.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Acho que passar a semana no colégio em período integral às vezes faz Clara sentir falta de mim. No último fim de semana, ela me chamou para brincar em dois momentos, não tive muita disposição para tanto, ontem à noite me entristeci por essa causa e fui fazê-lo. A certa altura, ela brincou que era minha mãe, imitando a dela pegou um livro infantil, sentou-se comigo no sofá e começou a me contar uma estória, que era puramente imaginária pois ainda não foi alfabetizada; sempre estamos lendo um livro, Silvia se esforça muito para transmitir a Clara essa característica nossa e parece que terá êxito.
Pouco depois, agarrei Clara, que então passou a se esparramar em cima de mim, brincadeira meio bruta que deixou Silvia preocupada que ela se machucasse, ainda mais pela minha descoordenação motora. Fiquei alegre lembrando que mal conseguia tocar até pouco tempo atrás.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Curitiba fechou de novo devido à pandemia em 3 de março, em 26 nossa empregada soube que uma irmã estava com COVID-19, seu teste deu positivo e, desde então, não está vindo para cá. A partir daí, sozinha Silvia teve de cozinhar, cuidar de quatro dependentes, fazer as meninas assistirem as aulas virtuais, etc, às vezes quase chegando à exaustão. Por essa causa e porque não tivemos sintomas, não fizemos o teste RT-PCR e decidimos esperar para testar os anticorpos depois. Vê-la muito cansada, a preocupação com o que poderia ocorrer – temi menos adoecer e morrer do que isso acontecer a ela e ter de criar Clara sozinho – e pouco ou nada poder fazer me deixou tão estressado que tive aftas e distensões musculares. Estas só acabaram quando o período mais crítico de 6 dias acabou, embora só hoje não haja mais a possibilidade de adoecermos. Em seguida, o fechamento foi atenuado e as meninas voltaram ao colégio.
Após o fim dessa tormenta, pensei em como estaria se continuasse vivendo em Recife e concluí que estou mantendo o equilíbrio, nesta pandemia, basicamente graças a Silvia e Clara e a momentos como o mostrado neste vídeo.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Para horror de Silvia, quero que Clara salte de paraquedas, voe de asa delta e parapente, etc, mas nunca dei um piu com esta sobre isso. Do nada, dias atrás esta começou a nos perguntar se queríamos voar de asa delta, rindo respondi que sim enquanto Silvia tentou demove-la da ideia, não conseguiu e ficou invocada. Na última quinta, Silvia deu um antigo binóculo, Clara foi observar a rua pela varanda, notou a grade de proteção da janela, aquela explicou que é para não cair para fora e morrer, e esta respondeu “mas eu gosto de paraquedas” – me limitei a gargalhar. Não sei de onde Clara tirou tais ideias – será que foi do DNA?
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Como milhões de mães e pais, a pandemia nos colocou num dilema quanto à volta às aulas presenciais no início de fevereiro. Há unanimidade entre os pediatras que tal retorno deve ocorrer, mas notei inquieto que nenhum cita pesquisas científicas sobre a variante P1 em crianças e, de fato, ao responder um comentário meu no Instagram um deles disse que estas ainda não existem e que se baseiam só na prática clínica – mesmo assim, quando os vejo falando tenho a impressão de que se referem ao SARS-Cov2 em geral, e não especificamente à P1; mais tranquilizador é ver médicos enviarem os próprios filhos a colégios. Apesar disso, mandamos as meninas ao colégio, percebi uma melhora imediata no comportamento de Clara, em especial a recuperação de parte de sua independência perdida, e que ela estava sendo mais prejudicada pelo isolamento social do que imaginávamos.
Durante o carnaval, Clara passou um bom tempo brincando comigo, me dando a impressão de que sentiu minha falta. Na segunda-feira daquele período, a suspendi pelos quadris, o que ela achou muito divertido, ficamos cerca de uma hora nos embolando no chão, com brincadeiras que tipicamente os pais fazem com os filhos – mais brutas do que as das mães – sem ela se incomodar que às vezes eu a machucasse ou arranhasse involuntariamente. Enfim, Clara superou o medo do contato físico, corporal comigo, o que eu desejava há anos.
No fim daquele mês, as escolas do Paraná fecharam de novo. Quando o antigo colégio de Clara começou a dar aulas virtuais, ela as assistia com alegria mas, dessa vez, começou totalmente dispersa e até se negando a fazê-lo, o que nos perturbou demais. A primeira filha de Silvia tem, entre outros problemas, TDAH e muitas vezes esta vê um comportamento dispersivo de Clara como sinal desse distúrbio, o que não tem nexo e, mesmo também estando perturbado, tratei de acalmar esta. Nos dias seguintes, Silvia mais uma vez mostrou-se uma mulher incrível e, apesar de ter que trabalhar, foi conseguindo que Clara se concentrasse nas aulas. Na reabertura dos colégios, ficamos num vai-não-vai, desorientados, até que assumi a responsabilidade pelas meninas irem.
Na manhã desta terça, Silvia levou suas filhas ao dentista enquanto fiquei entretendo Clara. Brincadeiras de pai exigem muito fisicamente, pois suspender ou carregar uma criança de 17 kg cada vez mais ousada cansa demais, preciso prestar atenção em limitar minha descoordenação motora e me causaram uma distensão na coluna lombar. De novo notei que fica mais organizada quando minha presença se sobressai: nas semanas anteriores, ao tirar algo do baú de brinquedos Clara deixava uma bagunça mas, nesse dia, os guardou todos, só tirou uma boneca e até ajeitou as almofadas – ao saber disso, Silvia me falou “você é o brinquedo dela, não precisa de outros”. Clara gostou tanto que, após as aulas da tarde, veio me chamar dizendo “vamos brincar de fazenda, você é o cavalo” e se montou em mim – ela já aprendeu com a mãe a me sacanear!
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Silvia quis levar a família à Vila dos Animais no último sábado. Já na noite anterior comecei a me preocupar com o movimento da cadeira de rodas nas trilhas do local. De fato, estas são calçadas com pedrinhas que emperram as pequenas rodas dianteiras, só sendo possível o movimento das traseiras. Mesmo se não estivéssemos com as meninas, Silvia não teria força para conduzir a cadeira assim e eu teria passado o dia todo numa plataforma de concreto sem fazer nada se um prestativo amigo da sua família não tivesse ido conosco. Bem que tentei ficar lá para não incomoda-lo, o que não consegui porque ambientes campestres – aos quais me refiro pejorativamente como “mato”– me entediam profundamente e já estar irritado por Silvia, desde o início da pandemia, só querer que eu saia para fazer “programa de índio”. Ainda assim, me limitei a pedir que ele me movesse de um ponto a outro, sem eliminar o tédio até o fim da tarde, quando inventei de andar de cavalo. Teria sido melhor para mim se tomasse mais a iniciativa – p. ex, logo depois houve um passeio de trator que eu poderia fazer, mas fiquei com receio de abusar da boa vontade dele. As meninas é quem se divertiram e eu gostaria que Clara fosse mais lá para não ficar com medo de bicho.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Um dos inúmeros dons de Silvia é escrever poesias e hoje fez esta a meu respeito:
As palavras que saem de seus pés,
Por sobre a tábua encantada,
São tão sensatas!
Assombram-me!
Metem-me em brios.
Não raras vezes quero me esquivar de ouvir essa realidade
Que chega pelos seus pés.
É uma característica minha sobre a qual já tinha feito um post, mas de modo objetivo, sem a sensibilidade dela.
Apoie este blog pelo Pix