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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No início de agosto, o colégio de Clara convidou um membro da família – pela pandemia e por muitos pais terem emprego – para uma aula aberta em comemoração do Dia dos Pais. Com medo de contágio por COVID-19 e pelo esforço de me levar, Silvia quis ir sozinha, mas em todos os eventos desse tipo da sua antiga escola Clara tornou-se a criança mais feliz da sua turma ao me ver chegar, teimei em comparecer e conversei com a coordenadora, que disse que, no nosso caso, ambos os pais poderiam ir – na verdade, a escola nos deu todo o suporte necessário. E, de novo, Clara ficou exultante com minha presença.
Basta acompanhar este blog para perceber o quão me sinto feliz e orgulhoso em relação a Clara e só não gosto de ela mandar e desmandar nas irmãs, ser egocêntrica demais com as duas. Nos meus desvaneios a esse respeito, cheguei a pensar que ela está com a “síndrome de imperador”, mas as avaliações que recebemos do colégio mostram que não tem tal comportamento fora da família. Este é um assunto cada vez mais recorrente nas minhas conversas com Silvia, que não quer tomar uma atitude mais drástica porque teve ela própria muita dificuldade de se impor na infância, enquanto raramente consigo agir rápido o suficiente para corrigir Clara nas ocasiões em que esse problema emerge.
Nos últimos meses, tenho notado bastante que Clara sempre está alegre, feliz, brincando, e o slide abaixo indica que tive um forte papel no desenvolvimento dessa característica; às vezes Silvia fala que um dia vai me encontrar amarrado com Clara cantando em volta, como os índios dos filmes de faroeste. Alguém mais conservador, ao ver esse slide, poderia imaginar que não devo ter moral com as meninas, mas ao menos em algumas ocasiões tenho mais autoridade com as três do que Silvia: p. ex, hoje de manhã ela passou um bom tempo dizendo para sua segunda filha se vestir para ir à escola sem que esta se mexesse, entrei no quarto, falei o mesmo e fui prontamente atendido – fico surpreso por ter essa autoridade apesar da dependência física e econômica.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Tenho miopia e astigmatismo e, meses atrás, senti necessidade de trocar as lentes do meu óculos. Em maio fui a uma oftalmologista que, além de receitar as lentes, suspeitou que estou com catarata e pediu um mapeamento de retina. Ontem, antes desse exame uma auxiliar de enfermagem botou três vezes um dilatador de pupila nos meus olhos, que ardiam, em todas esta falava “(coi)tadinho” com pena de mim, o que me fazia rir, ainda discretamente – perguntei a Silvia ‘você sabe por que estou rindo?” com cuidado para não chamar a atenção da outra pessoa presente na sala e expliquei o motivo.
Ao entrarmos no consultório do médico que faria o mapeamento, este deve ter imaginado que meu exame seria – não foi – trabalhoso devido à paralisia cerebral, quando acabou Silvia perguntou se deu certo, este disse referindo-se a mim “ele ajudou muito, é um fofo”, não aguentei, explodi na gargalhada, chegando a saltar na cadeira de rodas, para embaraço de Silvia e só meia hora depois é que pensei que fui indelicado com o pobre coitado. Em seguida, fomos a um shopping center – com relutância, pois é um tipo de ambiente desaconselhado na pandemia – encomendar as lentes, não gostei da vendedora ter pedido o contato de Silvia em vez do meu, já que, além de serem para mim, nosso dialogo indicou que seria eu quem pagaria, mas acabei rindo dessa figura também – com bem mais discrição – pelo ar de pieguismo e piedade. Desde então, Silvia só me chama de “fofo”
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Em 24 de maio, recebemos um aviso do colégio de Clara de que as aulas da sua turma seriam suspensas por duas semanas devido a um caso de COVID-19 e retivemos também sua irmã mais nova, que estuda no mesmo – de fato, em seguida soubemos de três casos na turma desta. Cinco dias depois o nariz desta entupiu, o que Silvia percebeu no penúltimo domingo, não queria fazer o teste na filha achando que fosse um resfriado e temendo serem contagiadas no local, mas teimei, foi feito e deu positivo. Sua outra filha se recusou a dormir noutro recinto e a isolamos no quarto com a irmã – enquanto nos trancamos no apartamento – na certeza de que também pegou, mas hoje fez testes de RT-PCR e anticorpos e, para nossa surpresa, o resultado foi negativo. Sempre por insistência minha, em 1 de junho Silvia, Clara e eu fizemos testes, que deram negativo.
Tirar licença médica de pouco adiantou para Silvia por ter uma meta anual a alcançar, de modo que precisou continuar trabalhando, enquanto dava conta de toda a família – não lembro de dar uma contribuição importante neste período, exceto ontem, quando Clara brincou comigo boa parte do dia. Tomei a primeira dose da vacina da Pfizer em 17 de maio, o que pode ter evitado ser contagiado por minha enteada – mas de nada adianta contra a variante beta, detectada pela primeira vez na Índia. Hoje deveria estar aliviado mas, desde ontem, estou tendo picos de ansiedade sem motivo imediato – talvez seja por minhas expectativas (p. ex, desde abril acho que, no segundo semestre, vai surgir no Brasil uma variante resistente a vacinas).
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Minha fisioterapeuta quis inúmeras vezes me treinar para pegar Clara nos braços, mas ou eu tinha medo ou ela se negava. Neste sábado à tarde Clara ficou brincando comigo até que dei uma cotovelada involuntária em sua face, que deixou um pequeno hematoma, a fez chorar, ter mágoa de mim. Senti culpa, achei que podia ter evitado, mas não demorou para Clara voltar a brincar e se embolar comigo – ela já se acostumou a tais incidentes e a diversão das nossas brincadeiras é suficiente para compensá-los. Nesse processo, pela primeira vez consegui pegá-la nos braços, meio sem querer.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Acho que passar a semana no colégio em período integral às vezes faz Clara sentir falta de mim. No último fim de semana, ela me chamou para brincar em dois momentos, não tive muita disposição para tanto, ontem à noite me entristeci por essa causa e fui fazê-lo. A certa altura, ela brincou que era minha mãe, imitando a dela pegou um livro infantil, sentou-se comigo no sofá e começou a me contar uma estória, que era puramente imaginária pois ainda não foi alfabetizada; sempre estamos lendo um livro, Silvia se esforça muito para transmitir a Clara essa característica nossa e parece que terá êxito.
Pouco depois, agarrei Clara, que então passou a se esparramar em cima de mim, brincadeira meio bruta que deixou Silvia preocupada que ela se machucasse, ainda mais pela minha descoordenação motora. Fiquei alegre lembrando que mal conseguia tocar até pouco tempo atrás.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Curitiba fechou de novo devido à pandemia em 3 de março, em 26 nossa empregada soube que uma irmã estava com COVID-19, seu teste deu positivo e, desde então, não está vindo para cá. A partir daí, sozinha Silvia teve de cozinhar, cuidar de quatro dependentes, fazer as meninas assistirem as aulas virtuais, etc, às vezes quase chegando à exaustão. Por essa causa e porque não tivemos sintomas, não fizemos o teste RT-PCR e decidimos esperar para testar os anticorpos depois. Vê-la muito cansada, a preocupação com o que poderia ocorrer – temi menos adoecer e morrer do que isso acontecer a ela e ter de criar Clara sozinho – e pouco ou nada poder fazer me deixou tão estressado que tive aftas e distensões musculares. Estas só acabaram quando o período mais crítico de 6 dias acabou, embora só hoje não haja mais a possibilidade de adoecermos. Em seguida, o fechamento foi atenuado e as meninas voltaram ao colégio.
Após o fim dessa tormenta, pensei em como estaria se continuasse vivendo em Recife e concluí que estou mantendo o equilíbrio, nesta pandemia, basicamente graças a Silvia e Clara e a momentos como o mostrado neste vídeo.
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