Carícias entre Pai e Filha

Criado: Terça, 28 Janeiro 2020 Escrito por Ronaldo Correia Junior

No início do mês, Silvia foi jantar com uma amiga e Clara de novo dormiu no sofá acariciando minha cabeça, falando que estava fazendo “um carinho gostosinho”. No resto de janeiro, ela adormeceu duas vezes da mesma forma apesar de Silvia também estar no sofá, mostrando que Clara realmente gosta de fazer isso desde que haja sossego em casa, o que é impedido pela presença das suas irmãs – o problema não é só a agitação destas, mas também que geralmente não há espaço para me aproximar do sofá.

Clara também adora andar no meu colo na cadeira de rodas, no que insiste – tanto por gostar quanto por preguiça – até quando preferimos que ande com as próprias pernas.

O medo acentua a descoordenação motora de pessoas com paralisia cerebral. No tempo em que Clara era bebê, o temor de machucá-la, a consciência da descoordenação e desse fator agravante frequentemente me inibiam de acaricia-la. Agora esse medo acabou, mas, sempre que tento, ela rejeita meu toque porque, embora só tenha a machucado em pouquíssimas ocasiões e nunca com gravidade, os movimentos bruscos que eu fazia a assustavam e a marcaram.

Em resumo, Clara até me faz algumas carícias, mas não me deixa tocá-la – exceto na cadeira de rodas – e não sei como mudar esta situação.

Brincadeira da Fisioterapeuta

Criado: Segunda, 27 Janeiro 2020 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Cada fisioterapeuta trabalha de um modo próprio, a que me atende desde que cheguei a Curitiba geralmente – não sempre – me pede exercícios que posso fazer com pouca intervenção dela, às vezes procura algo para preencher o tempo e, hoje, resolveu brincar com um aplicativo que gerou quatro vídeos, os quais juntei num só. Ela mesma percebeu que eu poderia pensar “que falta do que fazer!”smile


Fragmentos do Cotidiano de um Pai

Criado: Quinta, 26 Dezembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

No último domingo, as filhas de Silvia foram para a casa do pai e Clara começou a guardar mais os brinquedos. Junto com experiências anteriores com resultados semelhantes, isso me fez perceber que, quando minha presença se destaca, Clara torna-se mais organizada.

À tarde, enquanto Silvia tentava descansar um pouco no quarto, Clara quis brincar de “casinha” – feita de mesinha, cadeirinha, uma toalha e almofadas – comigo, fazendo de conta que era a “sereia aquática”, personagem do youtuber Luccas Neto, vestindo uma fantasia apropriada e me chamando de “pai sereio”.

Na terça, Silvia a chamou para ir à piscina do nosso condomínio, Clara perguntou algo como “você vai levar meu pai, para ele não ficar triste?” e insistiu por algum tempo. Essa atitude nos surpreendeu, Silvia falou que, pelo jeito, Clara vai querer me levar a todos os lugares, brinquei que até para saltar de paraquedas, me alegrei, mas depois fiquei incomodado com sua preocupação comigo, pois não quero que sinta-se com a “missão” de cuidar de mim.

Fui à piscina no dia seguinte, quando eu estava entrando nesta Clara disse a um vizinho “ele é meu pai Ronaldo”, parecendo já ter consciência da minha mudez, mas também considerando a paralisia cerebral como natural, neutra, e talvez com um tom de orgulho.

O Super Homem de Nietzsche?

Criado: Quinta, 19 Dezembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Há poucos dias, Silvia e eu vimos esta descrição da ideia de Super Homem de Friedrich Nietzche – não conheço esse filosofo, apenas vejo falarem dele – num vídeo que ela colocou e tanto eu quanto eu percebemos, simultaneamente, que me encaixo no conceito. Foi a primeira vez que pensar ou ouvir que sou um Super Homem não me desagradou.

Noite Horrorosa

Criado: Segunda, 09 Dezembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

No penúltimo sábado à noite, Silvia quis ir à Casa do Papai Noel, uma exposição natalina em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Logo que entramos lá, comecei a temer que minha cadeira de rodas virasse com Clara no meu colo, porque o terreno era cheio de aclives e declives e as junções das lajes tinham muitos desníveis, fazendo as rodas dianteiras se engancharem nestas com frequência – só conseguimos andar pelo parque porque incontáveis pessoas nos ajudaram, como é típico dos curitibanos, embora o atendimento que recebemos dos funcionários da entrada tenha sido péssimo. Fiquei o tempo todo preocupado em segurar firme uma mão na outra em torno de Clara, até nos trechos planos do caminho, nos quais era desnecessário. À medida em que o tempo passava e nada de errado acontecia, me perguntava porque continuava tenso, perturbado – era intuição de pai! Quando já estávamos indo à saída do parque, Silvia se lembrou que faltava pegar a foto que tiramos com o Papai Noel, ao subirmos um aclive mais acentuado ela quis mudar de direção e perdeu o controle da cadeira, que virou de lado – mas a força que ela fez atenuou a queda, a roda lateral e minha espasticidade (rigidez muscular) me impediram de sofrer um impacto no chão e meu rígido braço direito protegeu Clara, de modo que esta só levou um susto e eu, um arranhão superficial na mão. O nervosismo resultante me deu uma forte dor de cabeça.

Silvia gosta de filmes de terror e eu, não. Após chegarmos em casa e Clara ir dormir, concordei em assistirmos um baseado num livro de Stephen King, um escritor que ela também gosta, que era tão escabroso que eu virava a cabeça para não ver algumas cenas e levou ela própria a se sentir mal. Não pude deixar de exclamar “que noite horrorosa!”.

Pula-pula no Sofá

Criado: Sábado, 30 Novembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior


Ensaio de Dança

Criado: Sábado, 23 Novembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

No próximo sábado, Clara fará uma apresentação de dança pelo colégio, ontem quis ensaiar comigo e o resultado ficou hilário – a música é “Não se Reprima” do Menudo. Ela me associa mesmo à alegria e qualquer atividade lúdica, divertida a faz pensar em mim.


Pilates

Criado: Sábado, 23 Novembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Minha fisioterapeuta é eclética e, ontem, quis que eu fizesse pilates ou pelo menos um arremedo disso.


Sentimentos sobre um Vídeo

Criado: Sábado, 23 Novembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Silvia resgatou este vídeo de outubro de 2017. Apesar de (ou porque) sempre termos curtido intensamente cada momento com Clara, sentimos muita saudade e vontade de ter outros filhos. E me entristeci ao ver que, naquela época, conseguia pegar e tocar Clara, antes da minha descoordenação motora leva-la a evitar isso.


Declaração de Amor da Filha

Criado: Quinta, 21 Novembro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Nesta semana, me entristeci algumas vezes pelo distanciamento afetivo de Clara. Ontem à noite, Silvia foi jantar com as colegas de trabalho – só as mulheres – e fiquei cuidando de Clara com a ajuda da nossa diarista. Pouco após as 21h, para Clara dormir propus a ela assistir Malévola no sofá, o que inicialmente não deu certo e deixei a TV num canal aberto para a diarista ver. Minutos depois, esta a convenceu, ao se deitar no sofá Clara me pediu para botar o filme, passou a acariciar minha cabeça, falou em voz baixa “papai, eu adoro você” – foi a primeira vez que ela disse isso espontaneamente – e logo dormiulaughing

Enquanto Clara me acariciava, tentei fazer o mesmo na sua perna, mas ela rejeitou e, com um pouco de tristeza, fiquei pensando se algum dia vai superar o medo do meu toque.