Aos 2 anos, Clara tinha tanto espírito de independência que se propunha a ajudar sua irmã mais nova – que tem 5 anos a mais – a calçar uma meia ou enxugar-se após o banho, mas agora estava se negando a comer com a própria mão. Olhando em retrospectiva, tal regressão começou no ano passado, mas era lenta e fechei os olhos, fui omisso. Teve uma súbita aceleração no primeiro ataque de apneia – problema que acabou –, ocasião em que Silvia começou a dormir com ela, e depois com o fechamento dos colégios devido à pandemia de COVID-19, Nesse período, Silvia passou a permitir que Clara fosse imperativa demais com as irmãs, sem que eu tivesse a rapidez necessária para intervir nas brigas das meninas. Nos últimos meses, eu vinha advertindo Silvia quanto a esses problemas sem conseguir mudar a situação, nos vi numa dinâmica semelhante à que houve entre meus pais e minha irmã com deficiência – que terminou não conhecendo limites – e, na segunda, não aguentei mais: dormi muito mal, acordei às 5h, não suportei o quarto escuro, fui para a sala, Silvia foi atrás de mim e discutimos (sem brigar) toda a manhã até eu mandar mensagens no WhatsApp, o meio que uso para fazer narrativas. A partir daí, Silvia mudou a forma de tratar Clara.
Ontem à noite, Silvia teve muito trabalho com suas filhas, Clara se deitou sozinha no sofá, após o jantar fui para junto dela, percebendo que dormiria resolvi ir apagar a luz, momento em que ela falou “pai, fica aqui comigo”, depois “pai, faz carinho em mim” e adormeceu em minutos. Não lembro da última vez em que tinha a botado para dormir e tive uma grande alegria.