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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Clara continua imperativa demais com as irmãs sem que eu consiga encontrar um jeito de intervir nas ocasiões em que isso se manifesta. Após a pior situação que tal comportamento gerou – na qual causou um transtorno enorme à família e fiquei furioso, descontrolado emocionalmente (Silvia tinha saído) – usei o Livox para falar “Clara, você não pode mandar nas suas irmãs”, mas ela se fingiu de desentendida.
Ontem na hora do jantar, faltou energia no nosso bairro, quando as meninas se aquietaram a família começou a conversar no sofá, abri o Livox, com o qual brincaram um pouco, aproveitei para dizer “Clara é linda, mas precisa tratar melhor as irmãs’, frase que depois achei vaga por não dar um exemplo concreto, mas que ela entendeu perfeitamente e se levantou para me responder que cedeu alguma coisa à mais nova durante a tarde. Foi a primeira vez que tive efetividade a esse respeito.
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Ontem à tarde, Silvia levou suas filhas à dentista, deixando Clara comigo e com a empregada, que depois foi para casa. Clara passou boa parte desse intervalo correndo de um lado a outro da sala, jogando-se e rolando no sofá e dizendo que é “radical”. Parece que ela está começando a incorporar meu espírito de paraquedista – Silvia discorda veementemente disso
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Na semana passada, comecei a notar, com tristeza, Clara assistindo por muito tempo vídeos – na maioria idiotas – de serviços de streaming ou usando aplicativos de jogos, acho que para não atrapalhar o trabalho de Silvia. O incômodo é maior por vermos que ela deseja voltar à escola, estudar e ser alfabetizada, além de estarmos nos convencendo de que é bem inteligente. Passei a me esforçar mais para tira-la do tablet e da TV, faze-la brincar mais comigo, e só ontem comecei a ter sucesso.
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Desde o último episódio de ciúme de mim, Clara geralmente passa as tardes comigo, às vezes me pedindo carinho e até para botá-la para dormir – em parte, tal comportamento deve-se a ela já ter consciência de que precisa deixar Silvia trabalhar. Curiosamente, de manhã ela fica meio refratária a mim.
Vinha tendo dores nas costas pela falta da fisioterapia devido à pandemia de COVID-19 e, apesar disso, dizendo “não” quando a profissional que me atende perguntava se queria retomá-la. Acontece que o primeiro marido de Silvia morreu dessa doença, o que provocou várias tensões aqui em casa que, por sua vez, causaram uma distensão muscular na junção do meu pescoço com o ombro esquerdo que às vezes se espraia para toda a musculatura que envolve a escápula. Tomei relaxante muscular várias vezes, não resolveu, acabei retornando à fisioterapia, que diminuiu a dor, mas esta contínua porque ainda não consegui faze-la com regularidade.
No início do isolamento social, quando dispensamos nossa empregada, passei a arrumar a cama após me acordar – às vezes já fazia isso em Recife, mas lá era só botar no guarda-roupa o lençol com que me cobria, enquanto aqui em Curitiba tenho que puxar as cobertas dos lados, circulando ao redor da cama, engatinhando ou de joelhos, num quarto apertado. Há duas semanas, Silvia chegou ao quarto no momento em que eu desempenhava tal tarefa, disse “mas é mesmo o homem ideal” e me fez uma série de elogios. Fiquei surpreso e só depois atinei que poucos homens fazem o mesmo, sobretudo se puderem usar uma deficiência como desculpa. Mas foi Silvia que terminou de arrumar a cama, devido a um corolário de seu complexo de Mulher Maravilha – uma grande dificuldade de permitir que outra pessoa faça algo em seu lugar: em algumas ocasiões, vou apagar uma luz e ela se antecipa (nesse caso, também para me provocar).
Sou quem faz o grosso das compras de supermercado (pela Internet), com Silvia indo a esse tipo de estabelecimento só para compras menores. No início da pandemia, justamente quando tal esquema era mais necessário, ela resolveu assumir todas as compras desse tipo, alegando que as novas regras do condomínio dificultavam a entrega – não fui convencido, mas não havia muito que eu pudesse fazer. Tais regras mudaram de novo há duas semanas, reassumi essas compras e Silvia achou ótimo dispor de mais tempo – lidar com a Mulher Maravilha pode ser tortuoso
Ultimamente tem acontecido de Silvia dar minha comida enquanto cuido para Clara comer com a própria mão. Ensinar independência numa situação de dependência é paradoxal.
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Nesta manhã, Clara rejeitou todas as tentativas de aproximação que fiz. Depois do almoço, Silvia teve de sair para uma reunião, sua segunda filha procurou minha ajuda para fazer as lições de casa, Clara teve ciúme e não queria que eu fizesse qualquer coisa para sua irmã. Demorei uns dez minutos agoniado para conseguir digitar no Livox a instrução que minha enteada precisava – em seguida, tive de ir brincar com Clara e me dividir entre as duas. À noite, ela pegou uma revistinha e um lápis para fazer de conta que estava estudando comigo e me chamou de “professor sereio de matemática”. É fogo, além de precisar evitar problemas com o ciúme da mãe, agora tenho de fazer o mesmo com a filha
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Clara já tem consciência do significado do Dia dos Pais. Nesta manhã ela grudou em mim e, quando eu quis ir ver o tablet, falou “não, pai, fica aqui".
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
É comum pessoas com paralisia cerebral e outras deficiências serem passivas, sem iniciativas, temerosas da vida, do mundo, de correr riscos, e acho que fui assim até os 30 ou 35 anos e é difícil explicar porquê mudei – sempre há a possibilidade desse tipo de introspecção ser mera confabulação. Na minha infância, meu pai fazia todo o possível para eu adquirir autonomia e minimizar a dependência. Na época, encontrou pouca receptividade, geralmente fui inerme, inerte, meio preguiçoso, seguia a linha de menor resistência e minha mãe reforçava essa acomodação. Porém, a semente foi plantada e germinou após fazer uma psicoterapia nos anos 1990, quando percebi que meu pai estava certo e passei a me esforçar para seguir a direção apontada por ele, com resultados que às vezes colocaram a família em polvorosa.
Silvia é uma mulher totalmente independente e, recentemente, passou meia hora me falando que quer que Clara também seja. Mas coração materno não varia muito, na prática ela tem muitas atitudes que inibem ou até reduzem a independência desta e tenho me pego tendo o mesmo tipo de preocupações, inquietações, discussões, etc, que meu pai teve em relação a mim.
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Com já quatro meses sem fisioterapia devido à pandemia de COVID-19, estou com cada vez mais dores musculares – a profissional que a faz chegou a me sondar em junho, deixei o retorno para agosto e vou adiar de novo, já que a pandemia está descontrolada no Sul. Mesmo quando tenho disciplina para fazer exercícios com regularidade, os alongamentos que faço parecem inadequados e as dores vêm se multiplicando, principalmente nas costas – nesse caso, há o paliativo de me deitar de bruços, mas só posso fazer isso num horário de manhã e noutro à tarde, senão tenho refluxo. Já tive uma distensão leve atrás do joelho esquerdo causada por um alongamento mal feito e estou com um ponto dolorido no ombro esquerdo, onde nunca tive problema nem sei o motivo. Quero comprar um equipamento para alongar as costas, mas o cartão de crédito que usava foi bloqueado para compras na Internet, o aplicativo deixou de gerar o cartão virtual, Silvia chegou a ir a uma agência do banco emissor para habilitar o app e não conseguiu; pelo aborrecimento, vou cancela-lo, pedi um de outro emissor e preciso esperar este chegar. Haja paciência!
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Na manhã de terça, enquanto Silvia trabalhando Clara demandou aquela, fiquei a chamando para brincar, demorou 30 a 40 minutos para me atender mas, quando o fez, grudou em mim, o que provocou situações engraçadas. No almoço, após Silvia me dá a salada Clara ficou falando algo como “não dê mais comida ao papai (para ele voltar a brincar comigo)”; na hora do lanche, quando eu já estava de pé segurado por Silvia, Clara fez me abaixar para retomar a brincadeira; essas situações se repetiram nos dias seguintes, para minha alegria embora às vezes fossem inconvenientes quando precisava fazer outra coisa – nessas brincadeiras, só consigo escutar algum vídeo com um fone de ouvido. Em parte, Clara brinca mais comigo porque as irmãs pouco se interessam em fazê-lo, inclusive porque ela contínua imperativa demais com estas sem que eu consiga encontrar um jeito de intervir nesse problema. Acho notável como Clara consegue contornar com imaginação minha dificuldade de interagir causada pela paralisia cerebral.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Há exatamente 5 anos cheguei a Curitiba para morar com Silvia. Naturalmente vim na esperança de que fosse a melhor coisa da minha vida, mas também temia que terminasse em catástrofe, inclusive na morte de alguém – não sabia o que esperar. Embora muitas vezes chegamos à iminência de um desastre, acabou de fato nos trazendo a felicidade.
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