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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No próximo sábado, Clara fará uma apresentação de dança pelo colégio, ontem quis ensaiar comigo e o resultado ficou hilário – a música é “Não se Reprima” do Menudo. Ela me associa mesmo à alegria e qualquer atividade lúdica, divertida a faz pensar em mim.
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Minha fisioterapeuta é eclética e, ontem, quis que eu fizesse pilates ou pelo menos um arremedo disso.
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Silvia resgatou este vídeo de outubro de 2017. Apesar de (ou porque) sempre termos curtido intensamente cada momento com Clara, sentimos muita saudade e vontade de ter outros filhos. E me entristeci ao ver que, naquela época, conseguia pegar e tocar Clara, antes da minha descoordenação motora leva-la a evitar isso.
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Nesta semana, me entristeci algumas vezes pelo distanciamento afetivo de Clara. Ontem à noite, Silvia foi jantar com as colegas de trabalho – só as mulheres – e fiquei cuidando de Clara com a ajuda da nossa diarista. Pouco após as 21h, para Clara dormir propus a ela assistir Malévola no sofá, o que inicialmente não deu certo e deixei a TV num canal aberto para a diarista ver. Minutos depois, esta a convenceu, ao se deitar no sofá Clara me pediu para botar o filme, passou a acariciar minha cabeça, falou em voz baixa “papai, eu adoro você” – foi a primeira vez que ela disse isso espontaneamente – e logo dormiu
Enquanto Clara me acariciava, tentei fazer o mesmo na sua perna, mas ela rejeitou e, com um pouco de tristeza, fiquei pensando se algum dia vai superar o medo do meu toque.
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Crianças de até 2 ou 3 anos sempre simpatizaram comigo, sorriam para mim, não sei porquê. Neste ano, duas amigas das filhas de Silvia que moram no nosso condomínio, que têm 7 anos, passaram a me abraçar, do nada – nesse caso, intuo que tenha algo a ver com eu ser pai, mas não sei como.
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Ontem de manhã, enquanto comíamos Clara ficou, rindo muito, me falando de brincadeira “mamãe é uma baratinha(ou minhoquinha), né?”, o que me fez pensar em como é bom ver uma filha espelhar, herdar características nossas que são boas – nesse caso, alegria, bom humor e facilidade de rir.
Clara continua gostando de ficar no meu colo quando estou na cadeira de rodas, mas, com seu crescimento, é um peso cada vez maior para Silvia conduzir – algo que deve ser evitado até esta retirar a hérnia que tem no abdome – e às vezes fica me machucando. Uma solução é colocar nela uma coleira infantil segurada por Silvia; outra, se esquecermos da coleira, é Clara segurar minha mão. Tentei a segunda solução algumas vezes, sem sucesso porque a descoordenação motora me fazia machucar sua mão, até que, ontem à tarde, o consegui num shopping center – fiquei todo faceiro ao andar (de cadeira de rodas) de mãos dadas com minha filha pela primeira vez. Num elevador desse shopping center, Clara mostrou a foto que tiramos com o Papai Noel de lá, mostrando os pais sem dá a mínima para minha deficiência.
À noite, após ver Silvia me beijando sentada no meu colo, Clara veio me beija e acariciar.
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Nesta manhã, fomos a outra exposição na escola de Clara, sobre os cinco sentidos. Lá, não vi outra criança tão alegre. Também notamos que ela beijou e/ou abraçou todos colegas e professoras. Nas duas vezes que entramos na sua sala de aula, ela tentou ajudar a levantar a parte frontal da minha cadeira de rodas. Na saída, uma proprietária e diretora do colégio me falou algo como “Clarinha é uma figura” e foi beijada e abraçada por ela. Fiquei com a sensação de que estamos conseguindo educa-la bem.
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Deixei de fazer natação nesta semana, pouco depois do que eu previa. Agora, as filhas de Silvia estão passando uma semana com o pai, outra conosco e, quando ficam aqui, ela estava tendo de levar 4 dependentes a destinos diferentes, o que era muito estressante e cansativo. Mais grave, após a retirada da vesícula Silvia desenvolveu uma hérnia no abdome e precisa reduzir o esforço físico que faz. Espero que esses meses em que nadei me deixem dois ou três anos sem asma, embora duvide um pouco dessa expectativa porque estou mais velho e é questionável extrapolar a experiência passada. Estou triste, inclusive porque, quando recomecei a natação, percebi que os benefícios iam bem além de melhorar a respiração.
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Há pouco, fiz uma consulta com um otorrino que falou que sou “cativante”, o que me surpreendeu, achei engraçado e fiquei rindo, pois, no consultório, eu só disse – talvez de modo mais conciso e claro que a média – o que todo mundo falaria. Numa segunda reflexão, vi que não havia motivo para me surpreender, porque sei que os outros geralmente esperam que alguém com paralisia cerebral não tenha cognição intacta, não sorria, não se expresse bem, etc.
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Há cerca de um mês, uma amiga das filhas de Silvia que mora no nosso condomínio passou a dizer que quer que eu seja seu pai e, sempre que ouve isso, Clara responde “não, é meu pai”. Parece que Clara será tão ciumenta quanto a mãe e já estou com pena dos futuros namorados dela