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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Na quarta da semana passada, a filha mais nova de Silvia, Clara e eu amanhecemos com uma virose que atacava a garganta e o sistema digestivo. Meu plano de saúde tem um médico que atende a domicílio e, ao sentir minha temperatura subir – o que não contei a Silvia, que só soube por ele –, o chamei já prevendo que a situação ficaria muito difícil. Também disse para Silvia levar as filhas a um médico e pedir um atestado. De fato, foram a um hospital, mas ela se esqueceu do atestado e teve de continuar a trabalhar. Na quinta, Silvia precisou de uma impressora que tinha comprado há dois dias, que pareceu estar defeituosa, saiu nervosa para trocar, não conseguiu e se desesperou – só ao voltar é que viu que havia um imã dentro da impressora e o defeito não existia. O trabalho de Silvia se acumulou, já que Clara a demanda demais quando adoece até que consegui entreter esta na sessão de fisioterapia da sexta. No sábado, foi a vez da própria Silvia ficar doente, passou dois dias sem conseguir reter alimento algum, enfraqueceu-se, comecei a me assustar e passei a manhã de segunda insistindo para ela ir a um médico, sem sucesso – Silvia respondia que não precisava, enquanto eu achava que era pelo seu complexo de Mulher Maravilha. Só nesta terça é que recuperamos a saúde – não total no meu caso (estou com outro problema) – e a situação se acalmou.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Frequentemente, ao engatinhar pelo apartamento fico catando lixo para botar no cesto, já que os outros raramente o fazem e a bagunça resultante me incomoda – sou o gari da família! Agora isso está tendo o efeito involuntário de ensinar Clara a fazer o mesmo: nos últimos dias, por duas vezes a mandei colocar embalagens na lixeira – na primeira ocasião, entreguei a embalagem e na segunda, apenas apontei – e fui atendido prontamente, com naturalidade.
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Um conhecido que fará uma palestra TED me perguntou se podia fazer um vídeo dizendo, para a plateia, algo sobre quem tem paralisia cerebral, não pode falar, etc. Resolvi expressar a mensagem central deste blog. Para mim o vídeo não ficou grande coisa, enquanto ele o achou ótimo.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Ontem, a escola de Clara teve portas abertas aos pais em comemoração ao dia deles. Quando entrei na sua sala, Clara correu muito alegre para me abraçar. Naquele momento não prestei muita atenção às outras crianças, mas tive a impressão de que nenhuma outra demonstrou tanta felicidade ao ver o pai, o que depois Silvia confirmou. Esta também notou que enquanto as outras perceberam minha paralisia cerebral, no mínimo pela cadeira de rodas, Clara não a enxergou – era só seu pai que estava lá. Foi um momento emocionante para mim e, à noite, fiquei pensando como Clara se sentirá quando minha deficiência ficar ressaltada para ela e seus colegas.
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Tive uma asma leve em julho, o que nos alarmou quanto à falta da natação, a qual não fazia desde 2016; no início dos anos 1990, quando também interrompi essa atividade em Recife, demorei mais ou menos o mesmo tempo para voltar a ter asma – assim, o clima local é um determinante secundário do problema. Portanto, a recomecei nesta semana. Em princípio, só pretendo fazê-la por dois meses, tanto para não sobrecarregar Silvia – que, de manhã, está tendo de levar três dependentes a destinos diferentes – quanto porque é uma despesa alta em relação ao tamanho da minha renda, mas ela está insistindo que seja permanente.
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Há muito sonhava que Clara brincasse comigo e, agora, ela realmente aprendeu a fazê-lo – hoje, novamente brincamos muito tempo. Para tanto, foram importantes as sessões de fisioterapia nas quais ela participou, já que várias brincadeiras que fazemos foram aprendidas nestas. Também ajudou Clara ser bem imaginativa, compensando assim as limitações dos meus movimentos.
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Nesta manhã, vi que Clara queria brincar comigo, mas ela teve de ir com a mãe levar a irmã mais velha à catequese. Silvia está com trabalho acumulado e tem vários compromissos na próxima semana, o que me fez tentar entreter Clara após o almoço mesmo achando que teria pouca chance de êxito e acabamos brincando por muito tempo. Fiquei alegre menos por ter desafogado Silvia do que por Clara parecer estar aprendendo a brincar comigo.
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É mais provável que Clara se aproxime de mim e brinque comigo quando as irmãs não estão em casa, o que tornou-se raro desde o início de junho. Uma dessas poucas oportunidades aconteceu ontem à tarde, quando eu estava na varanda usando o computador e ela inventou de brincar conosco. Algum tempo depois, fui para a sala e Clara fez me abaixar para se montar em mim para brincar de cavalinho, pela primeira vez sem minha fisioterapeuta. Tive medo de dar uma queda nela, ainda assim engatinhei com ela nas costas até que, quando já estava cansado, minha mão esquerda escorregou e, embora conseguisse me reequilibrar, achei melhor parar – Clara teria insistido na brincadeira se Silvia não tivesse a chamado para jantar.
Após essa refeição, apesar de suas irmãs terem chegado Clara voltou a brincar comigo por muito tempo, inclusive de boneca – ela não teve o menor interesse nos carrinhos que dei de aniversário. E fez uma grande bagunça, que tive de arrumar.
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Minha música preferida é Epitáfio dos Titãs, cujo estrofe final é:
Devia ter trabalhado menos
Complicado menos
Ter visto o sol se pôr
Há nove dias, fomos ao show da banda, antes de tocar tal música Sérgio Brito disse que é quase uma oração e percebi que efetivamente o é para mim. Exceto por querer trabalhar mais, é meu ideal de vida e, por muito tempo, a defasagem quanto à minha realidade, o meu modo de ser e agir às vezes incomodava. Recentemente constatei que, em medida maior ou menor, costumo conseguir o que quero, inclusive me transformar na direção que desejo, constatação que me desconcertou, surpreendeu e espantou, dadas as limitações geradas pela paralisia cerebral. Um dos maiores símbolos disso é que, em parte do ano, dá para observar o pôr do sol da frente do nosso apartamento e, pensando em Epitáfio, muitas vezes paro o que estou fazendo para vê-lo.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Clara completará três anos amanhã. No ano passado, vi uma publicação no Facebook de uma amiga nossa, colega de trabalho de Silvia, criticando na linha de “não se nasce mulher; torna-se mulher” que, entre outras coisas, geralmente as meninas só ganham bonecas e correlatos e decidi não fazer o mesmo. Há três dias, ao entrar numa loja de brinquedos para comprar presentes para Clara inicialmente pensava numa boneca, mas resolvi colocar aquela decisão em prática dando um conjunto de carrinhos, apesar de Silvia me questionar várias vezes se era isso mesmo que queria.