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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Passamos meu aniversário em Recife, minha melhor amiga não pôde ir, o que me entristeceu, mas deu o melhor presente que eu poderia ganhar nas atuais circunstâncias – as cartas que escrevi antes desta ter e-mail e que serão um material precioso para meu livro. Tais cartas começaram em 1989, resistiram a quatro mudanças de endereço desta amiga e me foram devolvidas quando já estávamos no carro, indo ao aeroporto para voltar a Curitiba.
Há seis dias, à noite nossa maior diversão é ler juntos tais cartas, que depois são fotografadas por Silvia e salvas na “nuvem” por mim. Essa leitura tem me despertado uma profusão de sentimentos que muitas vezes não consigo expressar, fico sem saber o que pensar. Para mim, o que mais se destaca é o quanto soube mudar meu modo de ser e de pensar, minhas ideias e atitudes, de acordo com as oportunidades que surgiram – sobretudo a psicoterapia, a difusão da Internet e o sucesso do meu site, em particular com as mulheres, na década de 1990 – e alcançar meus objetivos. Por outro lado, combinando o que lê nas cartas com suas próprias lembranças de quando éramos amigos virtuais, em 2000, Silvia me falou “você costuma conseguir o que quer” – obviamente, com ajuda de familiares, amigos, conhecidos e até estranhos. Sempre rejeitei, critiquei que me atribuam o rótulo de “vencedor”, entre outros, mas agora é assim que me sinto e, para aumentar a ironia, meu primeiro nome – que detesto e não uso – tem justamente este significado. É desconcertante!
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
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A principal conclusão a tirar do último post pode ser que é preciso vivenciar tudo que pode dar errado no desenvolvimento de uma criança para saber o quanto a “normalidade” é difícil, incomum, e valorizar esta. Talvez supusesse que não poderia gerar, criar e educar uma filha saudável e psicologicamente equilibrada, e um indício disso é a paranoia que tive após seu nascimento, de que ela pudesse ter alguma lesão cerebral. Assim, um dos motivos da minha felicidade por ter Clara é a surpresa com sua “normalidade”.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No fim de 2004, na primeira conversa com uma namorada fora da Internet comecei a descrever minha família, a cada problema que ouvia aquela exclamava “que legal!” e fui ficando invocado até termos um diálogo como este (esqueci as palavras exatas):
– Por que você acha “legal” cada problema da minha família? – perguntei.
– Porque todos são diferentes – essa namorada respondeu.
– Em que meu irmão é diferente? – o acho o único “normal” da família.
– É adotado.
Àquela época, para mim há muito a adoção dele já era trivial, mas ficou ressaltada para tal namorada porque preferia ter filhos adotivos a biológicos, como, aliás, Silvia (Freud deve explicar isso, embora eu não saiba bem como). Aquele episódio ilustra porquê, por ter paralisia cerebral e uma família cheia de problemas – além de considerações mais abstratas –, me desabituei com a normalidade ao ponto de precisar fazer esforço para não colocar aspas nessa palavra e sempre tenho em mente a frase de Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”.
O comportamento da primeira filha de Silvia é dificílimo e alguns aspectos deste foram absorvidos pela segunda, apesar de eu achar que, para ela, esta é a “filha ideal” – ou era antes dessa absorção. A própria Silvia é “normal” em tudo, menos no seu relacionamento comigo. Assim, ela também está um pouco desacostumada com a ‘normalidade”.
Na manhã desta terça, após comer sentada no chão Clara se levantou e foi botar o prato na mesa. Foi um gesto banal, mas depois tanto nossa empregada – cuja filha também é problemática – quanto eu o comentamos com Silvia, encantados, já que precisamos falar, repetir, nos esgoelar para as outras meninas o fazerem. Esse é só um dos exemplos de atitudes “normais” de Clara que deveriam passar despercebidos, mas que nos surpreendem. A “normalidade” pode ser bem estranha!
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Neste vídeo, Clara imita uma brincadeira do youtuber Luccas Neto.
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Em princípio, o tempo de recuperação da retirada da vesícula é 30 dias, nos quais o paciente só deve pegar 10kg no máximo. Assim, eu esperava ficar um mês sem pôr os pés fora de casa, mas já uma semana após a cirurgia Silvia começou a querer sair comigo, fiquei discordando até ela argumentar que o peso que suportaria ao andar comigo não excederia aquele limite, pois faço a maior parte da força necessária – só haveria o perigo de me desequilibrar (o que sempre pode ocorrer) e, nesse caso, ou ela teria de deixar me esborrachar no chão ou comprometer seriamente a cicatrização de seus cortes. Aceitei tal risco, fora um leve desequilíbrio ao entrar no carro nada de errado aconteceu e passamos algumas horas agradáveis numa livraria, ontem. E obviamente Silvia não deixou de brincar que estava morrendo de dor e rir da minha cara.
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Após o jantar, ontem fui para o computador, mas logo Clara começou a me chamar insistentemente para brincar. Foi uma alegria para mim, inclusive porque ela quis ficar no meu colo.
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Silvia retirou a vesícula nesta quarta e, nos dias anteriores, senti uma dorzinha no peito, sinal que estava mais preocupado do que tinha consciência. Quando decidimos não apelar a nenhum parente de fora de Curitiba, seu Complexo de Mulher Maravilha – contra o qual travo uma luta constante – e ser extremamente reservada a fizeram querer ficar sozinha no hospital, discordei, passamos semanas teimando até uma prima dela se propor a acompanha-la e ela não teve como recusar. Como a internação seria às 8h, o momento mais crítico do dia seria em torno desse horário, no qual nossa empregada e eu precisaríamos aprontar as três meninas para irem ao colégio, o que normalmente já é tumultuado.
Após acordar e ver que a mãe havia saído, Clara chorou um pouco, mas logo as irmãs a acalmaram. Não conseguimos que Clara comesse antes de sair, esta não quis entrar no carro da tia que a levaria, a empregada teve de ir também, enquanto eu mandava uma mensagem pedindo para o pessoal do colégio oferecer logo algum alimento. As filhas de Silvia brigaram por uns 20 minutos até eu poder controla-las e consegui que se arrumassem a tempo; a mais velha é que dá mais trabalho e nervosismo a Silvia nesse processo, mas recentemente descobri que, surpreendentemente, essa tarefa é bem mais fácil para mim e, nesse dia, não tive dificuldade para orientar essa enteada. As duas foram para a casa do pai, onde ficaram até hoje. À noite, nossa diarista dormiu aqui, na hora em que teve sono Clara se deitou no sofá e dormiu me acariciando. Durante a ausência de Silvia, estranhamente Clara ficou bem tranquila e acho que percebeu o que estava acontecendo.
O que mais me preocupava era o pós-operatório, já que Silvia tem quatro dependentes e não pode fazer esforço, e a maioria das precauções que tomei se referiram a este período – p. ex, já pedi àquela cunhada e nossa empregada para comprarem os alimentos que faltavam, para impedir Silvia de querer pegar o carro e sair dirigindo antes do recomendado pelo médico. Até agora, não houve problemas.
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