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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Passamos três dias em Brasília, visitando a família de Silvia. Ela deixou o carro no estacionamento do aeroporto de Curitiba, na saída do qual um guarda nos ajudou a ir ao balcão da companhia aérea, de onde um funcionário da Gol nos acompanhou até a entrada do avião, como recomenda a norma internacional. Ao aterrissarmos em Brasília, descumprindo tal norma o funcionário que nos auxiliou a sair do avião nos largou na saída do túnel móvel em vez de ir conosco ao menos até a esteira de bagagem, obrigando Silvia a andar um longo percurso conduzindo uma mala grande, uma mochila pesada e a cadeira de rodas com Clara no meu colo e, na volta, ninguém nos ajudou a transitar pelo túnel. Ao voltarmos para cá, a funcionária encarregada do nosso caso nos acompanhou até onde estava o carro cheia de simpatia, brincando com Clara, fazendo tudo para nos ajudar. Fiquei espantado com essa diferença no tratamento de pessoas de deficiência.
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Às vezes me orgulho de Clara ter aprendido organização comigo – embora duvide que essa característica será mantida –, mas percebi que o melhor que involuntariamente ensinei a ela, até agora, foi ser alegre. E fiquei pensando quantas pessoas que não me conhecem acreditariam que um homem com paralisia cerebral severa pode transmitir alegria à filha.
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A alegria, a brincadeira e bom humor parecem ser mesmo as principais ligações afetivas de Clara comigo.
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Ontem, recebi uma solicitação de “amizade” no Facebook de um homem com paralisia cerebral de 40 anos, casado, que está tentando ter um filho, não consegue, ele e sua esposa estavam imaginando que o impedimento poderia ter algo a ver com a PC, postou uma mensagem num grupo, alguém me mencionou e ele perguntou se fiz algum tratamento médico para gerar Clara. Respondi que não há relação alguma entre fertilidade e PC, que geramos uma filha simplesmente pelo sexo sem que eu quisesse ser pai – não contei que então estava com 51 anos – e que o problema talvez seja da sua esposa. São – ao menos para mim – as informações mais básicas e fiquei espantado, desconcertado que ninguém do grupo tenha dado a ele.
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Na semana passada, Clara me chamou muitas vezes de “tio”, como minhas enteadas fazem, apesar de saber desde os 2 anos que estas têm outro pai. Ela até pode estar me chamando assim por se confundir com as irmãs, mas é impossível, para mim, não pensar que é também por distanciamento afetivo nem me entristecer com isso.
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Clara vem dando algum trabalho para concordar em tomar banho. Agora à noite, ela estava resistindo a fazê-lo, a mandei falando com firmeza – os sons que emiti foram ininteligíveis para alguém de fora da família – e ela me obedeceu. Pode parecer um episódio trivial, mas, para mim, não o é porque tenho dificuldade em ser autoridade numa casa, pelas minhas limitações físicas, mudez, dependência financeira, a consciência que tenho destas, etc – mas muitas vezes não há alternativas melhores ou inexiste uma.
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Quando comento a tendência de Clara à organização, às vezes minha segunda irmã sugere que foi aprendida no colégio. Ontem, na hora em que Silvia foi busca-la lá, a professora elogiou Clara por ter sido a única aluna que ajudou a guardar as coisas, inclusive as que estavam sendo usadas pela professora. A escola pode tentar ensinar bons hábitos, mas terá pouco êxito se não houver ao menos um familiar alinhado com isso e a organização de Clara foi mesmo um ensinamento involuntário meu – nesse episódio, também acho que houve influência dos exemplos de solidariedade de Silvia, a quem Clara vê diariamente cuidar de mim. Só temo que Clara perca tal característica, porque quase todos os exemplos de que dispõe são contrários.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Clara vem se recusando a trocar carícias comigo, o que me entristece. Por outro lado, sou o familiar com quem mais brinca, o que até estranho porque esperava que fosse sua irmã mais nova, que é uma menina amável – esta é uma evidência de que sua alegria é um legado meu. Clara chegar a ser persistente para brincar comigo: ontem à noite, ela quis fazê-lo, mas perdi muito tempo tentando configurar a TV para tal enteada, quando terminei ela tinha pedido a vontade, hoje de manhã Silvia a levou para deixar a irmã no colégio e, ao voltar, foi logo brincando comigo – o mais espantoso é que ela conseguiu envolver na brincadeira nossa empregada, que não é dada a esse tipo de coisa.
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Quando Clara tinha dois anos ou menos, percebi que estava crescendo como uma criança feliz. Na época, Silvia duvidou dessa felicidade, porque achava necessário uma variedade de passeios, viagens, etc mais ampla do que podemos dar – esta projetou os próprios desejos na filha –, mas agora se rendeu às evidências: Clara é bem alegre, rir muito, brinca bastante e visivelmente aprecia a vida. É consenso que o principal motivo disso é eu ter legado meu bom humor e facilidade de rir – Silvia chegou a dizer que a risada dela é igual à minha –, mas acho também importante Clara ver a mãe feliz e rindo apesar das dificuldades do cotidiano.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Às vezes Silvia me chama de superpai, supermarido, Super Homem, gato, garanhão, cavalo, cachorro, coelho, grilo falante, besouro, tarado, bebum, vira-boca, monstro do Lago Ness e não lembro mais o quê😀
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