Na segunda, uma irmã quis que eu ajudasse a convencer meu pai a se isolar mais por causa da COVID-19 e me repassou um áudio do meu irmão que dizia que nossa irmã que tem deficiência estava gripada, o que me fez pensar na hipótese de ser a COVID-19 e não adiantou muito ele dizer, mais tarde, que poderia ser só uma alergia. Essa irmã tem deficiência cognitiva severa, frequentes doenças respiratórias, pouquíssima capacidade de comunicação, não consegue informar o que sente e geralmente troca vírus com meus pais, que têm mais de 80 anos e saúde frágil. Em Recife, o sistema de saúde já está quase em colapso, tive medo que esses três morressem e passei o resto daquele dia me sentindo fisicamente mal. Só na quarta é que me tranquilizei, ao fazer uma chamada de vídeo com minha família e ver que todos estavam bem.

Venho tomando vinho após o jantar e, na quinta, ao faze-lo percebi que é um luxo, principalmente numa pandemia, com tanta gente sofrendo e morrendo. Isso fez me tocar do quanto minha situação é privilegiada, inclusive por morar num estado e numa cidade que, ao menos por enquanto, estão controlando bem a COVID-19; e se ainda vivesse em Recife, a essa altura meus nervos estariam à flor da pele mesmo se meus familiares continuassem com saúde.

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