Como milhões de mães e pais, a pandemia nos colocou num dilema quanto à volta às aulas presenciais no início de fevereiro. Há unanimidade entre os pediatras que tal retorno deve ocorrer, mas notei inquieto que nenhum cita pesquisas científicas sobre a variante P1 em crianças e, de fato, ao responder um comentário meu no Instagram um deles disse que estas ainda não existem e que se baseiam só na prática clínica – mesmo assim, quando os vejo falando tenho a impressão de que se referem ao SARS-Cov2 em geral, e não especificamente à P1; mais tranquilizador é ver médicos enviarem os próprios filhos a colégios. Apesar disso, mandamos as meninas ao colégio, percebi uma melhora imediata no comportamento de Clara, em especial a recuperação de parte de sua independência perdida, e que ela estava sendo mais prejudicada pelo isolamento social do que imaginávamos.
Durante o carnaval, Clara passou um bom tempo brincando comigo, me dando a impressão de que sentiu minha falta. Na segunda-feira daquele período, a suspendi pelos quadris, o que ela achou muito divertido, ficamos cerca de uma hora nos embolando no chão, com brincadeiras que tipicamente os pais fazem com os filhos – mais brutas do que as das mães – sem ela se incomodar que às vezes eu a machucasse ou arranhasse involuntariamente. Enfim, Clara superou o medo do contato físico, corporal comigo, o que eu desejava há anos.
No fim daquele mês, as escolas do Paraná fecharam de novo. Quando o antigo colégio de Clara começou a dar aulas virtuais, ela as assistia com alegria mas, dessa vez, começou totalmente dispersa e até se negando a fazê-lo, o que nos perturbou demais. A primeira filha de Silvia tem, entre outros problemas, TDAH e muitas vezes esta vê um comportamento dispersivo de Clara como sinal desse distúrbio, o que não tem nexo e, mesmo também estando perturbado, tratei de acalmar esta. Nos dias seguintes, Silvia mais uma vez mostrou-se uma mulher incrível e, apesar de ter que trabalhar, foi conseguindo que Clara se concentrasse nas aulas. Na reabertura dos colégios, ficamos num vai-não-vai, desorientados, até que assumi a responsabilidade pelas meninas irem.
Na manhã desta terça, Silvia levou suas filhas ao dentista enquanto fiquei entretendo Clara. Brincadeiras de pai exigem muito fisicamente, pois suspender ou carregar uma criança de 17 kg cada vez mais ousada cansa demais, preciso prestar atenção em limitar minha descoordenação motora e me causaram uma distensão na coluna lombar. De novo notei que fica mais organizada quando minha presença se sobressai: nas semanas anteriores, ao tirar algo do baú de brinquedos Clara deixava uma bagunça mas, nesse dia, os guardou todos, só tirou uma boneca e até ajeitou as almofadas – ao saber disso, Silvia me falou “você é o brinquedo dela, não precisa de outros”. Clara gostou tanto que, após as aulas da tarde, veio me chamar dizendo “vamos brincar de fazenda, você é o cavalo” e se montou em mim – ela já aprendeu com a mãe a me sacanear!
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