Há poucos meses, Silvia perguntou se Clara gosta de ter um pai com deficiência e a resposta foi um “sim” categórico. Além de ser desconcertante, aquilo me deixou preocupado por esta ainda nada ter sentido de toda a carga de preconceito e discriminação que existe contra pessoas com deficiência – ou talvez esteja sendo pessimista demais, já que, nesse aspecto, a situação melhorou muito desde a minha infância.

Nossa empregada é evangélica, meio assustada por minha simpatia por personagens diabólicos, ao ver uma propaganda do último filme de Hellboy brincou que eu deveria fazer um assim e Clara respondeu que o papel poderia ser de “vampirinho cadeirante”! Não me considero especialmente alegre, e sim risonho e parece que isso infundiu alegria e bom humor nela.

Quando Clara nasceu, decidi que seria um pai carinhoso e afetuoso, como fizeram muitos homens da minha geração, ao menos na classe média urbana, em reação à dificuldade dos próprios pais de lidar com sentimentos e emoções. Não vi ou esqueci completamente do bilhete ao lado de Dia dos Pais até, na semana passada, Silvia chamar minha atenção para ele e, para mim, o que mais se destacou foi Clara dizer que sou amoroso. Esse episódio me lembrou de uma foto da sua formatura na educação infantil em que ela estava chorando porque ia se afastar das professoras com quem tinha passado um ou dois anos, a qual me levou a comentar num grupo familiar “Clara é amorosa”. De vez em quando digo a Silvia que Clara nos espelha, nos vemos nela.

*clarices: atitudes e coisas de Clara.

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