Na primeira reunião festiva que tivemos com os moradores do nosso condomínio, inicialmente só me ofereciam refrigerantes, os quais, aliás, costumo evitar devido a problemas gástricos. Para desmanchar ideias pré-estabelecidas sobre quem tem paralisia cerebral, pedi cerveja e Silvia emendou que gosto muito de quase todo tipo de bebida alcoólica, especialmente cachaça – não sei se foi uma boa ideia. Algumas reuniões depois, assim que me viam perguntavam logo se queria cachaça, o que na festa de carnaval do condomínio ensejou o seguinte diálogo (as palavras não foram exatamente estas):

– Já peguei a imagem de cachaceiro aqui também – eu disse meio constrangido.
– Pois é – Silvia respondeu.
– Mas também acho que já ganhei a simpatia de muita gente. Acho que sou fascinante para algumas pessoas.
– Por que você acha que me casei com você?

Não gosto de chamar atenção, prefiro passar despercebido. Assim, no penúltimo domingo fomos a uma festa junina num restaurante com um estilo do sertão nordestino, ao qual Silvia queria ir há meses, e fiquei surpreso com quantidade de pessoas que foram falar conosco, fazer alguma pergunta ou interagir de outro modo (como o dançarino que conduziu minha cadeira no meio da quadrilha, mostrado no segundo vídeo), além de me divertir com o espanto ao saberem que é minha esposa; tais abordagens também aconteciam em Curitiba e Recife, mas eram mais esporádicas, embora neste apresentaram um pico quando tive outra namorada bonita. Deve ser mesmo fascinante ver um homem com paralisia cerebral severa se divertindo num lugar público, alegre, dançando e acompanhado de uma linda mulher!

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