No início do mês, Silvia foi jantar com uma amiga e Clara de novo dormiu no sofá acariciando minha cabeça, falando que estava fazendo “um carinho gostosinho”. No resto de janeiro, ela adormeceu duas vezes da mesma forma apesar de Silvia também estar no sofá, mostrando que Clara realmente gosta de fazer isso desde que haja sossego em casa, o que é impedido pela presença das suas irmãs – o problema não é só a agitação destas, mas também que geralmente não há espaço para me aproximar do sofá.

Clara também adora andar no meu colo na cadeira de rodas, no que insiste – tanto por gostar quanto por preguiça – até quando preferimos que ande com as próprias pernas.

O medo acentua a descoordenação motora de pessoas com paralisia cerebral. No tempo em que Clara era bebê, o temor de machucá-la, a consciência da descoordenação e desse fator agravante frequentemente me inibiam de acaricia-la. Agora esse medo acabou, mas, sempre que tento, ela rejeita meu toque porque, embora só tenha a machucado em pouquíssimas ocasiões e nunca com gravidade, os movimentos bruscos que eu fazia a assustavam e a marcaram.

Em resumo, Clara até me faz algumas carícias, mas não me deixa tocá-la – exceto na cadeira de rodas – e não sei como mudar esta situação.

?>