No penúltimo sábado à noite, Silvia quis ir à Casa do Papai Noel, uma exposição natalina em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Logo que entramos lá, comecei a temer que minha cadeira de rodas virasse com Clara no meu colo, porque o terreno era cheio de aclives e declives e as junções das lajes tinham muitos desníveis, fazendo as rodas dianteiras se engancharem nestas com frequência – só conseguimos andar pelo parque porque incontáveis pessoas nos ajudaram, como é típico dos curitibanos, embora o atendimento que recebemos dos funcionários da entrada tenha sido péssimo. Fiquei o tempo todo preocupado em segurar firme uma mão na outra em torno de Clara, até nos trechos planos do caminho, nos quais era desnecessário. À medida em que o tempo passava e nada de errado acontecia, me perguntava porque continuava tenso, perturbado – era intuição de pai! Quando já estávamos indo à saída do parque, Silvia se lembrou que faltava pegar a foto que tiramos com o Papai Noel, ao subirmos um aclive mais acentuado ela quis mudar de direção e perdeu o controle da cadeira, que virou de lado – mas a força que ela fez atenuou a queda, a roda lateral e minha espasticidade (rigidez muscular) me impediram de sofrer um impacto no chão e meu rígido braço direito protegeu Clara, de modo que esta só levou um susto e eu, um arranhão superficial na mão. O nervosismo resultante me deu uma forte dor de cabeça.
Silvia gosta de filmes de terror e eu, não. Após chegarmos em casa e Clara ir dormir, concordei em assistirmos um baseado num livro de Stephen King, um escritor que ela também gosta, que era tão escabroso que eu virava a cabeça para não ver algumas cenas e levou ela própria a se sentir mal. Não pude deixar de exclamar “que noite horrorosa!”.