- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Tenho cinco filmes com personagem com paralisia cerebral, dos quais o mais famoso é Meu Pé Esquerdo. O primeiro amor de quase todos esses personagens foi sempre pela primeira pessoa da mesma faixa de idade que os tratou como gente, o que também aconteceu comigo. Me pergunto se tais filmes indicam um padrão geral.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No início de setembro, tive uma gripe com infecção de garganta, a qual continuou ruim porque tenho refluxo estomacal. Meus espirros, fungados e tosse impediam Clara, nossa filha, e portanto Silvia de dormir, a aproximando de uma estafa e a solução foi eu passar a noite ora no quarto de suas filhas nos dias em que estas ficavam com o pai, ora num colchão no chão do escritório. Este é estreito, quando me virava no colchão frequentemente batia com a mão nos móveis, em vários dias me acordava com dores nas costas e até com uma distensão muscular.
A parte de trás do apartamento dos meus pais, em Recife, tem um quarto no qual todos da família detestam dormir e é onde eu o farei se voltar para lá – quero passar o resto da vida com Silvia, mas sei que isso pode não acontecer. Num período em que o ex-marido dela fez um tratamento de saúde, não pôde ficar com suas filhas, tive de dormir continuamente no escritório e percebi que era pior do que naquele quarto. Fiz esse comentário a Silvia, mas de modo tão controlado que ela não se deu conta do quanto minha paciência com aquela situação – e outros problemas – estava chegando ao limite e até pensou que eu estivesse brincando. De qualquer forma, ela também começou a se incomodar com a situação, quando minha garganta ficou boa resolvemos voltar a dormir juntos. Devido a uma rinite alérgica, desvio de septo nasal e outros motivos, à noite minha respiração é ruim e meio barulhenta, com o que Silvia e Clara se desacostumaram e tive de retornar ao escritório algumas noites. Tomei remédios para rinite por três dias e, após quase dois meses, finalmente conseguimos dormir juntos de novo.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Hoje, faz um ano que Silvia e eu nos casamos informalmente – apenas colocamos alianças e mudamos o status de relacionamento no Facebook. Foi rápido demais, drástico demais, muitas vezes me pareceu uma loucura e que acabaria num desastre. Desde então, tivemos alegrias, tristezas, dificuldades, momentos maravilhosos, situações de pânico, etc, como todo casal. Agora, tenho certeza que foi a melhor coisa da minha vida, estou casado com uma mulher que me encanta por sua força, beleza, brincadeiras de menina, capacidade de amar, etc.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Ontem à noite, Silvia foi levar a diarista que nos auxilia ao ponto de ônibus, antes de sair colocou um gorro na cabeça da nossa filha e a deixou comigo no carrinho. Em pouco tempo, o gorro começou a descer na cabeça da bebê, estava cobrindo os olhos e indo para o nariz, com esta já agitada. Pensei em tirá-lo, mas o gorro impedia que a cabeça encostasse na lateral dura do carrinho. Se levasse a mão direto ao gorro provavelmente machucaria a bebê, tentando conter o temor de bater nesta apoiei a mão na lateral – fechei a cadeia cinética, no jargão da biomecânica – e puxei o gorro para cima; quando completei o processo – que repeti várias vezes – exclamei “que medo!”.
Frequentemente, quem tem paralisia cerebral precisa pensar previamente para conseguir fazer movimentos que são triviais para as outras pessoas.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Em geral, os bebês passam a observar objetos e interagir com o pai no segundo trimestre de vida, mas, embora ainda não tenha três meses completos, nossa filha já faz ambas as coisas há semanas – ela começou a interagir comigo já com 70 dias. Várias vezes ao dia, balanço, sacudo e mesmo bato em brinquedos, de modo a mantê-la entretida para ajudar Silvia. Virei um móbile!
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Hoje de manhã, Silvia saiu para fazer compras e deixou nossa filha comigo. Suas duas filhas passaram o fim de semana com o pai, chegaram a nosso apartamento, quiseram que eu brincasse com elas, concordei porque não é bom deixar crianças sem um adulto por perto e para não atrapalharem o trabalho da empregada e a mais velha arrastou o bebê-conforto da nossa filha até o quarto delas. Após uns quinze minutos, a mais velha ameaçou brigar com a irmã e comecei a me preocupar em como proteger a bebê se as duas se atracassem de fato. Mas possivelmente por saber que as impeço de se baterem sempre que posso, a mais velha logo se conteve, depois a outra ficou abraçada comigo, talvez em busca de proteção, além de carinho, e dali a pouco Silvia voltou – que alívio! De algum modo consegui dar conta de três meninas!
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Quando ainda estávamos namorando e pensando em nos casarmos, uma das mil advertências que fiz a Silvia foi que teria de me alimentar enquanto ela própria comia, com rapidez suficiente para chegar a tempo ao trabalho e/ou ao colégio de suas filhas, o que a fazia brincar que já tinha sido mulher-polvo, alimentando as duas e a si simultaneamente. Não podia imaginar que, com todas as minhas limitações, passaria por uma experiência parecida!
Para mim, às vezes é muito difícil dissociar os movimentos de várias partes do corpo – p. ex, mexer só um braço – e ficar parado com algum objetivo. Nesta tarde, para permitir a Silvia fazer outras coisas fiquei embalando (com uma mão) nossa filha no carrinho, sempre que parava esta acordava ou chorava, para conseguir que ela me barbeasse tive de parar a cabeça no encosto da cadeira enquanto continuava embalando com um pé. Mais frequente é embalá-la ao mesmo tempo que como, embora ao custo de me engasgar mais.f
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Nossa filha nasceu com hipoglicemia, a qual poderia ter causado uma lesão no cérebro e fiquei com uma paranoia contida de que tivesse paralisia cerebral – era algo irracional, pois a pediatra que a acompanha é excelente e teria nos avisado de qualquer sinal dessa deficiência. Devido à falta de experiência e informação, nos meus primeiros seis de vida meus pais nada viram de errado comigo e, só quando foram para Fortaleza, é que uma tia minha percebeu, porque eu não sustentava a cabeça. Na segunda consulta, a pediatra estranhou que nossa filha ainda não levantava a cabeça quando ficava de bruços e recomendou a botarmos nessa posição, senão poderia demorar a engatinhar. Ao fazermos isso, ela passou vários dias sem conseguir erguer a cabeça, o que intensificou a paranoia, até que teve êxito e esta se desfez – foi um alívio!
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Está se tornando frequente nossa filha rir e balbuciar para mim e, às vezes com uma ponta de ciúmes, Silvia brinca que nos comunicamos numa língua própria e exclusiva.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Nas duas primeiras consultas da nossa filha com a pediatra, fomos acompanhados e ajudados pelo meu irmão – que nos aconselhou a não irmos sozinhos – e por uma irmã de Silvia. Na primeira delas, entramos no consultório em si sozinhos, com nossa filha num bebê conforto, este no meu colo e Silvia empurrando minha cadeira de rodas. Achei que também podia fazer assim todo o trajeto do estacionamento ao consultório, já que a calçada da rua é boa e tem rampa, temendo só descer esta – mas a descida de ré foi segura. Hoje, nossa filha completou dois meses, tinha outra consulta, resolvemos ir sem ajuda, Silvia teve certo trabalho para nos colocar e tirar do carro e tivemos êxito.
Apoie este blog pelo Pix