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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Tenho dificuldade de expressar agressividade, raiva, irritação, aborrecimento e emoções correlatas, por vários motivos: a dependência física e econômica; a impossibilidade de falar, que me obriga a usar formas de comunicação menos espontâneas; a necessidade de controlar a atetóide (movimentos involuntários) e a espasticidade (rigidez muscular), o que faz sempre precisar me controlar emocionalmente para poder me expressar; a prancha alfanumérica que é meu principal meio de comunicação torna complicado fazer uma narrativa ou detalhar muito um assunto, me fazendo ser conciso demais. Quando a calma forçada ou voluntária da minha comunicação impede os outros de compreenderem como estou me sentindo, os problemas persistem e aquelas emoções se acumulam, às vezes digito um texto-bomba que dá vazão a estas e pega o destinatário de surpresa ou até o assusta, mas é mais frequente isso gerar problemas gástricos.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Ontem, fomos a um shopping center para cortar meus cabelos. Logo que entramos, uma vendedora de uma ótica na qual comprei um óculos nos reconheceu e que nos abordou perguntando pelo bebê que, então, estava na barriga de Silvia. Senti vontade de dar o endereço deste blog, mas fiquei na dúvida se essa pessoa não trabalhava noutra ótica onde recebi um atendimento ridículo – após nos despedimos, percebi que não era o caso ao vê-la entrar naquela primeira ótica.
Ao terminar de cortar meus cabelos, sem imaginar que sou casado o cabelereiro me falou “agora você pode paquerar as gatinhas”, mostrei minha aliança, o que o fez dizer “ih! A ‘polícia’ está por perto”, ao ver Silvia voltar ele emendou “a ‘polícia’ chegou” e ficamos rindo a deixando sem entender porquê. Esses papos masculinos me fazem falta.
Em Curitiba, se mantem as crianças acreditando em Papai Noel por muito mais tempo que no Nordeste, o que acho estranho. Após saímos do salão de beleza, Silvia levou suas filhas para tirar foto com o Papai Noel do shopping e queria a todo custo que eu também o fizesse apesar dos meus protestos, mas na hora H deixou isso para uma ocasião em que Clara esteja conosco. Fiquei pensando se há um jeito de escapar desse mico.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Tenho um desvio na coluna, o que somado à postura com que me sento me causa dores nas costas. Em Recife, fazia muitas atividades que reduziam e até eliminavam tais dores: tinha uma “bola de Bobath” na qual alongava as costas assim que me acordava de manhã; deitava de bruços algumas vezes ao dia, embora isso haja se tornado meio difícil após começar a ter refluxo; e fazia natação, fisioterapia e equoterapia. Nesse aspecto, em Curitiba a situação tem sido mais difícil: quando procuro uma cama para ficar de bruços, muitas vezes todas estão com uma pilha de coisas em cima; só venho conseguindo ir à natação num mês em cada quatro ou cinco e último foi julho; meu plano de saúde reduziu as sessões de fisioterapia domiciliar de três para duas; e é inviável praticar equoterapia. Assim, desde setembro tais dores aumentaram bastante. Comecei a me obrigar a ter paciência de desocupar minha cama quando quero me deitar de bruços, me apoiar no sofá para alongar as costas e, no verão, talvez possa nadar na piscina do condomínio onde moro, já que esta terá aquecimento. O tempo dirá se essas medidas diminuirão as dores.
Tudo na vida tem um custo – não existe almoço grátis, como dizia Milton Friedman. Essas dores são parte do custo de ter me mudado para Curitiba e constituído uma família.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Silvia e eu mal dormimos na noite deste domingo, por causa de Clara. Em geral, só me deito após ela botar esta no berço, mas estava tão cansado que adormeci logo, enquanto Silvia foi até a uma hora da madrugada com esta. Em seguida, mudei de posição na cama, fiz algum barulho que acordou esta, zangada Silvia disse que ia dormir no sofá e que cuidasse de Clara. Como já havia conseguido uma vez que esta dormisse no berço e para atenuar a situação, comecei a chacoalhar este com a perna, embora me machucasse um pouco, até esta dormir, voltei a me deitar, mas não peguei mais no sono. Em torno de mais uma hora, Clara acordou de novo, Silvia voltou ao quarto, combinamos que eu chacoalharia o berço de novo enquanto ela tentaria dormir, mas estava sem ver o rosto de Clara, parei antes de esta firmar o sono, começou a chorar e passamos outra noite sem dormir direito.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
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Tenho cinco filmes com personagem com paralisia cerebral, dos quais o mais famoso é Meu Pé Esquerdo. O primeiro amor de quase todos esses personagens foi sempre pela primeira pessoa da mesma faixa de idade que os tratou como gente, o que também aconteceu comigo. Me pergunto se tais filmes indicam um padrão geral.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No início de setembro, tive uma gripe com infecção de garganta, a qual continuou ruim porque tenho refluxo estomacal. Meus espirros, fungados e tosse impediam Clara, nossa filha, e portanto Silvia de dormir, a aproximando de uma estafa e a solução foi eu passar a noite ora no quarto de suas filhas nos dias em que estas ficavam com o pai, ora num colchão no chão do escritório. Este é estreito, quando me virava no colchão frequentemente batia com a mão nos móveis, em vários dias me acordava com dores nas costas e até com uma distensão muscular.
A parte de trás do apartamento dos meus pais, em Recife, tem um quarto no qual todos da família detestam dormir e é onde eu o farei se voltar para lá – quero passar o resto da vida com Silvia, mas sei que isso pode não acontecer. Num período em que o ex-marido dela fez um tratamento de saúde, não pôde ficar com suas filhas, tive de dormir continuamente no escritório e percebi que era pior do que naquele quarto. Fiz esse comentário a Silvia, mas de modo tão controlado que ela não se deu conta do quanto minha paciência com aquela situação – e outros problemas – estava chegando ao limite e até pensou que eu estivesse brincando. De qualquer forma, ela também começou a se incomodar com a situação, quando minha garganta ficou boa resolvemos voltar a dormir juntos. Devido a uma rinite alérgica, desvio de septo nasal e outros motivos, à noite minha respiração é ruim e meio barulhenta, com o que Silvia e Clara se desacostumaram e tive de retornar ao escritório algumas noites. Tomei remédios para rinite por três dias e, após quase dois meses, finalmente conseguimos dormir juntos de novo.
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Hoje, faz um ano que Silvia e eu nos casamos informalmente – apenas colocamos alianças e mudamos o status de relacionamento no Facebook. Foi rápido demais, drástico demais, muitas vezes me pareceu uma loucura e que acabaria num desastre. Desde então, tivemos alegrias, tristezas, dificuldades, momentos maravilhosos, situações de pânico, etc, como todo casal. Agora, tenho certeza que foi a melhor coisa da minha vida, estou casado com uma mulher que me encanta por sua força, beleza, brincadeiras de menina, capacidade de amar, etc.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Ontem à noite, Silvia foi levar a diarista que nos auxilia ao ponto de ônibus, antes de sair colocou um gorro na cabeça da nossa filha e a deixou comigo no carrinho. Em pouco tempo, o gorro começou a descer na cabeça da bebê, estava cobrindo os olhos e indo para o nariz, com esta já agitada. Pensei em tirá-lo, mas o gorro impedia que a cabeça encostasse na lateral dura do carrinho. Se levasse a mão direto ao gorro provavelmente machucaria a bebê, tentando conter o temor de bater nesta apoiei a mão na lateral – fechei a cadeia cinética, no jargão da biomecânica – e puxei o gorro para cima; quando completei o processo – que repeti várias vezes – exclamei “que medo!”.
Frequentemente, quem tem paralisia cerebral precisa pensar previamente para conseguir fazer movimentos que são triviais para as outras pessoas.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Em geral, os bebês passam a observar objetos e interagir com o pai no segundo trimestre de vida, mas, embora ainda não tenha três meses completos, nossa filha já faz ambas as coisas há semanas – ela começou a interagir comigo já com 70 dias. Várias vezes ao dia, balanço, sacudo e mesmo bato em brinquedos, de modo a mantê-la entretida para ajudar Silvia. Virei um móbile!