Em geral, a paralisia cerebral causa deformações ósseas e distorce as expressões faciais, tornando muito difícil a quem a tem se encaixar em algum critério de beleza. Ainda assim, algumas pessoas com PC preservam sua beleza senão no corpo, ao menos no rosto, mas o preconceito de que isso é impossível é tão forte que acabam o introjetando a ponto de não crerem no que veem no espelho. Ao longo da minha vida, às vezes alguém me achava bonito e eu nunca acreditava; quando recebia uma sugestão para melhorar minha aparência, em geral dava de ombros pensando algo como “besteira, sou feio mesmo e nada que possa fazer vai mudar isso”– na prática, tomava uns poucos cuidados com a aparência; e, em certa fase, ficava escrachando minha aparência diante do espelho.

Todo mundo considera Clara linda e, sobretudo após recuperar uma foto de quando eu tinha uns sete meses nos braços da minha mãe, muito parecida comigo. Quando postei no Facebook uma foto de Silvia com Clara nos braços, ninguém menos que minha melhor amiga falou como se a beleza desta fosse uma herança exclusivamente materna e, naquela primeira foto, como se os genes da beleza – nem sei se existem – tivessem sido transmitidos diretamente da minha mãe para nossa filha, sem passar por mim!

Ao discutirmos essa questão meses atrás, me surpreendi com Silvia dizendo “se não lhe achasse um gatinho eu não estaria com você” – ela deve ter dito que me acha bonito muitas vezes antes, mas como também falava que não procurava beleza nos homens, tais elogios passaram despercebidos. Há algumas semanas voltamos à questão e ela lembrou que suas filhas também me acham bonito e que crianças não mentem a esse respeito. Se Clara é linda, é porque ambos pais – embora especialmente Silvia – são bonitos.

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