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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Nesta manhã, enquanto fazia fisioterapia embalei nossa filha no carrinho, chegando a conseguir que ela dormisse, para Silvia poder aprontar suas filhas para irem ao colégio. A fisioterapeuta até notou que eu estava surpreendido por poder fazer essas duas coisas ao mesmo tempo apesar de todas minhas limitações físicas.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Consigo pronunciar de modo inteligível apenas uns poucos mono e dissílabos, a expressão mais longa que posso falar é um conhecido xingamento de quatro palavras e, se tiver tenso demais, não emito sons compreensíveis. Até por falta do que dizer, quando nossa filha olha para mim frequentemente fico falando “papai”. Ao ouvir isso pela primeira vez, Silvia respondeu “safado, você quer que ela comece a falar ‘papai’ antes que ‘mamãe’”. Não era esta minha intenção, mas se acontecer vou adorar.
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Eu me derreto todo ao chegar perto da nossa filha, o que não elimina o fato de que não queria ser pai e que estar nesta condição me assusta demais. Uns 95% das pessoas que me veem dizer isso reagem como o avestruz da lenda – enfiam a cabeça num buraco para não ver o que acontece. Essa atitude de avestruz ficou muito ressaltada numa recente conversa com minha melhor amiga na qual, após perceber como realmente me sinto, de certo modo esta foi intolerante e brutal e voltou rapidamente a enfiar a cabeça no buraco. Acho notável esse exemplo da dificuldade humana de lidar com quem é ou pensa diferente! Silvia – como as outras mulheres que se relacionaram comigo – não tem tal atitude de negação e é a única com quem consigo conversar a respeito.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
A fragilidade da minha filha, que ainda não tem um mês de vida, me faz ficar tenso quando a pego com medo de apertá-la excessivamente ou ela cair dos meus braços, o que aumenta minha espasticidade (rigidez muscular) e isso torna real o risco de machucá-la. Portanto, oportunidades como as mostradas nestas fotos ainda são raras. Espero que o crescimento dela e o uso de um sling mudem tal situação.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Queria que nossa filha se parecesse com Silvia, para herdar sua beleza. Sou um péssimo fisionomista e não consigo ver semelhança alguma entre uma recém-nascida e seus pais, mas quase todo mundo acha nossa filha parecida comigo, o que deixava Silvia invocada porque a carregou por nove meses e, no fim, pouco puxou dela. Ela ficou querendo rejeitar tal semelhança até tirar as fotos abaixo. Então, Silvia disse que foi só uma “hospedeira” para mim, o que fez me sentir como o extraterrestre do filme “Alien, o Oitavo Passageiro”!
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Cinco dias após o nascimento da nossa filha, Silvia e eu fomos ao Tabelionato Santa Quitéria para registrá-la. Há uma vaga de estacionamento para pessoas com deficiência em frente a esse tabelionato, a qual estava ocupada por três motos, o que nos obrigou a parar a dezenas de metros e, no terreno ondulado de Curitiba e com Silvia se recuperando de uma cesariana, só não foi um problema porque meu irmão estava conosco e conduziu a cadeira de rodas.
Após me fazer várias perguntas para verificar se sou responsável pelos meus atos, a funcionária que nos atendeu disse que precisaríamos de três testemunhas, uma para “assinar a rogo” por mim e as outras para o registro civil. Não poder fazer uma assinatura num documento devido à descoordenação motora é um eterno problema para mim. Não há motivo técnico para não se permitir o uso da impressão digital ou, como em alguns países, um carimbo reconhecido em cartório nos atos da vida civil – mas este é um problema da legislação brasileira. Nesta, porém, as duas testemunhas mencionadas pela funcionária só são necessárias ao registro civil se não houver a Declaração de Nascido Vivo, a qual temos – ela falou que o cartório estava seguindo o Estatuto do Tabelionato, mas este sequer menciona a palavra “testemunha”. Não temos tempo para uma disputa jurídica com o tabelionato, pois nossa filha precisa ser registrada para se tornar dependente no plano saúde de Silvia.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Minha melhor amiga e meu irmão chegaram a Curitiba em 9 e 27 de julho, respectivamente, para nos ajudar no nascimento da nossa filha. Na primeira hora do dia 29, Silvia me acordou dizendo que estava saindo muito sangue e água de seu corpo. Nossa cama é alta demais e quase me esborrachei no chão ao ir chamar aqueles – depois Silvia passou a rir disso. Ela ligou para seu obstetra que, após as contrações começarem, a mandou ir à maternidade. Trocamos de roupa com pressa controlada, meu irmão foi dirigindo o carro orientado por ela, nos perdemos e só achamos a maternidade na segunda tentativa.
O médico de plantão constatou que Silvia estava mesmo em trabalho de parto. O obstetra e a pediatra logo chegaram, tendo o máximo empenho e atenção conosco. Havia uma dúvida se eu desmaiaria se presenciasse o parto, como ocorre com grande parte dos homens. Silvia sempre quis que o visse, eu nunca a deixaria sozinha nesse momento e não desmaiei. Nossa filha nasceu duas horas depois. A pediatra constatou que esta talvez tenha uma pequena má formação no quadril e ainda não sabemos em que medida seu pequeno tamanho será um problema. Enquanto Silvia está feliz e às vezes brincando que se arrepende de ter feito laqueadura de trompas – duvido que seja mesmo brincadeira –, meu estado de espírito é mais ambivalente – ora sinto felicidade e alegria, ora apreensão e medo, e meu nível de stress está bem alto, talvez por me ressentir de poder cuidar tão pouco das duas diretamente.