- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Muitos casos de paralisia cerebral, como o meu, têm vários efeitos negativos sobre o sistema respiratório, gerando frequentes problemas neste. Também tenho alergias a inúmeras coisas e, na maior parte da vida, sofri de asma – em algumas crises, cheguei a precisar de injeções de adrenalina. No fim dos anos 1970, de vez em quando alguém aconselhava minha mãe a me botar na natação, o que foi feito na década seguinte. Como mostra o vídeo, aprendi a fazer só um arremedo dos nados peito e crawl, sendo a maior limitação não conseguir tomar ar sem pôr os pés no piso da piscina.
Enquanto fazia natação, não tive asma e as outras doenças respiratórias tornaram-se bem raras, embora a piscina onde a praticava não tivesse aquecimento e cobertura – a água ficava gelada no inverno. Em 1988, quase morri afogado num clube, em seguida minha mãe percebeu que a ponta dos meus dedos ficava roxa ao sair da piscina e cismou que isso se devia a um hipotético problema circulatório causado pelo afogamento – para mim, a causa era a temperatura gélida da água, mas mesmo assim ela me tirou da natação (um dia, quero escrever sobre quanto é difícil alguém com PC aprender a enfrentar os familiares, sobretudo a mãe). A asma voltou, embora menos que antes, e a frequência das doenças respiratórias aumentou, o que nenhum remédio resolvia.
Em meados dos anos 2000, voltei à natação – dessa vez, numa piscina aquecida e coberta –, graças a amigos que pagavam uma parte do custo desta e do táxi, que meu pai assumiu anos depois. Junto com um tratamento para renite alérgica – que me causava uma coriza constante, que era um caldo de cultura para vírus e bactérias – e a vacina antigripal, esse retorno quase eliminou meus problemas respiratórios por um longo tempo, os quais só voltaram a ter alguma gravidade quando meu refluxo gástrico começou.
Tem sido difícil conseguir ir à natação em Curitiba. Fui uns poucos meses em 2015 e em julho do ano passado, quando meu irmão estava aqui. Em março, cheguei a me esquematizar para ir à noite com a diarista que nos ajuda, mas constatei ser impossível porque Silvia precisou se dedicar muito mais à filha maior e, assim, não pode dar conta de três meninas sozinha – Silvia teimou que pode, mas não me convenceu. Espero que a vacina contra pneumonia, além da antigripal, a prevenção do refluxo e alguma fisioterapia respiratória compensem a falta da natação.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
O novo berço de Clara não pode ser balançado e a tarefa de fazê-la dormir à noite voltou a ser exclusivamente de Silvia, que demorava de 30 a 60 minutos para consegui-lo quando nossa filha estava saudável, o que já era cansativo – se estivesse doente, levava até quatro horas, era exaustivo e às vezes desesperava Silvia. Clara passou a ter doenças respiratórias sucessivas após começar a ir a um berçário, em março pegou uma gripe que se tornou uma bronquiolite e Silvia dormiu mal várias noites. Por outro lado, sua filha maior tem um comportamento bem complicado, que gera situações difíceis e até arriscadas, o que vinha se agravando desde o início do ano.
Nesse contexto, no terceiro fim de semana de março Silvia quase teve uma estafa e, no dia seguinte, comecei a ter uma dor intermitente no peito seguida de aperto ou pressão no local. Ao longo da vida, em situações extremas às vezes tinha sensações semelhantes, consultava um cardiologista, ele nada encontrava e concluía que era só stress – ainda assim, farei outra consulta, inclusive pela idade com que estou. Se for mesmo stress, o problema deve ser que Silvia ter um esgotamento é meu maior temor e vê-la no limite faz me sentir impotente e assustado.
Silvia encontrou vários modos de atenuar muito o comportamento da sua filha maior. E há dois dias, descobrimos que, à noite, posso fazer Clara adormecer no carrinho – o que leva menos de cinco minutos, mesmo se estiver doente – e depois Silvia a colocar no berço sem acordá-la. Também venho botando minhas enteadas para dormir – nesse caso, ficando no quarto delas para impedir que brinquem, briguem ou façam qualquer coisa que não pegar no sono. Assim, saímos da situação crítica.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
O Livox usa um motor de voz, eu pensava que a velocidade de síntese de voz era configurada nesse segundo aplicativo, não tinha sucesso, ficava muito rápido e de pouca utilidade para mim. Só há dois meses é que, ao ver um post do blog, seu desenvolvedor me disse que a velocidade é determinada no próprio Livox, que então passou a emitir voz de modo facilmente inteligível.
Pouco tempo após começarmos a morar juntos, Silvia e eu transformamos o menor quarto do apartamento num escritório, onde eu passava grande parte do dia usando meu desktop ou lendo. Em fevereiro, o reconvertemos no quarto de Clara e fizemos da varanda meu escritório. Quando estou aqui, Silvia na sala e não há muito barulho nesta, tenho usado o Livox para nenhum de nós precisar se deslocar até o outro. No resto do apartamento, continuo usando a prancha de comunicação, que é fácil de eu arrastar engatinhando e com a qual converso mais rápido.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Agora, está ficando fácil ficar com Clara no E.V.A e mesmo colocá-la sentada, embora com um “abraço de urso” de vez em quando. Ela fica tão à vontade que nem liga para a mãe. E, como muitos pais, às vezes me derreto todo com seu desenvolvimento.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Estou começando a aprender a lidar com a movimentação de Clara, ao menos no chão, embora ainda aperte ou machuque um pouco quando ela está de barriga para baixo e tenho de botá-la sentada – ela choraminga, mas logo se acalma.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Hoje faz dois anos que Silvia e eu nos encontramos pessoalmente pela primeira vez, cheios de dúvidas, incertezas, insegurança, medo – ao menos da minha parte e me sentia até em risco de vida –, anseios, expectativas, desejos, etc. Os primeiros dias foram bem difíceis, quase acabaram em fracasso. Mas o amor foi mais forte, além de ter gerado uma filha linda como a mãe.
Apoie este blog pelo Pix
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Clara está na lalação, uma das fases iniciais da aquisição da fala, emitindo sons como “ma ma ma”,”pa pa pa” e outros parecidos. Acho provável que fale “mamãe” primeiro, já que é muito mais ligada a Silvia, o que não me impede de tentar que seja “papai”, até para tirar onda com esta.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Semanas atrás, fomos a uma doceria, Clara ficou irrequieta nos braços de Silvia a ponto de ela ter de se levantar para dar um giro pelas redondezas, para ver se nossa filha se acalmava, e lutou para conseguir comer e dar minha comida; assisti tudo sem poder fazer nada, pois, se pegasse Clara no colo, esta ia chorar ou poderia cair, o que fez me perguntar se Silvia não estaria melhor com um homem sem deficiência. No início do nosso casamento, Silvia me passou a responsabilidade de controlar suas finanças e as senhas de sua conta, e quando passamos por problemas financeiros às vezes me penso se não era preferível ela haver se casado com um homem mais bem remunerado.
Silvia está feliz como nunca na vida, queria mesmo um homem com deficiência – e outras características –, tem orgulho de mim e de ser minha esposa, vez por outra alguém que a conhecia antes me diz que devolvi sua alegria de viver, seu sorriso, etc. Em contextos como os descritos acima, preciso me esforçar para manter tudo isso em mente e não imaginar que sou um estorvo, uma mala sem alça para ela – o mesmo acontecia quanto a meus pais e irmãos. Tais sentimentos são comuns em pessoas com deficiência.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Vem se tornando comum eu sair, a passeio ou não, com Clara no colo enquanto Silvia conduz minha cadeira de rodas. Nessas saídas, é interessante, às vezes impressionante, o quanto os outros dizem que Clara é linda, inclusive comentando entre si, ou a elogiam em algum outro aspecto, o que me enche de orgulho. Mas, dadas as imagens que a sociedade faz de quem tem paralisia cerebral – assexuado, cognitivamente deficiente, etc –, também fico me perguntando quantas dessas pessoas concluem que sou o pai desta, ao invés de, p. ex., um irmão de Silvia levando a sobrinha no colo.
- Detalhes
- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Numa conversa, só digo palavrões em relação a um assunto ou a terceiros, quase nunca com meu interlocutor, nem mesmo como elogio. Isso ocorre mesmo quando estou com raiva, embora nessa situação mais pela dificuldade de me expressar, a qual gera uma defasagem entre o que sinto e penso e minha comunicação – obviamente, em pensamento xingo os outros e as coisas ao ser contrariado, como todos fazem. Essa inibição voluntária ou forçada contribui para meus problemas gástricos. Talvez fosse salutar poder dizer palavrões vez por outra, tanto que, em algumas ocasiões em que fico sozinho em casa, abro o Livox, digito alguns, na hora que começa a falar logo caio na gargalhada e repito por um bom tempo – que leseira! Caso se torne meu principal meio de comunicação, como desejo há tempo, cogito em criar um diretório no Livox só com palavrões pré-gravados de modo a reduzir aquela defasagem – ou, nesse caso, será melhor continuar sem poder falar?