Consciência das Limitações do Pai

Criado: Domingo, 31 Dezembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Clara parece estar começando a ter consciência das minhas limitações e necessidades: ontem à tarde íamos sair, Silvia trocou minha roupa, saiu do quarto e Clara me deu a mão para andar comigo, gesto que repetiu na sala; e hoje, ela trouxe minha prancha de comunicação para perto de mim e ficou a apontando com o pé, como se quisesse conversar comigo.

Porto Seguro

Criado: Segunda, 25 Dezembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Faz uma semana que, sempre que Silvia sai, Clara acaba vindo para meu colo, às vezes permanecendo muito tempo. Parece que, na falta da mãe, sou o porto seguro dela.

Reaproximação

Criado: Segunda, 27 Novembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Talvez por ter encontrado novos meios de brincar com Clara, seu distanciamento de mim já começou a se reverter, voltando a falar “papai”, vir espontaneamente para meu colo e, ontem, passou a me abraçar e beijar.

Primeiros Cuidados da Filha

Criado: Sábado, 25 Novembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Há uns dois meses, Clara começou a ensaiar cuidar de mim, tentando me vestir, alimentar, levantar, limpar, etc. A princípio, ficamos surpresos, mas logo Silvia percebeu que em toda sua ainda curta vida Clara a viu fazendo tais coisas e é natural que a imite.

Continuando a Cuidar da Filha

Criado: Terça, 21 Novembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Neste domingo, Silvia foi ao sorteio do amigo secreto do condomínio em que moramos e, o que sempre me deixa apreensivo, fiquei sozinho com Clara. Entreti ela com brinquedos sonoros e, depois, veio se deitar no meu colo. Então lembrei que, em junho, quando estava aprendendo andar temi que não pudesse mais cuidar dela – mas, ao contrário, isso se tornou mais fácil. E tenho a impressão de que, quando preciso evitar que Clara se machuque, minha coordenação motora melhora, inclusive apresentando reflexos incomuns.

Passeio pelo Mercado Municipal

Criado: Quinta, 09 Novembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Adoramos o Mercado Municipal de Curitiba e fomos lá ontem. Antes, passamos numa loja de artigos de confeitaria na rua ao lado, a vendedora que nos atendeu percebeu que somos casados e deixou Silvia contente por não haver pensado que sou seu filho, o que não impediu aquela de falar “(coi)tadinho” e perguntar se nos casamos antes de eu adquirir a deficiência – depois, dentro do Mercado Silvia me disse “tadinho é porque ela não sabe como você é safado”. Ao nos sentarmos para comer uma torta, segurei firme no braço de Silvia, ela falou que gosta da minha “pegada” e fiquei muito surpreso, pois até então pensava que fazia esta com força e descontrole demais, de modo que não era agradável. Quando andávamos no Mercado, um vendedor evangélico me disse “Jesus te ama” e pensei “e o Diabo também” – que maldade a minhalaughing

Idolatria

Criado: Sexta, 03 Novembro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Às vezes, algum conhecido, amigo ou parente meu – não meus pais e irmãos – fala como se botasse Silvia num pedestal, a idolatrasse ou algo parecido, e eu devesse fazer o mesmo, por ter se casado comigo. No início do nosso relacionamento, também às vezes eu fazia esse movimento, mas sua própria paixão por mim o interrompia, pois significava que eu não estava abaixo dela – na época, fui até pretensioso em algumas ocasiões. Recentemente, ao conversarmos sobre os motivos de sua atração por mim, a própria Silvia riu dessa atitude porque, quando me procurou, foi por interesse próprio e não por bondade. De fato, ela me acha bonito, tem desejo por mim, gosta do meu corpo, etc; eu mesmo estranho suas preferências, mas esta é uma questão de gosto pessoal. Se eu adotasse aquela atitude, nossa relação não seria equilibrada e saudável – de qualquer forma, tenho senso crítico demais para idolatrar alguém, inclusive a mulher da minha vida. Curiosamente, não vejo o mesmo tipo de discurso nas pessoas relacionadas com Silvia – obviamente, isso não significa que não ocorra, pois pode ser um viés da minha percepção.

Sexualidade Rejeitada

Criado: Sábado, 28 Outubro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Sempre fui afirmativo quanto à minha sexualidade, lutei para ter uma vida sexual por mais que causasse atritos e brigas com minha mãe e incomodasse a família, mas em 1998 entrei na onda dos meus pais de que era melhor suprimi-la, por vários motivos. À época, era uma amiga homossexual – que também era amiga da família apesar do conservadorismo dos dois – que me levava a prostibulos, esta foi morar com uma mulher, deixou de me prestar esse favor e fiquei sem sexo por muito tempo. Como consequência, quando ejaculava involuntariamente à noite meu semem saia com sangue e logo pensei em câncer da próstata, até o urologista que consultei dizer que a causa era escamação da vesícula seminal por acúmulo de líquido. Estava apaixonado por uma mulher, que até me correspondeu mas era incapaz de ter um relacionamento com um homem com deficiência e nada houve entre nós, o que foi muito doloroso. E precisar de prostitutas pode fazer mal à autoestima de um homem.

Por tudo isso, pensei que era melhor não ter sexualidade – como se fosse possível! – e não ligar mais para o sexo. Então, quando ia começando uma ejaculação involuntária noturna tinha uma contração muscular que impedia a saída do semem e que ia até panturrilha da perna. Voltei ao urologista e ele não soube explicar o que acontecia – só após o problema ser resolvido é que concluí que era um mecanismo psicológico para negar a necessidade de sexo.

Ironicamente, quem resolveu o problema foi minha mãe. Fiquei esperando uma oportunidade de expor a situação para a amiga citada, pessoalmente ou por carta. Ela havia me apresentado um conhecido que tinha uma paralisia cerebral leve, que nos convidou para seu casamento religioso. Nessa cerimônia, não vi oportunidade alguma de abordar o assunto e deixei para fazê-lo por carta. Essa amiga nos deu uma carona para casa, estava com uma menina de uns 12 anos de sua família e minha mãe – que às vezes ignora totalmente as normas sociais e fala as coisas mais inconvenientes de modo cru – simplesmente pediu com todas as letras que ela me levasse para transar, a assustando tanto que ela quase perdeu o controle do carro e me fazendo passar uma das maiores vergonhas da minha vida! Fui ao prostibulo temendo muito ter aquela contração na hora H, mas não foi o que ocorreu.

Tive o insight de digitar este post há três dias, mas relutei em fazê-lo pelo avanço do obscurantismo e do (falso) moralismo no Brasil. Acabei decidindo publicá-lo porque não me exporia mais do que noutros textos do blog, para me opor a esse movimento, embora de forma modesta, e para ajudar outras pessoas com PC a lidar com sua sexualidade, algo quase sempre difícil. De qualquer modo, se não teimasse, insistisse em exercer minha sexualidade, contra alguns aspectos da moral tradicional, não teria me casado e gerado uma filha.

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Casamento Montanha Russa

Criado: Domingo, 22 Outubro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

No início deste mês, nosso casamento informal fez dois anos – começamos a morar juntos três meses antes. Silvia me perguntou se achava que esse tempo tinha passado rápido, como o foi para ela, ou havia sido uma eternidade. Não gostei dessas metáforas, pois vejo tal período como uma montanha russa na qual momentos em que uma catástrofe parece iminente – e fico estressado a ponto de medir minha pressão arterial com frequência, consultar um cardiologista, etc – alternam-se com outros de grande alegria, júbilo, satisfação, embora o sentimento subjacente a esses altos e baixos seja de felicidade e vitória. E ao meu amor somou-se uma grande admiração por ela.

Distanciamento da Filha

Criado: Quarta, 18 Outubro 2017 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Às vezes, me emociono só observando Clara fazer as coisas mais triviais, mas sua ligação comigo nunca foi forte porque não posso a alimentar, banhar, vestir e, pelo perigo de machucá-la, fazer muitas carícias e brincadeiras. Após Clara passar a ficar oito horas no berçário, tal ligação se enfraqueceu muito – ela praticamente deixou de me acariciar, falar “papai”, etc –, pois quase não há mais tempo para ficarmos juntos. De fato, recentemente Clara passou uma semana com amidalite, tive de ficar bastante tempo cuidando dela, inclusive para Silvia manter um ritmo mínimo de trabalho e não correr risco de ter uma estafa – eu é que tive um mal-estar depois de três noites quase sem dormir –, e várias vezes ela espontaneamente veio para meu colo, mas depois que curou-se voltou a não querer saber muito de mim. Fico triste com esta situação e o que me anima é lembrar que, quando vim morar em Curitiba, as filhas de Silvia tinham 4 e 6 anos e bastou dar carinho para estas gostarem demais de mim – espero que o distanciamento de Clara se reverta do mesmo modo.