Fazendo Questão pelo Pai

Criado: Terça, 12 Junho 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Pela primeira vez, Clara está fazendo questão pela minha presença fora do horário de dormir. Às vezes ela me chama e, quando já estou ao seu lado, reclama, chora se eu tentar ir fazer outra coisa. Além de ser uma alegria para mim, isso tem reduzido bastante a carga de Silvia.

Montado pela Filha

Criado: Segunda, 11 Junho 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Humanização

Criado: Sábado, 09 Junho 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

O tom triste do último post teve o propósito de quebrar o triunfalismo excessivo que, senti, estava dando ao blog e que contraria o que acabou sendo o meu principal objetivo de mantê-lo – humanizar as pessoas com paralisia cerebral. Afinal todo mundo enfrenta revezes no cotidiano.

Pequeno Acidente Doméstico

Criado: Quinta, 07 Junho 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Hoje de manhã, sentei no chão ao lado de Clara para vermos vídeos do Youtube, ela se levantou, pegou minhas mãos para dançar comigo, fiquei numa posição instável, virei para trás e a derrubei – nada sofri, enquanto ela bateu a cabeça na porta corrediça de um móvel sem maiores consequências. Clara foi chorando até a escola e Silvia acha que foi porque me viu cair, não por ter batido a cabeça. Como às vezes digo neste blog, sempre há o risco da descoordenação motora me levar a machucá-la, embora esta, creio, tenha sido só a quarta vez que isso aconteceu. O que era algo emocionante acabou mal e me chateei muito.

Não dou Trabalho?

Criado: Segunda, 04 Junho 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Ouço a estranha frase “você (ou ele) não dá trabalho” dos meus familiares há não sei quanto tempo, talvez desde que tinha 25 ou 30 anos. Tomada literalmente, é infundada porque me alimentar, banhar, vestir, etc, implica em trabalho. Até recentemente, imaginava que trazia implícita uma comparação com as crianças, que frequentemente fazem birra. Há décadas, meus irmãos e eu nos preocupamos com como fariam para cuidar de mim e da minha irmã que tem deficiência quando nossos pais não estivessem mais vivos, questão que vem voltando à tona, para animá-los venho dizendo que o problema está resolvido no que me refere, ao que meu irmão respondeu que cuidar de mim tem aspectos prazerosos e divertidos – creio que Silvia diria o mesmo, inclusive porque sua expectativa inicial era que eu fosse um chato no cotidiano. De fato, faço o máximo para facilitar a vida do cuidador do momento, sou paciente, bem-humorado, tolerante, sem hábitos muito rígidos, etc – essas e outras características beneficiam minha convivência com os outros. Mas dou trabalho, sim.

Senso de Tempo

Criado: Quinta, 24 Maio 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Clara não voltou mais a me abraçar espontaneamente após a última sexta-feira, o que reforça a hipótese de que soube que era meu aniversário e indica que já possui um senso de tempo que os bebês não têm. Meses antes, sua madrinha tinha dito que ela é superdotada, achei um exagero, e agora insistiu na ideia, ainda sem me convencer. Será que Clara vai ser física e estudar a natureza do tempo?wink

Aniversário

Criado: Sexta, 18 Maio 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Hoje é meu aniversário e o de casamento dos meus pais, que se casaram um ano antes do meu nascimento. Fico triste por não estar em Recife e sobretudo pela situação difícil em que estão, além dos possíveis desdobramentos – nesta semana, até tive de intervir pelo WhatsApp para resolver um problema específico, a pedido do meu irmão. Porém, acho que se sentem recompensados quanto a mim, pois superei todas suas expectativas.

De manhã, do nada Clara me deu um abraço – o melhor que poderia receber hoje –, depois me acariciou e fiquei pensando se percebeu que é meu aniversário. Ela deve ter uma ideia do que é aniversário pela experiência da escola e daqui de casa e talvez ouvido Silvia falar do meu, mas bebês não têm senso de tempo e, naquele momento, ela ainda não havia visto alguém, inclusive a mãe, me parabenizar.  Se Clara teve tal percepção, não sei como foi.

Reaproximação

Criado: Domingo, 13 Maio 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Como disse noutro post, o uso do tablet estava fazendo Clara se reaproximar de mim. Essa reaproximação se consumou e já não é totalmente dependente do tablet – tem acontecido de Clara ficar muito tempo comigo sem ligar tal dispositivo. Estou feliz com isso.

Sensibilidade

Criado: Sexta, 11 Maio 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Amanhã, íamos passar uma semana em Recife, viagem que foi marcada em março e que tivemos de cancelar porque quase todos adoecemos, inclusive Silvia, e por vários problemas com meus pais e irmãos. Fiquei bem triste.

Ao ser colocada no berço para dormir, em geral Clara passa um bom tempo balbuciando, rolando, brincando de dar os pés para eu acariciar, etc. No entanto, na noite do dia do cancelamento ela foi logo se aquietando para dormir, três ou quatro vezes achei que ela tinha caído no sono, mas quando tentava sair do quarto a ouvia falar "papai, papai, papai..." e tinha de voltar. Só consegui que Clara dormisse quando vi que estava percebendo minha angústia e tratei de me acalmar.

Como não imaginava que uma bebê de um ano e dez meses pudesse ser tão sensível ao estado emocional do pai, narrei o episódio no grupo do WhatsApp sobre Clara. Sua madrinha – uma fonoaudióloga que é uma das minhas melhores amigas e já trabalhou e estudou muito sobre bebês – ressaltou a sensibilidade não de Clara, mas a minha, dizendo que muitos pais não percebem que suas emoções afetam seus bebês.

Recordações num Parque

Criado: Sexta, 04 Maio 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Fomos ao Parque Barigui no último sábado e ficamos ao lado do restaurante no qual me despedi do meu irmão, quando ele veio nos ajudar no início da vida de Clara, o que me trouxe à memória o estado de espírito com que eu estava na ocasião; o pânico não expresso por estar numa condição – a paternidade – que sempre quis evitar a todo custo, a suposição de que nada poderia fazer para cuidar dela, o medo de Silvia ter uma estafa, de que nosso casamento fosse inviável e eu ter de voltar para Recife, etc. Tudo aquilo foi somatizado na boca cheia de aftas, zumbido nos ouvidos, rigidez muscular tão alta que às vezes quase impedia de me mover. Mas aquele estado de espírito também incluía não ser homem de fugir da raia – a exemplo do meu pai –, a determinação de não abandonar a mulher que amo e a minha filha, de fazer o (supostamente) pouco que podia e ficar alerta para as possibilidades de ampliar minha participação, que se tornou bem maior do que eu podia imaginar – mas é óbvio que vencemos o desafio muito mais pela força e a capacidade de Silvia.

Hoje, acho que haver tido Clara foi a melhor coisa da minha vida e não sei traduzir em palavras o contraste entre esta situação de felicidade e aquele estado de espírito.