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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Clara teve um problema nos olhos – que pensamos ser conjuntivite, mas o oftalmologista disse que era uma alergia –, passou dois dias sem ir à escola, ontem minha fisioterapeuta mais uma vez a aproveitou como instrumento de trabalho e um dos exercícios foi brincar de cavalinho.
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Nesta manhã, nos dirigimos à garagem do nosso prédio, Silvia me deixou na cadeira de rodas enquanto colocava Clara no carro, esta pensou que eu ficaria sozinho ali, começou a chorar, aquela a acalmou falando que eu sairia com ambas e Clara disse “Naldo, senta aqui (no carro)”. Silvia foi no carro comentando que não sabia se essa preocupação de Clara comigo – que começou já no seu terceiro semestre de vida – é boa ou ruim e concluiu que não deverá ser um peso, pelo meu bom humor e riso fácil – esta já adquiriu a segunda característica. Desde a gravidez, eu não queria que tal preocupação existisse, ainda mais tão cedo, mas não sei como evitar, pois Clara percebe perfeitamente minha vulnerabilidade.
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Nesta manhã, haveria uma exposição na escola de Clara com trabalhos de alunos e professores sobre alguns países. Pela pouca importância que ela me dá – que às vezes imagino ser quase inexistente – e o esforço que Silvia faria para me aprontar e conduzir a cadeira de rodas, cogitei não ir achando que Clara seria indiferente à minha presença ou ausência – acabei indo. Esperamos um pouco no pátio com ela no meu colo, em seguida entrou com uma professora e, quando me viu entrando na sala de sua turma, Clara ficou tão surpresa e alegre que quis voltar para meu colo – minha alegria com tal reação foi maior que a dela.
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Clara ter deixado de dormir comigo complicou bastante nossas noites e fiquei pensando em como minimizar isso. As filhas de Silvia vinham fazendo muito tumulto na hora de dormir, levando Clara a demorar para adormecer, e um dia decidi ficar no quarto das duas para que se aquietassem logo – minha intenção era efetuar uma intervenção pontual, mas se tornou permanente. Ambas sempre gostaram que eu as botasse para dormir, porém, dessa vez, enquanto a mais nova adorou meu retorno ao seu quarto e está adormecendo em poucos minutos, a mais velha o repudiou – Silvia acha que o motivo é implicância com ela e a irmã, mas não tenho certeza de que o problema não é (ou era) mesmo comigo, embora não se manifeste em nenhum outro momento; de qualquer forma, esse repúdio parece ter sumido nos últimos dias.
Essa troca de tarefas reduziu os danos de Clara passar a dormir com Silvia, mas não os eliminou e um destes é aquela se distanciar de mim, para minha tristeza.
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De um ano e meio a três anos é a “idade da birra” dos bebês e, após nos metermos em várias situações complicadas, passamos uns seis meses evitando sair com Clara, o que só começou a mudar há dez dias. Ontem, fomos a um shopping center cujo piso superior tem uma área ao ar livre para soltá-la lá. Já que o objetivo era este, comecei a me afastar conduzindo a cadeira de rodas com meus pés, mas Clara sempre falava "volta papai, volta papai" e às vezes ia até onde eu estava para me levar para perto – tendo a me sentir sem importância para ela e episódios como este mostram que não é bem assim. E sua beleza ainda é suficiente para fazer algumas pessoas chegarem a nos dizer que ela é linda, para orgulho do pai
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O furo na meia é para me permitir usar o tablet com o dedão do pé.
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Gosto demais dos Tribalistas e, ao saber que dariam um show em Curitiba no fim de agosto, na Pedreira Paulo Leminski – que eu ainda não conhecia –, compramos os ingressos há quatro meses. Duas semanas antes do evento, tive uma infecção de garganta que fez Silvia começar a relutar em ir, preocupada com minha saúde, ainda mais após Clara também adoecer. Fazia uns vinte anos que Silvia não ia lá e pensava que a acessibilidade ainda era péssima – na verdade, a Pedreira se preparou bem para receber pessoas com deficiência e, em particular, a plataforma reservada a estas é o melhor local para ver um show, desde que não chova, outra preocupação nossa. No dia do evento, o boleto do plano de saúde de Silvia pareceu indicar que um familiar seu tinha ficado sem cobertura, o que a deixou desesperada e levou dois dias para saber que não. Por tudo isso, só fomos ao show porque insisti bastante, até contra minha própria relutância, pois além de querer muito vê-lo, havia um mês que não saia de casa – situação frequente para quem tem paralisia cerebral – e detesto jogar dinheiro fora. Valeu a pena, foi um dos shows que mais curti, embora teria sido melhor se Silvia estivesse bem.
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Na década de 1980, havia três crianças pequenas na minha família, uma experiência tão difícil que decidi que nunca, jamais teria filhos – minha paralisia cerebral era um reforço a tal decisão, não o motivo principal. Na época, parecia que o mais provável era não ter qualquer relacionamento com mulheres e demorou muitos anos para a questão deixar de ser abstrata.
O melhor exemplo daquele horror à paternidade ocorreu em 2004, ao me encontrar com uma namorada loira e linda, bem o biotipo mais valorizado no Ocidente. Ao saber que eu não transava sem preservativo, ela quis que fizéssemos isso. Em vez de cair num oba-oba fiquei alarmado com a possibilidade de engravidá-la, em todos os dias que passamos juntos ela se esqueceu de tomar o anticoncepcional e todos os dias o lembrei, peguei no seu pé. Depois, a repreendi por esse esquecimento sistemático e ela respondeu que não podia engravidar por ter endometriose, argumento que não me convenceu – de fato, após seis anos ela teve uma filha sem fazer tratamento algum (pensei que havia escapado...). E o motivo mais imediato que ela deu para acabar o namoro comigo foi minha recusa a ter filhos.
Outro exemplo é que, quando Silvia e eu começamos a namorar, confiamos que os problemas do seu útero – entre outros, também endometriose – impediriam uma gravidez, após nosso segundo encontro pensou que poderia estar grávida, tirou onda – talvez já após o teste dá negativo –, mas não achei a menor graça, dei uma bronca nela e decidimos que Silvia passaria a usar anticoncepcional – evidentemente nada disso certo.
No dia em que soubemos que tínhamos gerado Clara, meu pânico foi total, não consegui dormir um minuto e, nas duas semanas seguintes, fiquei à beira da depressão a ponto de Silvia se preocupar em sair comigo para ver se eu reagia. Também fiquei apavorado em seu primeiro mês de vida.
Com o tempo, comecei a me derreter só por ouvir Clara me chamar de “papai”, Silvia passou a fazer afirmações como “nunca vi um pai tão apaixonado pela filha”, etc. Essa mudança não foi instantânea, automática, demorou um semestre e, no fim desse período, nosso casamento chegou a ficar estremecido. Já escrevi sobre os fatores básicos dessa mudança noutro post, mas o que foi dito ali não explica muito meu processo de transformação interna, que não consigo detalhar – e, se conseguisse, talvez não quisesse expô-lo a público. O certo é que considero Clara a melhor coisa que me aconteceu.
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No meio do ensaio fotográfico que publiquei no último post, viemos a nosso prédio para pegar um tubo de água com sabão para Clara brincar com as bolhas e não vimos que a porta da escada estava aberta. Ao sairmos de novo, Clara correu na frente, de repente a ouvimos chorar, percebemos que havia caído da escada – que é alta –, ficamos apavorados, pensando que ela teria de ir a um hospital, mas nada sofreu de grave. Clara deve ter descido grande parte da escada e caído só nos últimos degraus.
Ontem à noite, Silvia acompanhou nossa diarista à garagem para liberar o carro desta, me deixando sozinho no quarto com Clara, com a luz apagada. Clara começou a chorar pela mãe, o que junto com a escuridão me fez demorar a notar que tinha se montado na grade do berço, correndo o risco de dar uma queda feia – para o qual estou alerta há meses –, então tratei de empurrá-la para dentro do berço, situação se repetiu uma ou duas vezes. Fiquei tão nervoso que demorei para ter coordenação motora para acender a luz e, quando Silvia chegou, meu coração ainda estava acelerado. Por insistência minha, decidimos trocar o berço por uma cama.
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Este ensaio fotográfico foi feito por Taciana Grabowski Trevisan no início do mês.