O útero de minha esposa tinha pólipo, mioma e endometriose, chegou a pensar em retira-lo e nunca conseguiu engravidar. Ela sofreu demais no seu primeiro casamento devido a grandes problemas de saúde do ex-marido. Muitas vezes eu ligava uma coisa à outra, pensando que quando tivesse um relacionamento mais satisfatório seu útero melhoria. Ela fez novos exames em agosto, que mostraram que os problemas do seu útero simplesmente desapareceram, o que o ginecologista dela considerou um milagre e falou que a mandaria repetir os exames se não tivesse confiança absoluta no médico que os fez.

Sempre fui muito cuidadoso em evitar engravidar uma mulher, pois não queria ser pai por motivos que não se reduzem às minhas limitações físicas, embora após fazer 50 anos às vezes tivesse alguma tristeza por não haver tido um filho até então. Após nosso primeiro encontro, sua menstruação atrasou e, quando o teste de gravidez deu negativo, ela ficou arrasada em vez de aliviada. Também atrasou após o segundo encontro, ela brincou com a possibilidade de gravidez, não achei a menor graça e acertamos o uso de anticoncepcional. Mas seu corpo teve uma reação muito adversa, inclusive um sangramento constante, e ao chegar a Curitiba em julho aceitei que ela o interrompesse confiando que os problemas do útero dela impediriam a gravidez. Há cinco anos, ela fez três inseminações artificiais no primeiro casamento, todas fracassaram, até a extração dos óvulos foi difícil porque ela pouco os produzia e um médico disse que estava entrando na menopausa – por essas razões, não pensamos em outro método contraceptivo ao saber que o útero havia ficado bom e ela acabou engravidando há poucas semanas; não imaginávamos que o amor dela por mim mudaria tanto o funcionamento de seu corpo.

Minha esposa e eu ficamos assustados demais. Sempre a adverti que não temos condições (físicas, financeiras, etc) de termos um filho, ao menos agora, mas ela o desejava de forma impressionante e só se tocou do que eu dizia no último domingo. Ela ficou tão apavorada que quis que eu voltasse para Recife, embora logo tenha mudado de ideia, e também achei que não havia outra saída. Retomamos a calma ao percebermos que não havia necessidade de nos separarmos e, desde então, começamos a ter alegria com este filho, mas ainda estamos cheios de preocupações, dúvidas, medos e apreensão.

Na minha vida toda, só soube de três casos de pessoas com paralisia cerebral grave que tenham tido filhos, um dos quais foi num documentário americano da década de 1990 – nos casos em que a PC é leve, deve ser mais frequente. Tenho uma coleção de filmes com personagens com paralisia cerebral, o mais famoso é Meu Pé Esquerdo e o único que tem o tradicional happy end - os outros terminam com um toque de angústia. Mesmo o personagem deste não chega à paternidade, o que mostra o quanto isso é raro. Brinquei com minha esposa que minha vida merecia um filme.

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