Fomos ao Parque Barigui no último sábado e ficamos ao lado do restaurante no qual me despedi do meu irmão, quando ele veio nos ajudar no início da vida de Clara, o que me trouxe à memória o estado de espírito com que eu estava na ocasião; o pânico não expresso por estar numa condição – a paternidade – que sempre quis evitar a todo custo, a suposição de que nada poderia fazer para cuidar dela, o medo de Silvia ter uma estafa, de que nosso casamento fosse inviável e eu ter de voltar para Recife, etc. Tudo aquilo foi somatizado na boca cheia de aftas, zumbido nos ouvidos, rigidez muscular tão alta que às vezes quase impedia de me mover. Mas aquele estado de espírito também incluía não ser homem de fugir da raia – a exemplo do meu pai –, a determinação de não abandonar a mulher que amo e a minha filha, de fazer o (supostamente) pouco que podia e ficar alerta para as possibilidades de ampliar minha participação, que se tornou bem maior do que eu podia imaginar – mas é óbvio que vencemos o desafio muito mais pela força e a capacidade de Silvia.

Hoje, acho que haver tido Clara foi a melhor coisa da minha vida e não sei traduzir em palavras o contraste entre esta situação de felicidade e aquele estado de espírito.

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