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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Em Recife, raramente tinha pesadelos, que demoraram anos para acontecer, e aqui em Curitiba se tornaram frequentes. O motivo é a sensação de insegurança gerada pela mudança para cá: lá tinha uma vida relativamente estável, numa cidade conhecida, amparada pela minha família, com amigos e, desde 2010, bem satisfatória; aqui tive de começar tudo do zero, só agora estou começando amizades, longe dos familiares, contando só com Silvia, uma mulher maravilhosa e muito forte, mas de carne e osso, tem quatro dependentes e pode eventualmente sofrer um esgotamento. Racionalmente, sei que tal comparação é em parte ilusória e, pouco antes de vir para cá, percebi que aquela vida em Recife não duraria muito, sobretudo pela deterioração da minha estrutura familiar – o que de fato ocorreu.
Na madrugada do último domingo, Silvia foi ao banheiro, demorou muito para voltar e, nesse ínterim, pensei que pudesse estar se sentindo mal. Nada houve de errado com ela, mas foi o suficiente para eu demorar a dormir de novo e ter dois pesadelos: no primeiro, Silvia morria num acidente de transito, fui chamado para reconhecer o corpo e um conhecido jornalista, cujo blog leio diariamente, entrevistava um perito, que dizia que o acidente foi causado por excesso de cansaço e que talvez ela estivesse viva se eu tivesse ficado em Recife; no segundo, Silvia tinha um escritório de advocacia perto de um campo de treinamento do Exército – do qual meu pai foi oficial, carreira que talvez eu seguisse se não tivesse deficiência – e uma bomba gigantesca explodia, danificando seriamente seu escritório. Para mim, esses dois pesadelos significam que ainda luto para não me sentir um estorvo para Silvia, embora tenha plena consciência da felicidade que dou a ela. Também exemplificam o aspecto mais insidioso de um preconceito – no caso, o de que alguém com deficiência não pode fazer bem, feliz um homem ou mulher –, que é ser introjetado pelas pessoas contra as quais é direcionado.
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Gosto mais de vôlei masculino do que de futebol. Na Copa do Mundo de 2014, não fiz a menor questão de ir aos jogos de Recife e não seria diferente se a seleção brasileira tivesse jogado lá mas, ao saber que a última etapa da Liga Mundial de Vôlei deste ano seria em Curitiba, quis ir inclusive porque seria uma oportunidade única.
Ao ver a tabela, inicialmente planejei ver só as classificatórias do Brasil. No dia do primeiro jogo, Silvia precisou trabalhar, fui com a diarista que nos ajuda e seu filho – logo que decidimos que iria com eles, Silvia cismou que eu poderia paquerar alguém no estádio, um absurdo tão grande que só pude morrer de rir –, ao chegar na catraca do estacionamento da Arena da Baixada soubemos que só esta e eu poderíamos entrar e o menino teria de passar pela bilheteria, o que criaria uma situação bem complicada – felizmente a funcionária obteve autorização para deixa-lo entrar. Fui ao segundo com Silvia e tivemos de sair após o quarto set para buscarmos Clara no berçário – de qualquer forma, àquela altura o Brasil já estava classificado.
Então quis ir à semifinal, mas a perdi porque pensei que seria no sábado – era na sexta –, nada combinei com a diarista e Silvia teve de trabalhar. Ao saber do horário da final, 23h, feito para os europeus assistirem – que o público local se dane -, em princípio achei impraticável ir, mas Silvia insistiu que eu não poderia perder essa chance única e nos acertamos com a diarista. Quando fui comprar o ingresso, não havia mais vaga na pista e relutantemente adquiri na arquibancada, de onde a visão deveria ser ruim. Por isso e pelo frio, na hora H Silvia quis desistir, mas não concordei porque perderia o dinheiro, a ideia foi dela e tinha a esperança – que se mostrou fundamentada – que ainda houvesse lugares vagos na pista. Cheguei à Arena com a sensação de que poderia ser uma ideia de jerico, ao passar pela catraca perguntei se a arquibancada tinha lugar para pessoas com deficiência, responderam que não havia a menor condição de eu ir para lá mas, antes de começar a me arrepender, a funcionária disse que tentaria arranjar lugares para nós e conseguiu – ficamos na pista pelo preço mais barato! Só faltou o Brasil vencer! Voltei para casa feliz e emocionado porque, graças ao amor de Silvia, realizei mais um sonho que considerava impossível até há pouco.
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Recentemente, uma mulher com paralisia cerebral, dois anos mais nova que eu, me perguntou qual é o segredo para obter um grande amor e tive muita dificuldade para dar respostas, pois não tenho uma fórmula mágica, uma receita pronta para isso – e ver a vida como contingencial e tendo um elemento irredutível de acaso não ajudou a responder. Possuo alguns atrativos, como inteligência, bom nível cultural, humor – inclusive para rir de mim mesmo –, escrever bem, lucidez, espírito forte, etc, que surpreendem em alguém com PC. Fui completamente excluído do sistema de ensino, sendo alfabetizado numa clínica de reabilitação, na qual estudei algum tempo e, depois, passei dois anos com uma professora particular – era de se esperar que mal soubesse escrever. Também se espera que quem tem uma deficiência severa viva se lamuriando, em vez de até fazer piada dos próprios insucessos.
Talvez tais características expliquem que meu site haja atraído muitas mulheres entre 1999 e 2009, assim como chamei alguma atenção em vários tipos de fóruns de discussão – era involuntário e provavelmente não tenho consciência de tudo que meus textos transmitiam a elas. Antes daquele período, algumas poucas mulheres de baixa renda ficaram curiosas para saber como é transar comigo, uma de classe média com quem eu tinha uma relação profissional, que requeria que escrevesse uma carta por semana, se apaixonou por mim e vice-versa, mas não foi capaz de ter um relacionamento comigo, e tive outra paixão meio secreta e não correspondida. Quando o foco da Internet mudou para redes sociais – nas quais meu perfil é só um entre bilhões –, aquela janela de oportunidade se fechou, embora talvez pudesse ser diferente se tivesse participado mais de grupos de discussão. Este blog só despertou o interesse de uma única mulher, de uma forma que me irritou – não dá para saber se essa falta de interesse feminino deve-se ao meu casamento ou se ele não causa a mesma reação do site.
Muitas vezes me senti frustrado ou mesmo triste por não conseguir seduzir fora da Internet, mas, apesar de crer pouco que teria sucesso, era a chance que eu tinha e me agarrei a ela. Saí dando cabeçadas por aí, tentei amar mulheres que não me atraíam por achar que poderia não ter outras, me entristeci porque as fiz sofrer, não consegui ter algumas que desejei, cometi erros – vários dos quais fizeram me perguntar por que fui tão burro – e acertos, aprendi com a experiência, tomei decisões difíceis e tive êxito mais pela persistência de Silvia do que qualquer atitude minha. Essa trajetória me parece um andar de bêbado e o único conselho que me sinto capaz de dar é que deve-se tentar, procurar saber o que se tem de bom e aceitar correr riscos.
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Minha juventude foi nos anos 1980, nos quais o gênero musical predominante no Brasil foi o rock/pop nacional, que se tornou o meu preferido. Também é o de Silvia, apesar de ser bem mais nova que eu, os cantores e bandas daquela década parecem se apresentar muito mais em Curitiba do que em Recife e venho aproveitando para ver seus shows. No último sábado, fomos ao do Biquíni Cavadão e ouvir Tédio me lembrou muito a vida que eu tinha à época, com sua sensação de vazio, monotonia, solidão e de que meu destino estava definitivamente selado – moraria com meus pais quase a vida toda e, depois, acabaria meus dias com um irmão. Isso levou minha memória a este trecho de Marvin dos Titãs:
Marvin, a vida é pra valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor
Quando ficava embriagado, às vezes meu pai me dizia coisas semelhantes. Era inimaginável que, após os 50 anos, estaria a 3000km da família, casado com uma bela mulher e com uma filha igualmente linda!
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Até recentemente, quando queria chamar a atenção de Clara para algum brinquedo, o batia no chão, na mesa, etc. Por isso, seu padrão predominante de brincadeira é os bater ou jogar, o que me fez tirar onda que esta será uma física de partículas – uma das profissões que eu gostaria de haver tido –, cujo trabalho basicamente é atirar coisas (partículas) umas contra outras para ver de que são feitas. Do mesmo modo, a única carícia que Clara nos fazia era dar tapinhas, o que preocupou Silvia, que tentou ensiná-la a nos alisar e não teve sucesso. Sem qualquer intenção didática, quando Clara estava na cadeira de alimentação passei minha cabeça na sua mão por dias seguidos, o que a fez aprender a me acariciar. Como mostra o vídeo, me derreto com as carícias de Clara.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
No início da manhã desta segunda, ao embalar Clara para Silvia dormir mais um pouco achei que aquela estava me chamando espontaneamente de pai e papai, mas não tive certeza. Ontem à noite, Silvia filmou a primeira vez em que isso foi inequívoco.
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- Escrito por: Ronaldo Correia Junior
Ontem, fomos ao show dos Titãs no Teatro Guaíra. Devido às ificuldades que encontrei noutro espetáculo lá, evitei o lugar reservado a pessoas com deficiência, optando por cadeiras na primeira fila do primeiro balcão, onde ninguém à minha frente se levantaria para dançar, me atrapalhando de ver o palco; deixamos a cadeira de rodas na entrada da plateia e descemos a escada andando, ajudados por uma funcionária do evento, gentileza que esta repetiu no fim do show. Assim, pude vê-lo perfeitamente, mas fiquei pensando nas pessoas cujas deficiências as impedem de saírem da cadeira de rodas. Imaginei que o teatro pode colocar, em shows de música, um tablado de 60cm de altura com rampa naquele lugar, de modo que tais pessoas pudessem continuar vendo o palco se quem estiver na frente se levantar para dançar – deve haver outras soluções.
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Antes de nos casarmos, Silvia fazia dança indiana – uma das coisas que me encantaram nela – e academia de ginástica, as quais que tentou manter, mas não conseguiu. Por falta de atividades físicas e passar muito tempo com Clara – que já tem mais de 8kg – nos braços, Silvia começou a ter dores nas costas e pescoço, meses atrás fez um pacote de dez sessões com uma massagista, não conseguiu tempo para fazê-las e eu vinha dizendo para ela marcar uma sessão num dia em que suas filhas estivessem com o pai, já que aí poderia cuidar de Clara – foi o que aconteceu no último sábado.
Quando Clara engatinha pelo apartamento, às vezes consigo evitar que se meta em situações perigosas, mas na maioria das ocasiões acabo precisando da ajuda de outra pessoa. Neste sábado, tentamos que Clara ficasse no antigo berço, que está improvisado como cercadinho, ou dormindo no carrinho, sem êxito. Silvia teve de deixa-la solta no E. V. A, fechou as portas, exceto a do quarto de Clara, onde tem uma caixa de brinquedos que esta gosta, e se trancou no nosso quarto para receber a massagem. Clara foi para lá seguida por mim, ao voltar para o E. V. A me deitei no único lado deste pelo qual poderia sair, brincou por 30 ou 40 minutos até que se deitou na minha coxa e dormiu. Pensei que teria de chamar Silvia ao menos uma vez nos 60 minutos da massagem, mas a sessão durou uns 90 e me virei sozinho.
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Antes de nos casarmos, Silvia fazia dança indiana – uma das coisas que me encantaram nela – e academia de ginástica, as quais que tentou manter, mas não conseguiu. Por falta de atividades físicas e passar muito tempo com Clara – que já tem mais de 8kg – nos braços, Silvia começou a ter dores nas costas e pescoço, meses atrás fez um pacote de dez sessões com uma massagista, não conseguiu tempo para fazê-las e eu vinha dizendo para ela marcar uma sessão num dia em que suas filhas estivessem com o pai, já que aí poderia cuidar de Clara – foi o que aconteceu no último sábado.
Quando Clara engatinha pelo apartamento, às vezes consigo evitar que se meta em situações perigosas, mas na maioria das ocasiões acabo precisando da ajuda de outra pessoa. Neste sábado, tentamos que Clara ficasse no antigo berço, que está improvisado como cercadinho, ou dormindo no carrinho, sem êxito. Silvia teve de deixa-la solta no E. V. A, fechou as portas, exceto a do quarto de Clara, onde tem uma caixa de brinquedos que esta gosta, e se trancou no nosso quarto para receber a massagem. Clara foi para lá seguida por mim, ao voltar para o E. V. A me deitei no único lado deste pelo qual poderia sair, brincou por 30 ou 40 minutos até que se deitou na minha coxa e dormiu. Pensei que teria de chamar Silvia ao menos uma vez nos 60 minutos da massagem, mas a sessão durou uns 90 e me virei sozinho.
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