Só recentemente este blog passou a receber comentários [os anteriores a agosto de 2017 foram perdidos num ataque hacker] e aprendi direito o procedimento para libera-los. Nessa ocasião vi um comentário de uma mulher, datado de 08/03/2015, me pedindo para fazer sexo oral nela porque fantasiava em transar com um homem cujo desempenho sexual se reduzisse à ponta da língua, me confundindo com um paraplégico. O comentário foi feito antes de eu começar a escrever sobre meu atual relacionamento, mas o post comentado não tinha indicação alguma de que eu atendia aos requisitos de sua fantasia. Tive vontade de dar uma resposta desaforada e mesmo de xinga-la, mas nada disse porque já havia se passado mais de oito meses – mas se respondesse, teria me limitado a indicar a página sobre sexualidade do meu site, cujo objetivo é combater a generalização dos problemas da lesão medular para a paralisia cerebral.
Tal generalização indevida é um aspecto obscuro do imaginário social brasileiro que só deve ser conhecido por quem tem PC – não sei se as pessoas com outras deficiências físicas diferentes da lesão medular também a sofrem nem se ocorre em outros países. Quando começam a nos perguntar se temos dificuldade de ereção, sensibilidade na região genital e coisas semelhantes, ficamos atônitos, sem entender nada, porque as questões relativas à sexualidade que enfrentamos são muito diferentes. Depois que compreendemos que estão nos confundindo com tetra e paraplégicos, passamos a nos incomodar, irritar e até enraivecer com essa generalização.
Apesar do termo “paralitico” – que abrangia lesão medular, paralisia cerebral e poliomielite – praticamente haver caído em desuso, acho que continua a fazer parte do imaginário social brasileiro e, como as pessoas com lesão medular são a grande maioria das abrangidas por essa categoria antiga, as especificidades das outras são ignoradas. Além disso, ”paralisia cerebral” é uma expressão enganosa por dar a impressão de imobilidade, uma característica da lesão medular, não da PC, cujo principal traço é a descoordenação motora e, em muitos casos, existe até um excesso de movimentos; há alguns anos, os médicos a renomearam como “encefalopatia crônica não-progressiva”, mas esta segunda expressão não será difundida entre os leigos. Não sei em que medida essas minhas considerações explicam realmente tal generalização, que dificilmente atrairá a atenção de um antropólogo ou psicólogo social.
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