Recentemente, uma mulher com paralisia cerebral, dois anos mais nova que eu, me perguntou qual é o segredo para obter um grande amor e tive muita dificuldade para dar respostas, pois não tenho uma fórmula mágica, uma receita pronta para isso – e ver a vida como contingencial e tendo um elemento irredutível de acaso não ajudou a responder. Possuo alguns atrativos, como inteligência, bom nível cultural, humor – inclusive para rir de mim mesmo –, escrever bem, lucidez, espírito forte, etc, que surpreendem em alguém com PC. Fui completamente excluído do sistema de ensino, sendo alfabetizado numa clínica de reabilitação, na qual estudei algum tempo e, depois, passei dois anos com uma professora particular – era de se esperar que mal soubesse escrever. Também se espera que quem tem uma deficiência severa viva se lamuriando, em vez de até fazer piada dos próprios insucessos.
Talvez tais características expliquem que meu site haja atraído muitas mulheres entre 1999 e 2009, assim como chamei alguma atenção em vários tipos de fóruns de discussão – era involuntário e provavelmente não tenho consciência de tudo que meus textos transmitiam a elas. Antes daquele período, algumas poucas mulheres de baixa renda ficaram curiosas para saber como é transar comigo, uma de classe média com quem eu tinha uma relação profissional, que requeria que escrevesse uma carta por semana, se apaixonou por mim e vice-versa, mas não foi capaz de ter um relacionamento comigo, e tive outra paixão meio secreta e não correspondida. Quando o foco da Internet mudou para redes sociais – nas quais meu perfil é só um entre bilhões –, aquela janela de oportunidade se fechou, embora talvez pudesse ser diferente se tivesse participado mais de grupos de discussão. Este blog só despertou o interesse de uma única mulher, de uma forma que me irritou – não dá para saber se essa falta de interesse feminino deve-se ao meu casamento ou se ele não causa a mesma reação do site.
Muitas vezes me senti frustrado ou mesmo triste por não conseguir seduzir fora da Internet, mas, apesar de crer pouco que teria sucesso, era a chance que eu tinha e me agarrei a ela. Saí dando cabeçadas por aí, tentei amar mulheres que não me atraíam por achar que poderia não ter outras, me entristeci porque as fiz sofrer, não consegui ter algumas que desejei, cometi erros – vários dos quais fizeram me perguntar por que fui tão burro – e acertos, aprendi com a experiência, tomei decisões difíceis e tive êxito mais pela persistência de Silvia do que qualquer atitude minha. Essa trajetória me parece um andar de bêbado e o único conselho que me sinto capaz de dar é que deve-se tentar, procurar saber o que se tem de bom e aceitar correr riscos.