Inicialmente, minha esposa e eu planejávamos morar em Recife, em janeiro de 2016, num apartamento que estava à venda no prédio onde residia com minha família. Parece que ficar na minha zona de conforto me deixa desconfortável, sempre quis morar num lugar mais desenvolvido, mais organizado e mais “europeu”, e como disse noutro post constatei que ela é a mulher dos meus sonhos – por esses motivos, a ideia de morar com ela em Curitiba me deu a sensação de ter encontrado meu destino, embora ainda em janeiro de 2016. Ela tem uma imensa dificuldade de viver sozinha e me propôs vir já em julho. Num impulso aceitei tal antecipação, só para, em seguida, passar duas semanas extremamente assustado, em pânico com o que havia decidido, a um milímetro de recuar.
O medo era tão grande que não conseguia expressar sua origem, só enxergando os problemas operacionais dessa decisão, que afinal formos resolvendo. O que estava subjacente a esse enorme medo era que ia deixar tudo que tinha em Recife para viver numa cidade em que não conhecia ninguém, com uma mulher que havia acabado de conhecer, com quem brigaria, sendo fisicamente dependente, sem trabalho, com renda baixa, etc. Para exemplificar a precariedade da situação na qual me colocaria, se uma fatalidade a acontecesse ficaria sem ter como me haver e levaria dias para minha família me socorrer.
Tomamos tal decisão em abril. Naquele mês, quase não pude ir à comemoração do aniversário da minha mãe porque esta e meu pai já não podiam descer escada comigo, minha irmã mais velha só o fez uma vez na vida, a do meio está cheia de problemas ortopédicos e musculares, e meu irmão foi para a casa da namorada e já poderia ter passado num concurso público noutro estado. Aí vi que correria riscos mesmo se ficasse quieto em Recife, que cresceriam no futuro próximo – de fato, basta estar vivo para se correr riscos. Então, saí do pânico para começar a resolver os problemas de vir morar em Curitiba, embora o medo permanecesse, menor, por muito tempo.
Foi a decisão mais assustadora, a mais difícil da minha vida e acho que o único motivo para não tê-la mudado, naquelas duas semanas, foi amar demais minha esposa.