Há exatos 365 dias, estava com 50 anos, sem namorada desde 2008, convencido de que mais nada de muito diferente me aconteceria e que terminaria meus dias morando com um irmão. Por dez anos, a Internet havia me permitido ter namoradas, sobretudo através do meu site, mas essa janela de oportunidade acabou quando foi compartimentada em redes sociais e aplicativos de dispositivos móveis. A partir daí, dadas minhas limitações físicas – não consigo falar, preciso de outra pessoa para alimentação, banho, andar, etc –, passei a achar extremamente improvável que outra mulher se interessasse por mim e, se isso ocorresse, seria alguém que não me atrairia.
Em torno da virada do milênio, numa lista de discussão sobre deficiência fiz amizade com uma advogada de Curitiba, durante cerca de um ano conversamos pelo ICQ – o avô do WhatsApp –, suspeitava que tinha atração por mim, mas, como não consigo tomar a iniciativa com mulheres que não demonstrem um claro interesse por mim, não soube o que fazer. Pior, disse algumas coisas – como duvidar que fosse capaz de lidar com minhas limitações – que a fizeram pensar que não poderia me interessar por ela, se afastar, encontrar o homem que se tornou seu primeiro marido e concluí que aquela suspeita era infundada – ledo engano!
Após algumas experiências amorosas um tanto mal sucedidas, às vezes minha melhor amiga começava a conversar comigo sobre como seria a mulher que eu queria, que seria bonita, inteligente, culta, refinada, sofisticada mas sem frescura, com algo de doida mas essencialmente equilibrada, forte, resiliente, com muita vontade de sair e viajar ao exterior comigo. Achava aquele tipo de conversa tão ocioso que ficava irritado e logo mudava de assunto - ora, eu nunca, jamais teria uma mulher assim!
Então ela me adicionou no Facebook sem saber direito porquê, logo aquela atração voltou à tona, dessa vez de modo cristalino, não repeti o mesmo erro e, nos meses seguintes, percebi que tem tudo que queria numa mulher. Ao ver que encontrei a mulher com que sonhava num momento da minha vida em que nada mais esperava, a surpresa foi tão grande que fiquei até assustado – mas este foi só o primeiro de muitos sustos que tenho levado neste relacionamento. Nesses 365 dias nossas viraram de cabeça para baixo!