No início da gravidez, não consegui estabelecer se preferia que fosse menina ou menino, enquanto a preferência de Silvia era por um menino porque imaginava que seria viril como acha que sou, o que me surpreendeu muito porque nunca pensei em mim mesmo assim.
No dia em que comuniquei, em pânico, aos outros a gravidez de Silvia, minha melhor amiga me enviou um áudio chorando de emoção dizendo que esta filha será quem cuidará de mim quando tiver 102 anos; de forma menos exagerada, sempre que fala comigo outra amiga insiste na ideia de que esta é um seguro de vida para mim. Para mim, é uma tolice, bastando lembrar que cedo meu pai deixou de poder ajudar meus avós, sobretudo por ter dois filhos com deficiência, e apesar das minhas limitações acabei a 3000km da família – assim, p. ex, nada impede que nossa filha case-se com um finlandês e vá morar em Helsinque! E se a criasse com tal missão, é bem possível que se tornasse um grande peso do qual poderia querer se livrar.
Vivo dizendo, inclusive para atazanar Silvia, que nossa filha será baladeira, gostará de festa e de sair, praticará esportes radicais e vou levá-la para saltar de paraquedas – às vezes, ela cai na minha onda e fica preocupada, o que só me faz rir mais. Porém, não levo esses e outros desejos e expectativas a sério, pois onde existe vida há imprevisibilidade e imaginar que podemos determinar como serão os filhos é uma ilusão.