Comecei outubro com a perspectiva de sair sozinho com Silvia, mas a única vez que pus os pés fora do nosso condomínio naquele mês foi para levar um documento a um local distante trancado num carro com as três meninas no banco traseiro, em grande parte porque ela tende a ficar em casa e temeu que eu pegasse COVID-19. Naquele momento, decidimos passar três dias numa praia de Florianópolis em novembro, nesse ínterim a pandemia explodiu lá, ao perceber que pouco poderíamos sair nessa cidade comecei a achar que seria um fiasco e desperdício de dinheiro e, para mim, a questão se reduziu a poder ir à praia ou não – Silvia insistia que sim, o que eu considerava incoerente. Às vésperas da viagem, a previsão era de chuva todo o tempo e minha má vontade aumentou, o que nos fez adia-la para dezembro e estendê-la para seis dias.

A Praia de Daniela é escassamente povoada e o risco de contágio, baixo. Quando chegamos, estava ensolarada e aproveitamos para ir logo à praia. Antes da areia há uma faixa de vegetação de uns 15m e atravessá-la a pé comigo cansou Silvia, mas horas depois ela descobriu passarelas de madeira para acesso a cadeirantes. Choveu muito nos três dias seguintes, como alternativa desejávamos circular de carro pela cidade, descendo em alguns locais se possível, mas suas filhas só queriam ir à praia ou ficarem em dispositivos eletrônicos. Conseguimos vencer tal resistência no segundo dia, mas não no terceiro e, à noite, ao ver todas – inclusive Silvia e Clara – enfiadas neles fiquei exasperado, furioso. O sol voltou no quinto dia, o que nos permitiu retornar à praia, reduziu a oposição das meninas aos passeios de carros e Silvia me mostrou alguns belos pontos de Florianópolis.

O mar é calmo em Daniela mas, nas duas primeiras vezes que entrei nele, lidei muito mal com as ondas, não conseguindo ultrapassar a faixa de arrebentação, o que estranhei porque desde a infância tinha a habilidade de ficar bem até num mar bravio e cheguei a pensar que meu cérebro estava envelhecendo mais rápido do que imaginava. Porém, na terceira vez ficamos num trecho onde o mar é mais quente e meus movimentos voltaram a ser adequados – assim, acho que o problema era que a água fria aumentava minha espasticidade (rigidez muscular).

Silvia sempre quis me levar à Florianópolis, falando que é muito bonita e organizada. Realmente a achei uma bela cidade, mas pouco organizada – ela retrucou que estava comparando com as cidades nordestinas, enquanto eu pensava em termos de Curitiba – e com a curiosidade de que a grande maioria das calçadas tem piso de guia para cegos e raras possuem rampa de acesso para cadeira de rodas. De qualquer forma, essa viagem valeu a pena.

Apoie este blog pelo Pix Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

?>