Na madrugada do penúltimo sábado, Clara pediu à mãe para abrir a porta do seu quarto dizendo que estava sem ar. Silvia entrou aflita no nosso quarto contando isso e logo pensamos em COVID-19. Ao ir à sala, vi que Clara parecia estar dormindo tranquilamente e respirando bem, pensei que aquela poderia ser uma afirmação sem nexo que crianças de 4 anos muitas vezes fazem, mas não cuidei de acalmar Silvia e a mim mesmo, a deixei sair para procurar um oxímetro em três farmácias, não encontrou e, ao voltar, comprou um pela Internet. Clara acordou sem problema algum e eu bem que poderia ter evitado esse transtorno.
Dias depois, Silvia começou a apresentar dor na parte de trás do ombro esquerdo. No último sábado à noite, quando estávamos a sós com as meninas, ela falou “Ronaldo, acho que preciso ir ao hospital” achando que era um infarto. Comecei eu mesmo a passar mal, mas, dessa vez, mantive o equilíbrio e a mandei usar o oxímetro para checar seus sinais vitais, que estavam normais. A dor era muscular e acabou na noite de segunda, após ela tomar uma taça de vinho. Um dia Silvia ainda vai me matar de susto!
Por não ter bons movimentos finos, além de outros problemas, a primeira filha de Silvia vive danificando coisas no nosso apartamento, ela a advertiu inúmeras vezes para tomar cuidado com as gavetas do armário da sala e, mesmo assim, quebrou uma ontem. Como este foi caro, assim como seria seu conserto, e os danos são frequentes, Silvia se desesperou, chorou muito, ficou literalmente se esfolando para recolocar a gaveta no lugar sem sucesso. Percebi que poderia ajudar a recolocação, fui para perto, vi que devia usar o pé em vez da mão, Silvia demorou um pouco para tentar de novo e, quando botou o lado direito, enfiei um pé embaixo da gaveta para sustentar esta enquanto ela encaixava o outro lado; foi um movimento tão exato e sutil – algo raro dadas minha paralisia cerebral e a tensão da situação – que Silvia não o notou. Só então ela se acalmou, mas a gaveta ficou sem trava e agora pode machucar seriamente o pé de alguém.
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