Em novembro, Silvia teve um sangramento misterioso, seu ginecologista recomendou evitar esforço até o fim do primeiro trimestre da gravidez – ela não seguiu tal recomendação por muito tempo, logo estava saindo comigo – e falou que o mesmo deveria ocorrer no terceiro. Também nos assustamos com nossa vulnerabilidade se houvesse uma emergência; por vários meses, sempre que ela se levantava da cama à noite, eu me acordava, ficava escutando atentamente e até tirava o tapa olho com que durmo, para ver se Silvia estava passando mal, e só sossegava quando voltava à cama e dizia estar bem.
O médico que fez as ecografias de fevereiro e março foi um sinistro descendente de japoneses, que digo ser um personagem do filme “O Grito”, para quem qualquer desvio da média dos parâmetros medidos pelos exames era motivo de preocupação. Aquelas ecografias mostraram que o feto estava pequeno e as artérias uterinas de Silvia estavam restritas, o cara nos assustou, mas os médicos que fizeram as ecografias seguintes nos tranquilizaram, dizendo que nossa filha deve nascer pequena, mas saudável. A última ecografia indicou que essa restrição arterial desapareceu, este e outros exames mostraram que Silvia está tão bem que o ginecologista tem dito para continuar levando vida normal e ela ainda me dispensa todos os cuidados que necessito, exceto meu banho. O contraste entre minhas apreensões e a relativa tranquilidade deste fim de gravidez veio à tona em abril, quando participamos do festival Comida di Buteco, pois achava que praticamente não poderíamos sair de casa.