Ontem, Silvia e eu almoçamos num restaurante simples porque nossa empregada não veio trabalhar, a dona nos reconheceu apesar de não irmos lá há uns sete meses e foi falar conosco – agora que viu Silvia grávida é que essa pessoa não vai nos esquecer mesmo! Ela saiu do restaurante se divertindo com a ideia de que somos um casal “exótico” que chama atenção e provoca comentários por onde passa. Ela é conservadora, toda certinha, e talvez por isso mesmo a agrade muito o aspecto incomum que o relacionamento comigo trouxe à sua vida.

Está ficando evidente que muitas pessoas se encantam, entusiasmam, solidarizam com nossa história de amor, reação que às vezes temos certa dificuldade de compreender porque, para nós, estamos apenas tentando viver do melhor modo possível e ir atrás dos nossos desejos, como todos fazem, sem a menor pretensão de sermos lição de vida para ninguém. Para mim, é algo meio desconfortável porque me recuso terminantemente a fazer o discurso da “superação” e bancar o herói, super-homem e correlatos, inclusive porque entre pessoas com deficiência há inúmeras histórias como a minha – sempre que tal reação acontece, penso na música Cawboy Fora da Lei de Raul Seixas. Acho que se tal reação tiver algum fundamento, é que mostramos o que qualquer ser humano pode eventualmente fazer, e não que somos em algum sentido melhores que os outros.

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