Uma vez vi uma amiga da minha família de origem falar com admiração a alguém que meu pai tinha tanta autoridade com os filhos que, às vezes, bastava olhar para um para este parar, pensar no que estava errado e se corrigir. Por outro lado, ele e os irmãos tinham grande dificuldade em expressar emoções e sentimentos e compreender os dos outros e passei a vida ouvindo parentes se queixarem a respeito, embora fossem pais exemplares, capazes de fazer os maiores sacrifícios pelos filhos. Imaginava que ambas as características eram as duas faces da mesma moeda, quando Clara nasceu decidi que não seria um pai afetivamente distante ainda que isso tirasse minha autoridade, a qual, de qualquer forma, supostamente não existiria devido à dependência econômica e física. Errei redondamente: ontem à tarde, ao descer da minha cadeira adaptada fiquei olhando em silêncio Clara desembrulhar um chocolate no sofá e, quando percebeu que estava observada por mim, ela disse “vou jogar no lixo, papai” – se fosse outra pessoa que estivesse a vendo, com certeza ela teria deixado a embalagem ali e sujado o sofá.
Inversamente, horas depois ela conversou com uma amiga que mudou-se para São Paulo, de repente perigosamente começou a dançar de pé na beira do sofá, falei um arremedo de “Clarinha” num tom mais alto – não consigo pronunciar nada parecido com “Clara” –, o que chamou a atenção de Silvia e esta explicou a ela que estava correndo risco de dar uma queda feia.
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