Com o arrefecimento da pandemia no Brasil, meses atrás comecei a pensar em consultar um urologista por prevenção, mas vinha relutando em dar esse trabalho a Silvia e me expor ao risco de pegar COVID-19 até sentir uma dor momentânea no períneo e adjacências – provavelmente foi muscular, mas achei melhor checar a próstata. Meu plano de saúde deu uma guia e uma indicação médica para ir a um hospital conveniado, mas eu não sabia que tinha de levar esta segunda, não pude fazer a consulta e precisei pedir a extensão da validade da guia. Quis marcar a nova consulta pelo WhatsApp, não vi que tinha que dar a confirmação final e, ao voltarmos lá na semana passada, soubemos que nada havia marcado – só fiz trapalhadas nessa história. Silvia teve de conduzir minha cadeira de rodas de ré – para as pequenas rodas dianteiras não engancharem nas lajes da calçada – por uns 80 difíceis metros, além de subir uma rampa bem íngreme, para irmos a outro prédio do hospital, cujo atendente conseguiu me encaixar nos horários de um urologista, que chamou outro – que ela já conhecia e confia mais – para fazer o exame de toque e até hoje tenho que aguentar as piadas dela a esse respeito. Foi detectada uma dilatação na minha próstata, que lembrei que há anos é mostrada em ecografias, mas esqueci que a primeira destas foi em 2014 – devia ter me lembrado desse detalhe, pois foi um episódio que poderia ter me impedido de casar e ser pai. Hoje solicitei os outros exames e espero não fazer mais besteira alguma.

Sempre vetei animal de estimação aqui em casa, por saber que seria mais um trabalho para Silvia. No meio do ano, uma vizinha teve de se mudar às pressas para outro estado e pediu que Silvia ficasse com sua gata preta, embora com a proposta de repassa-la para outra pessoa, o que já me irritou imediatamente. Um mês depois, todos da família tivemos uma doença respiratória, com o consequente é-não-é COVID – não era e, como todos usamos máscara ao sair, a causa devia estar em casa, na gata. Nossa empregada chegou a arranjar alguém para ficar com a gata mas, na hora H, Silvia e sua segunda filha a retiveram e, então, eu disse que daria um sumiço no bicho se mais um membro da família adoecesse – não faria crueldade alguma, só a empurraria para outra pessoa. Na semana passada tive uma asma estranha, já que nenhum dos fatores habituais – doença respiratória, fumaça e poeira – esteve presente e o motivo foi a gata ou a falta da natação. Concedi o benefício da dúvida à gata, resolvi fazer natação por um mês – mais que isso é inviável para Silvia – e já na primeira sessão percebi que a fisioterapia não pode substituí-la. Após uma noite em que dormimos mal devido à gata, a própria Silvia quis se livrar do bicho, mas não teve coragem para tanto, me perguntou se teria e, pela minha expressão facial, viu que sim. Pelo bem da gata, espero que a natação funcione.

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