Sempre que vou a um médico, para agilizar a consulta digito um bilhete descrevendo os sintomas que apresento, o qual implicitamente mostra que não tenho déficit cognitivo. Há quase três meses, fiz uma consulta apenas preventiva com um urologista, à qual não levei tal bilhete porque nada estava sentindo. Os exames que fiz previamente mostraram um aumento da próstata, sem me fazer qualquer pergunta sobre se eu estava com dificuldade para urinar – ao contrário do que os urologistas costumam fazer – ele foi logo abrindo os exames e receitando um remédio para “prevenir” esse tipo de dificuldade, sem dar um piu sobre os efeitos colaterais. Quando li a bula, soube que o remédio pode causar perda de desejo e impotência, embora temporariamente, e não vi nexo algum em correr esse risco por causa de problemas que não tenho.
Assustado, levando um bilhete fui a um segundo urologista, que me disse que 80% ou mais dos homens com aumento da próstata não desenvolvem dificuldade para urinar, que 50% dos que tomam têm os referidos efeitos colaterais e que não receitaria esse remédio só por prevenção – no fim da consulta, impressionado com a clareza do bilhete esse urologista disse que ganhou o dia. A hipótese mais condescendente que consigo imaginar para o primeiro tê-lo receitado é imaginar que não tenho vida sexual e, portanto, impotência e perda de desejo não me afetariam. Quase que a imagem das pessoas com paralisia cerebral como assexuadas vira uma profecia auto realizada!