Ontem à noite, ao escovar meus dentes Silvia deu um beijo na minha face, sorri e involuntariamente fechei os olhos curtindo esse gesto de amor, o que gerou uma longa série de recordações. A primeira foi que, em torno de 1999, estava apaixonado por uma psicóloga, vice-versa, chegamos a viajar juntos, mas nada houve entre nós, situação que fez uma amiga surda me perguntar pelo velho ICQ “nunca beijou a boca de uma mulher que você ama?” e, para espanto dessa amiga, total constrangimento meu e talvez vergonha, tive de responder “não” – então já tinha 35 anos. Na época e ainda por muito tempo, transava com prostitutas, que têm por regra não beijar a boca dos clientes e, se alguma a quebrou comigo, não lembro – tal ausência de lembrança indica que, se aconteceu, isso não teve nenhum significado afetivo para mim.

Um ou dois anos depois, comecei a namorar, mas não consegui amar as primeiras três mulheres com quem o fiz. Só em 2004 é que poderia responder “sim” àquela pergunta, porém o fim desse quarto relacionamento foi tão difícil para mim que, quando o recordo, preciso me esforçar para não considera-lo algo negativo – na verdade, foi muito bom. Por razões diferentes, o mesmo pode ser dito do namoro seguinte, o último antes de conhecer Silvia.

É por esse histórico que continuo me deleitando com os beijos da minha linda e maravilhosa esposa.

?>