Silvia adora o cinema indiano, o segundo do mundo em faturamento e o maior em número de filmes, e tiro muita onda de algumas características dele, como geralmente ter uma parte musical – fico dançando de modo afetado. Ontem, eu mesmo quis assistir “Margarita com Canudinho”, cuja protagonista é uma mulher com paralisia cerebral. Um dos elogios de Silvia – para mim duvidoso – a tal cinema é a ausência de cenas de sexo e este filme foi a primeira exceção que conhecemos, abordando a sexualidade de pessoas com PC e a homossexualidade feminina, dois temas difíceis, o que me fez brincar que fiquei “chocado” ao vê-los num indiano – numa época em que o obscurantismo avança no Brasil e em grandes partes do mundo, foi esperançoso ver que há países que podem estar na direção oposta.

Este filme reforçou a hipótese de Um Padrão no Primeiro Amor?: nos apaixonamos pela primeira pessoa que nos trata como seres humanos – isso acontece na Irlanda, México, Índia, Brasil, etc –, embora nem sempre seja o primeiro sentimento do tipo, já que parece ser frequente acontecer com um(a) colega de alguma instituição – clínica de reabilitação, faculdade, etc – que também tenha PC. Ao assistir a filmes com personagens com PC, na parte que aborda nossas dificuldades em ter relacionamentos amorosos – são realistas nesse aspecto, mostrando que a maioria não os consegue – tinha vontade de chorar, mas neste disse para mim mesmo “esta batalha tu venceste”. A mãe da protagonista morre, o que me fez ter refluxo porque é algo que ainda terei de viver, uma perspectiva que me angustia há décadas, e foi difícil demais deixar de cuidar da minha para me casar com Silvia.

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