Mala sem Alça?
Semanas atrás, fomos a uma doceria, Clara ficou irrequieta nos braços de Silvia a ponto de ela ter de se levantar para dar um giro pelas redondezas, para ver se nossa filha se acalmava, e lutou para conseguir comer e dar minha comida; assisti tudo sem poder fazer nada, pois, se pegasse Clara no colo, esta ia chorar ou poderia cair, o que fez me perguntar se Silvia não estaria melhor com um homem sem deficiência. No inÃcio do nosso casamento, Silvia me passou a responsabilidade de controlar suas finanças e as senhas de sua conta, e quando passamos por problemas financeiros à s vezes me penso se não era preferÃvel ela haver se casado com um homem mais bem remunerado.
Silvia está feliz como nunca na vida, queria mesmo um homem com deficiência – e outras caracterÃsticas –, tem orgulho de mim e de ser minha esposa, vez por outra alguém que a conhecia antes me diz que devolvi sua alegria de viver, seu sorriso, etc. Em contextos como os descritos acima, preciso me esforçar para manter tudo isso em mente e não imaginar que sou um estorvo, uma mala sem alça para ela – o mesmo acontecia quanto a meus pais e irmãos. Tais sentimentos são comuns em pessoas com deficiência.