Há uns dois meses, Silvia entrou no nosso quarto na hora em que eu estava arrumando a cama, disse “é um marido espetacular, um pai espetacular”, inicialmente não compreendi o porquê daquele elogio, pois assumi tal tarefa há algum tempo quando a empregada não vem e é meio insignificante diante do que ela faz nesses dias, até perceber que o motivo é que a grande maioria dos homens se nega a fazer trabalhos domésticos, ainda mais se houver a desculpa de ter uma deficiência física. Depois ela me perguntou se teria a mesma atitude se não tivesse paralisia cerebral, ao que primeiro respondi que sim, pois tem muito mais a ver com o clima ideológico da juventude brasileira nos anos 1980 – que absorvi de algum modo, apesar de meu forte isolamento social – do que com a deficiência, mas em seguida fiquei em dúvida porque a carreira que provavelmente seguiria costuma gerar grande, até extremo conservadorismo. De fato, é conhecido que pessoas de uma categoria que é objeto de discriminação e preconceito tenham o mesmo comportamento em relação a outro grupo que também está nessa situação – para o caso de quem PC veja aqui. Assim, sou cético com a ideia de que ter uma deficiência torna mais improvável que alguém seja machista, racista, homofóbico ou até discrimine quem tenha outro tipo de deficiência.

Na tarde da penúltima terça, estava sozinho quando vi nuvens escuras, mas não fechei logo a vidraça da varanda por causa do calor e na esperança de que não chovesse. Choveu demais e granizo, o que me fez fecha-la com algum esforço. Em seguida, fui verificar as janelas dos quartos e estavam todas abertas. Comecei a fechar uma a uma, quando cheguei ao nosso este estava literalmente alagado, contive o impulso de disparar em direção à janela, senão ia escorregar e cair, e engatinhei lentamente até esta debaixo de chuva grossa, vento forte e granizo. Cheguei a começar a enxugar o chão com um pano, mas então Silvia e as meninas chegaram. Pareceu coisa de cinema catástrofe!

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