Exceto a primeira, todas as namoradas que tive moravam longe de Recife e foram me encontrar pessoalmente lá – Silvia foi a primeira que me fez sair da zona de conforto. Às vezes, a gente vê histórias de encontros marcados pela Internet que acabam de forma trágica, embora eu ache que sejam exceções às quais a mídia dá repercussão exagerada. Ainda assim, ir ao encontro de outro numa cidade distante implica riscos mesmo para pessoas sem deficiência, que podem andar, correr, usar as mãos para se defender, pegar o celular e ligar para alguém, etc – não posso fazer nada disso. Na prática, a diferença entre as duas situações é menor do que parece, pois, quando uma namorada ia a Recife pela primeira vez, uma irmã ia comigo pegá-la no aeroporto e nos deixava num hotel sozinhos – se a figura fosse desequilibrada, criminosa ou algo do tipo, eu estaria em apuros quase tanto quanto se estivesse noutra cidade. A diferença é que, se conseguisse pedir socorro, algum familiar ou amigo chegaria em uma ou duas horas, enquanto levaria dias para ir a outra cidade.
Para complicar, em 2008 me deixei enredar num engodo bem semelhante a este. Para mim, a vítima e o Fantástico não levaram a investigação às últimas consequências, porque no meu caso a farsa foi engendrada por uma quadrilha de crimes virtuais. Apesar de possivelmente ter sido responsável pela clonagem de um cartão de crédito meu, o grande objetivo dessa quadrilha era me manter afastado da mulher que então eu namorava, fato que, junto com o conhecimento íntimo que tinha desta, me faz pensar que foi contratada pela melhor amiga desta – as duas moravam juntas e tal amiga era visceralmente contra aquele namoro. O relevante aqui é que a personagem falsa que inventaram era uma linda mulher de Curitiba!
Essa história tornou-se uma assombração, uma verdadeira paranoia na fase virtual do meu relacionamento com Silvia. Foi trivial confirmar seu emprego público, era praticamente impossível que outra pessoa soubesse o que conversávamos no ano 2000, ela logo me deu seus endereço, telefone e celular, etc. Porém, nada evitava que, de vez em quando, eu tivesse um acesso de paranoia, realizasse algum teste de segurança e até retardasse nosso primeiro encontro em dois meses em parte por essa causa – e também para ver se teríamos um relacionamento ou ficaríamos só na amizade. Esse problema só não foi maior porque Silvia foi totalmente transparente comigo.
Esses só são uma parte dos medos e dúvidas que tinha antes do nosso primeiro encontro, há um ano, e nem eram os maiores. Precisava de enfrenta-los, pois sabia perfeitamente que era a maior oportunidade da minha vida.