Para Clara, tenho uma importância bem menor que a de Silvia, o que é natural pois não a alimento, banho, visto, as carícias que posso fazer são limitadas pelo risco de machucá-la. etc. O único momento em que Clara às vezes quer mesmo a minha presença, até chorando, é o do sono. Faço questão de botá-la para dormir por essa causa, para ajudar Silvia e porque, nas noites em que a diarista o faz, parece ser mais frequente Clara acordar depois.

Esse trabalho tem alguns efeitos penosos. À época em que balançava seu primeiro berço com as pernas, distendi os músculos da virilha, que continuaram doendo três ou quatro meses após parar de fazê-lo. Embalá-la no carrinho me dá dores musculares nas pernas – dependendo da posição na qual fico – e nos dedos da mão esquerda, os quais há muito criaram calos que às vezes se abrem, tornando-se pequenas feridas. Uma dessas dores foi tão persistente que pensei que era uma lesão por esforço repetitivo. Numa noite em que uma confusão fez Clara demorar muito a dormir, minha mão ficou assada como consequência do suor causado pelo estresse e tive de continuar a embalar para não agravar a situação.

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