O nosso apartamento de Cabedelo me dá uma sensação de amplidão que não tinha ao menos desde os 8 anos e a mobília e os eletrodomésticos que estavam nele são de ótima qualidade. O banheiro de casal tem uma plataforma que me permite tomar banho sentado, reduzindo o risco de queda. A portaria realmente se comunica por WharsApp, o que facilita as coisas para mim, e tem um porteiro que, fora do expediente, é um faz-tudo que resolve inúmeros problemas. Porém, o formato aproximado de um haltere faz com que as partes mais largas do prédio impeçam que o vento chegue aos apartamentos do centro, os tornando abafados, quentes demais, o que deve se agravar com o aquecimento global – nada que não se resolva com ventilador e ar condicionado. E é infestado de mosquitos, pela proximidade de terrenos baldios, o que solucionamos com emissores de ultrassom.

Este prédio fica a 180m da praia, para onde Silvia imaginava que iríamos todo fim de semana, o que eu via como uma ilusão, principalmente porque ela ainda não sabia o quão difícil é andar comigo na areia – minha expectativa era logo deixar de ir à praia. Para tentar evitar esse desfecho, comprei uma cadeira de rodas anfíbia, mas esta foi projetada mais para entrar no mar do que andar na areia e só ajuda em certas condições. Em janeiro, fomos à praia pela primeira vez desde que chegamos a Cabedelo, ao sair debaixo do guarda-sol para voltar para casa não passamos protetor solar e ficamos bem queimados – como esses incidentes aconteciam de vez em quando nas décadas em que morei em Recife e Olinda, pouco liguei, mas impactou bastante Silvia e nada adiantou que, na segunda vez, tenhamos nos saído melhor. Somado à logística complicada de ir à praia com 4 dependentes e às tarefas cotidianas, tais dificuldades fizeram Silvia passar a ir lá sozinha ou com alguma das meninas no começo ou fim do dia, com pouca frequência – pelos motivos (parcialmente) errados, acertei o resultado. Assim, em alguma medida para elas morar perto da praia está sendo bom, mas, para mim, tem sido irrelevante.

Ao ver que este prédio fica num canto meio isolado da região metropolitana, intuitivamente não gostei. Embora João Pessoa e Cabedelo sejam vizinhos, são mercados separados, o segundo tem preços sensivelmente maiores que Curitiba e a ideia de termos um menor custo de vida saiu pela culatra, uma das razões de termos ficado numa situação financeira difícil – a solução é fazermos compras em João Pessoa, mas muitas vezes é inviável. Ainda em Curitiba percebi que as fisioterapeutas que atendem a domicílio relutariam em vir aqui, pois passariam mais tempo no carro do que trabalhando comigo – enquanto em Curitiba uma profissional me atendeu durante todos os anos que morei lá e até se tornou minha amiga, aqui já estou na segunda, a qual me atende mais por gostar de pacientes neurológicos. Colocamos Clara e sua irmã mais nova numa escola que depois achamos pavorosa e cada percurso para o colégio para o qual agora queremos muda-las dura muito tempo, com todo estresse que vai decorrer daí. Não é uma boa localização para nós.

Minha mudança para Curitiba fui um ato de insanidade e um dos motivos foi não conhecer ninguém lá. Decidido a evitar que tal situação se repetisse, ainda lá comecei a falar com o pessoal do condomínio. Após nossa chegada, uma sub síndica – que veio morar no prédio na pandemia e cujo filho sofreu muito com o isolamento – organizou várias reuniões festivas entre nós e alguns moradores mais antigos e conseguimos nos entrosar bem. O melhor sinal disso é que acessar à piscina é complicado para mim, o que Silvia comentou rapidamente com o síndico e, na última reunião do condomínio, decidiram fazer uma rampa de acesso.

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