Voltando a Sair com a Filha
De um ano e meio a três anos é a “idade da birra” dos bebês e, após nos metermos em várias situações complicadas, passamos uns seis meses evitando sair com Clara, o que só começou a mudar há dez dias. Ontem, fomos a um shopping center cujo piso superior tem uma área ao ar livre para soltá-la lá. Já que o objetivo era este, comecei a me afastar conduzindo a cadeira de rodas com meus pés, mas Clara sempre falava "volta papai, volta papai" e às vezes ia até onde eu estava para me levar para perto – tendo a me sentir sem importância para ela e episódios como este mostram que não é bem assim. E sua beleza ainda é suficiente para fazer algumas pessoas chegarem a nos dizer que ela é linda, para orgulho do pai
Implicância da Filha
O furo na meia é para me permitir usar o tablet com o dedão do pé.
Show dos Tribalistas
Gosto demais dos Tribalistas e, ao saber que dariam um show em Curitiba no fim de agosto, na Pedreira Paulo Leminski – que eu ainda não conhecia –, compramos os ingressos há quatro meses. Duas semanas antes do evento, tive uma infecção de garganta que fez Silvia começar a relutar em ir, preocupada com minha saúde, ainda mais após Clara também adoecer. Fazia uns vinte anos que Silvia não ia lá e pensava que a acessibilidade ainda era péssima – na verdade, a Pedreira se preparou bem para receber pessoas com deficiência e, em particular, a plataforma reservada a estas é o melhor local para ver um show, desde que não chova, outra preocupação nossa. No dia do evento, o boleto do plano de saúde de Silvia pareceu indicar que um familiar seu tinha ficado sem cobertura, o que a deixou desesperada e levou dois dias para saber que não. Por tudo isso, só fomos ao show porque insisti bastante, até contra minha própria relutância, pois além de querer muito vê-lo, havia um mês que não saia de casa – situação frequente para quem tem paralisia cerebral – e detesto jogar dinheiro fora. Valeu a pena, foi um dos shows que mais curti, embora teria sido melhor se Silvia estivesse bem.
Foto
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Atitudes com a Paternidade
Na década de 1980, havia três crianças pequenas na minha família, uma experiência tão difícil que decidi que nunca, jamais teria filhos – minha paralisia cerebral era um reforço a tal decisão, não o motivo principal. Na época, parecia que o mais provável era não ter qualquer relacionamento com mulheres e demorou muitos anos para a questão deixar de ser abstrata.
O melhor exemplo daquele horror à paternidade ocorreu em 2004, ao me encontrar com uma namorada loira e linda, bem o biotipo mais valorizado no Ocidente. Ao saber que eu não transava sem preservativo, ela quis que fizéssemos isso. Em vez de cair num oba-oba fiquei alarmado com a possibilidade de engravidá-la, em todos os dias que passamos juntos ela se esqueceu de tomar o anticoncepcional e todos os dias o lembrei, peguei no seu pé. Depois, a repreendi por esse esquecimento sistemático e ela respondeu que não podia engravidar por ter endometriose, argumento que não me convenceu – de fato, após seis anos ela teve uma filha sem fazer tratamento algum (pensei que havia escapado...). E o motivo mais imediato que ela deu para acabar o namoro comigo foi minha recusa a ter filhos.
Outro exemplo é que, quando Silvia e eu começamos a namorar, confiamos que os problemas do seu útero – entre outros, também endometriose – impediriam uma gravidez, após nosso segundo encontro pensou que poderia estar grávida, tirou onda – talvez já após o teste dá negativo –, mas não achei a menor graça, dei uma bronca nela e decidimos que Silvia passaria a usar anticoncepcional – evidentemente nada disso certo.
No dia em que soubemos que tínhamos gerado Clara, meu pânico foi total, não consegui dormir um minuto e, nas duas semanas seguintes, fiquei à beira da depressão a ponto de Silvia se preocupar em sair comigo para ver se eu reagia. Também fiquei apavorado em seu primeiro mês de vida.
Com o tempo, comecei a me derreter só por ouvir Clara me chamar de “papai”, Silvia passou a fazer afirmações como “nunca vi um pai tão apaixonado pela filha”, etc. Essa mudança não foi instantânea, automática, demorou um semestre e, no fim desse período, nosso casamento chegou a ficar estremecido. Já escrevi sobre os fatores básicos dessa mudança noutro post, mas o que foi dito ali não explica muito meu processo de transformação interna, que não consigo detalhar – e, se conseguisse, talvez não quisesse expô-lo a público. O certo é que considero Clara a melhor coisa que me aconteceu.
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Sustos
No meio do ensaio fotográfico que publiquei no último post, viemos a nosso prédio para pegar um tubo de água com sabão para Clara brincar com as bolhas e não vimos que a porta da escada estava aberta. Ao sairmos de novo, Clara correu na frente, de repente a ouvimos chorar, percebemos que havia caído da escada – que é alta –, ficamos apavorados, pensando que ela teria de ir a um hospital, mas nada sofreu de grave. Clara deve ter descido grande parte da escada e caído só nos últimos degraus.
Ontem à noite, Silvia acompanhou nossa diarista à garagem para liberar o carro desta, me deixando sozinho no quarto com Clara, com a luz apagada. Clara começou a chorar pela mãe, o que junto com a escuridão me fez demorar a notar que tinha se montado na grade do berço, correndo o risco de dar uma queda feia – para o qual estou alerta há meses –, então tratei de empurrá-la para dentro do berço, situação se repetiu uma ou duas vezes. Fiquei tão nervoso que demorei para ter coordenação motora para acender a luz e, quando Silvia chegou, meu coração ainda estava acelerado. Por insistência minha, decidimos trocar o berço por uma cama.
Ensaio Fotográfico
Este ensaio fotográfico foi feito por Taciana Grabowski Trevisan no início do mês.
Sem Dormir com o Pai
Clara deixou mesmo de dormir comigo, o que é uma tristeza para mim e uma complicação para Silvia. Por este e outros motivos, dias atrás tive de lutar para não me sentir um inútil e um estorvo para esta.
Dormindo com o Pai II
Pela segunda noite consecutiva, Clara adormeceu comigo e agora parece que o mais provável seja que volte ao comportamento anterior – houve um momento em que pensei que já podia sair de seu quarto e ela falou “papaie, papaie” (com “e” mesmo), o que me derreteu. Ainda estou cético porque ela passou três semanas sem querer saber de mim nesse momento.
Dormindo com o Pai
Para contrariar o último post, ontem Clara dormiu comigo e, nesta manhã, ao entrar no nosso quarto foi me acariciar. O tempo dirá se isso foi aleatório ou voltarei a conseguir botá-la para dormir.